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Scot Consultoria

Fôlego extra para o agronegócio brasileiro


Terça-feira, 26 de maio de 2015 - 08h26

O que podemos esperar do agronegócio brasileiro diante de perspectivas desafiadoras no cenário econômico de nosso país para este ano? Para surpresa de muitos, temos alguns sinais favoráveis ao setor de agronegócio, um dos mais dinâmicos e competitivos da economia brasileira.

Alguns aspectos externos e internos terão impacto bastante positivo no desempenho do segmento. Outros, sabe-se, deverão dificultar sua performance, mas é possível traçar um panorama no qual o agronegócio supera as dificuldades intrínsecas ao negócio e promove crescimento em um país com prognósticos econômicos complexos neste ano.

Para falar de 2015, é importante olharmos com atenção para os dados do ano anterior. O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio estimado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da ESALQ-USP, encerrou 2014 com crescimento acumulado de 1,59%.

O desempenho, ainda que abaixo da expansão de 5,22% apurada em 2013, é robusto se comparado ao crescimento praticamente nulo (0,1%) para o PIB do Brasil no ano passado.

Sendo assim, a situação do agronegócio em nosso país, com dinâmica voltada à exportação, é amplamente mais favorável atualmente, se comparada a outros setores industriais, notadamente aqueles que são dependentes do mercado interno. E o que contribui oportunamente com esta conjuntura é a valorização do dólar.

O câmbio devolveu a competitividade ao agronegócio brasileiro. A desvalorização do Real, em torno de 34% nos últimos 12 meses, tende a favorecer os exportadores de commodities agrícolas e a posicionar o setor como estratégico à retomada do crescimento do Brasil.

O câmbio - na faixa entre R$2,90 e R$3,20 -, por exemplo, beneficia os produtores de soja, auxiliando-os a enfrentar a cotação abaixo de US$10/bushel na Bolsa de Chicago, já que agora trocam a mesma quantidade de dólares por uma receita maior em reais.

Adicionalmente, este novo patamar do dólar gera a perspectiva de rentabilidade operacional entre R$500 e R$800 por hectare - valor aceitável aos produtores. O antagonismo fica por conta dos insumos demandados pelo setor, já que fertilizantes e defensivos ficam mais caros em dólar.

O retorno da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (CIDE), por sua vez, dá folego extra aos produtores de açúcar e etanol, deixando as margens ligeiramente positivas. Isto porque a redução progressiva da alíquota da Cide sobre os combustíveis, passando de R$0,28/l em maio de 2008 para zero em junho de 2012, impactou diretamente na arrecadação das companhias do setor sucroalcooleiro e representou uma perda de mais de R$16 bilhões para as empresas do ramo neste mesmo período.

De modo geral, as perspectivas para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) também seguem positivas. A terceira estimativa de 2015 divulgada pelo IBGE totalizou 199,7 milhões de toneladas, 3,6% superior à obtida em 2014 (192,8 milhões de toneladas).

Ademais, há de se reconhecer que as bases de um desenvolvimento sustentável para o setor de agronegócio perpassam pela conjuntura macroeconômica e política internas e externas. E esforços internos em prol do setor têm ganhado relevância, como o contínuo investimento em tecnologia, melhorias na infraestrutura logística, um ambiente regulatório menos nocivo às atividades de produtores e empresários, bem como maior abertura do governo para o diálogo.

Nem tudo são flores no campo do agronegócio brasileiro, contudo. O contraponto às perspectivas mais otimistas começa a ser observado no segmento de proteína animal, que apresentou desempenho muito positivo no segundo semestre de 2014, com boas margens para suínos, frangos e carne bovina. Este avanço refletiu o embargo da Rússia aos produtores de carne dos Estados Unidos, União Europeia e Austrália, o que possibilitou o incremento das compras do Brasil.

Este cenário positivo, no entanto, neste ano esbarra na desvalorização do rublo e, consequentemente, nos resultados dos criadores brasileiros que deixarão de exportar aos russos. Além disso, a queda dos preços do petróleo afeta a renda de importantes importadores de nossas commodities agrícolas.

Mesmo diante de uma demanda mundial por alimentos crescente e a previsão de uma safra recorde, o momento econômico dos países que integram majoritariamente a pauta de exportação do agronegócio brasileiro exige atenção. É o caso de China, Rússia, Oriente Médio e Venezuela, alguns dos principais destinos dos produtos agropecuários brasileiros.

A desaceleração do crescimento da China, o grande destino das commodities agrícolas brasileiras, impacta em especial os embarques de açúcar. O enfraquecimento do rublo russo reflete na demanda do país por proteína animal. A queda nos preços do petróleo reduz a demanda do Oriente Médio, forte comprador de carne e de açúcar, enquanto a instabilidade política na Venezuela interfere no mercado de aves e carne.

Há que se avaliar ainda os impactos e desdobramentos de fatores como a revisão da legislação trabalhista e a atuação concreta e constante da defesa sanitária na atividade em nosso país. A contemplação dessas questões, em seus aspectos positivos e sensíveis, ajudará a pavimentar o caminho mais efetivo para promover a competitividade do agronegócio brasileiro.

A pauta é diversificada e complexa, mas, com algum esforço, poderemos desatar alguns nós que obstaculizam o desenvolvimento de um dos setores em que há clara vantagem competitiva global do país.

Fonte: Folha de São Paulo. Por Alexandre Figliolino. 25 de maio de 2015.


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