O preço do frete marítimo despencou no país e hoje está mais baixo do que o transporte terrestre. De acordo com o operador de mercado de commodities agrícolas, Liones Severo, o trajeto Brasil-China no final de 2014 custava aproximadamente US$42,00 por tonelada, enquanto hoje custa US$22,00 dólares.
Segundo ele, o preço é o menor dos últimos 20 anos e a baixa é creditada ao aumento da oferta dos navios de longo curso. "Há uma super oferta de navios e também uma diminuição na exportação de minérios. O movimento mundial se reduziu um pouco nos últimos anos e isso naturalmente derrubou o frete", explica.
Seguindo a tendência, o valor da demurrage, multa paga pelo atraso no carregamento, recuou 50% de acordo com as estimativas do operador. Calculado em US$30,00 mil por dia no ano passado, hoje o valor está em cerca de US$15,00 mil. "O demurrage diminuiu bastante e era uma conta bem pesada." O preço do frete é resultado de um cálculo pautado no tempo. "Se o navio demora pra carregar, ele fica mais tempo parado, mais dias contam, mais custo, e esse adicional é a demurrage". Assim como no atraso, caso o navio antecipe o carregamento ele recebe um prêmio cujo valor é metade da diária da embarcação.
A diminuição do frete marítimo não tem reflexos sobre o produtor brasileiro, mas beneficia o comprador, que é quem arca com o preço do produto a partir da chegada deste ao porto. "Isso resulta em um preço melhor para o grão e as empresas multinacionais se beneficiam disso", diz Severo.
O resultado da queda mostra a discrepância entre o frete terrestre e marítimo no Brasil. É mais caro transportar a soja, por exemplo, dentro do território do país, do que levá-la até a China.
Segundo dados do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq-USP, o trajeto Cascavel- Paranaguá, que tem cerca de 600 quilômetros, teve um valor médio de US$29,00 por tonelada entre dezembro de 2014 até fevereiro de 2015. Os dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC) apontam para uma média no frete no Brasil de US$92,00 dólares por tonelada.
Parada obrigatória
Diferentemente do marítimo, as conseqüências do frete terrestre caem sobre o agricultor. Para Sergio Mendes, diretor executivo da ANEC, a maior debilidade da produção brasileira está no transporte terrestre. "O marítimo não causa preocupação, porque quando falamos em soja e grãos no mercado internacional, o Brasil é parada obrigatória de linhas de navios. O grande problema é o frete de terra. É nossa maior debilidade, na frente de qualquer outra circunstância."
Os dados da ANEC também apontam que a desvantagem do frete do país em relação aos Estados Unidos e Argentina, os maiores concorrentes, é de US$70,00 por tonelada. "Para compensar esse número, nossos produtores tem que ser US$70,00 dólares por tonelada mais eficientes e não é fácil," diz Mendes.
Competitividade
Mendes afirma que para trazer competitividade ao frete brasileiro é necessário investir em hidrovias. Segundo o executivo, 60,0% do transporte realizado nos Estados Unidos é feito por meio de rios, enquanto no Brasil esse número é referente ao transporte por caminhões.
Ele explica que a hidrovia tem capacidade de levar até 10 mil toneladas aos portos: com seis comboios o navio fica lotado, enquanto é preciso dois mil caminhões nas estradas para chegar à mesma quantidade. "Fazer o transporte por hidrovia otimiza o tempo e quantidade, polui muito menos, não destrói estradas, não tem invasão de território. Temos muito potencial, mas poucas opções e que também são pouco utilizadas."
Para Sérgio Mendes, o uso de caminhões é ideal apenas para distâncias curtas. "O transporte terrestre tem inúmeras desvantagens, mas ainda assim é o mais utilizado. E é ele o nosso tendão de aquiles", conclui.
Fonte: Globo Rural. Por Suzana Berbert. 18 de fevereiro de 2015.
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