A produção de café em 2014 deve fechar com 45,0 milhões de sacas, quase 10,0 milhões a menos do que o esperado, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O ano foi marcado pela luta contra seca e elevação dos preços. No sul de Minas Gerais, um dos principais polos produtores de café do país, o índice pluviométrico no primeiro semestre do ano foi 60,0% menor do que a média histórica da região.
A queda na produção gerou aumento nos preços do produto. No estado mineiro, a saca de 60 quilos chegou a ser comercializada a R$300,00 em setembro. A elevação dos preços não foi suficiente para cobrir os custos.
A seca afetou o desenvolvimento e a qualidade dos grãos. A meta de produção de quatro milhões de sacas, estabelecido pelo Conselho Administrativo da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), uma das maiores cooperativas de café do mundo, não foi alcançado. As exportações só não foram prejudicadas por conta dos altos estoques brasileiros, que garantiram aumento de 35,0% nas vendas para o mercado externo.
"Conseguimos comercializar os nossos estoques e atendemos o mercado, mas eu tenho a impressão que nós vamos ter problemas a partir de maio/junho do ano que vem até a safra 2016 para abastecer mercado", diz o superintendente de mercado internacional da Cooxupé, Lucio Dias.
Na região do cerrado mineiro a seca foi devastadora. Mesmo em lavouras irrigadas, a perda na produção foi de 15,0%. Sem água muitos reservatórios não tinham capacidade para abastecer os pivôs dos cafezais.
No primeiro semestre do ano o índice pluviométrico na região foi 45,0% menor em relação a 2013. Segundo dados da Expocaccer, cooperativa que atua nos 55 municípios do cerrado mineiro, a seca prejudicou em 12,0% a safra de 2014. A redução foi de 600 mil sacas na produção.
"Onde nós gastávamos em anos anteriores em torno de 450 a 480 litros de café, que vinha da lavoura para ser limpo e formar uma saca de 60 quilos, este ano gastamos em torno de 520 litros", explica o especialista em mercado interno, Joel de Souza Borges.
Na última semana de outubro a chuva veio e trouxe a florada, principalmente para os cafezais do cerrado mineiro. Mas o atraso prejudicou o planejamento das lavouras e aumentou o custo de produção.
A preocupação dos produtores agora é com a regularidade das chuvas, pelos menos até fevereiro, período onde ocorre a granação. Mesmo assim, a Expocaccer já trabalha com uma redução de 20,0% para a próxima safra. O presidente da Associação dos Produtores da Região de Patrocínio (ACARPA), Marcelo Queiroz, espera pela ajuda do governo federal.
"O produtor precisa ter crédito no momento certo e, às vezes, isso não acontece. Esses recursos que chegaram foram de última hora e nós temos que cobrar essas políticas, principalmente esse alinhamento com nossa bancada ruralista. Temos feito através da associação, através da federação e nós já tivemos várias reivindicações com o Conselho Nacional do Café (CNC), através das entidades, para que esses créditos cheguem ao momento exato", explica.
Na região de Patrocínio, a saca de 60 quilos foi comercializada a R$500,00 no início de dezembro. Segundo o consultor da Fundação Pró Café, Roberto Santinato, o problema é que muitos produtores já tinham feito vendas antecipadas pela metade do preço.
"Cerca de 50,0% dos produtores que fizeram fechamento de café antecipado venderam na faixa de R$300,00 para baixo, pois o café estava na faixa de R$250,00. Quando deu uma alta de R$270,00 a R$280,00, o pessoal travou isso e está entregando hoje. Então, essa diferença de R$150,00 ou R$200,00, a grande maioria dos produtores não está colocando no bolso. Acredito que a safra do próximo ano não ultrapasse os 38 ou 41 milhões de sacas. Isso seria insuficiente para abaixar o preço outra vez para R$300,00, deve se manter entre R$450,00 e R$500,00 talvez um pouco mais. Já os cafés especiais, descascados, cereja pode chegar aos R$600,00", conclui Santinato.
Fonte: Canal Rural. 31 de dezembro de 2014.
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