Os preços futuros de açúcar demerara iniciam 2015 pressionados, mas voltam a ganhar sustentação a partir do segundo semestre, avaliam especialistas. O petróleo em queda e a demanda enfraquecida poderão colocar os contratos negociados na Bolsa de Nova York novamente nas mínimas de 2014. Só que as consequências da quebra de safra no Brasil, com possibilidades de levar o mundo para o primeiro déficit em quatro temporadas, devem impulsionar as cotações, especialmente no último trimestre.
O vice-presidente da Newedge, Michael McDougall, prevê uma cotação em torno de 18 centavos e 20 centavos de dólar por libra-peso neste período. McDougall ressaltou que esse prognóstico "dependerá do câmbio" no Brasil, lembrando que o país é o maior produtor mundial e que o dólar fortalecido estimula exportações.
Em 2014, a moeda acumulou ganhos de quase 13,0%. Em relação à perspectiva de déficit, os analistas dizem que o fundamento tem força para impulsionar os preços, mas eles descartam eventual rali, como pode ocorrer no caso de uma forte desvalorização do dólar. "A reação será lenta (com esse déficit)", disse Pedro Verges, da INTL FCStone, apontando os estoques "consideráveis" do produto como fator de limitação.
No ciclo mundial 2013/2014, encerrado em 30 de setembro, a relação entre estoques e consumo estava em 45,0%, o que significa dizer que 45,0% da demanda global, estimada em 180,0 milhões de toneladas, poderia ser atendida somente pelas reservas de açúcar. Em 2014/2015, essa relação deve se manter praticamente estável, em 46,0%, mas depois tende a cair para 41,0%, em 2015/2016, e chegar a 21,0% até 2018/2019, segundo projeções da Biosev, braço sucroenergético da Louis Dreyfus Commodities (LDC). "Toda vez que a relação se aproxima de 30,0% ocorre uma melhora de preço", explicou o diretor-presidente da companhia, Rui Chammas, ao avaliar as perspectivas para o mercado de açúcar em 2015 durante evento em São Paulo no início de dezembro.
Brasil
Ainda sentindo os efeitos da pior estiagem em décadas, as usinas do Centro-Sul do país devem moer, na melhor das hipóteses, igual volume de cana na temporada que se inicia em abril, de acordo com estimativa da União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA). O processamento deve variar dos 567,0 milhões previstos para a safra vigente a 541,4 milhões de toneladas (-4,5%).
Segundo o diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, o cenário negativo para a cultura por mais um ano ocorrerá pela queda de 12,3% no plantio de cana, incluindo renovação de lavouras, o que acarreta em envelhecimento dos canaviais e perda na produtividade. O país será, portanto, o responsável pelo "déficit adicional" esperado para o ano, diz Verges, da INTL FCStone. Por ora, as consultorias especializadas apostam que tal déficit varie de 1,0 milhão a até 3,5 milhões de toneladas em 2014/2015.
Fonte: Estadão Conteúdo. 26 de dezembro de 2014.
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