O tempo chuvoso por todo o Paraná fez com que a segunda etapa da campanha estadual de vacinação contra a febre aftosa começasse em ritmo um pouco mais lento em diversas regiões. O trabalho iniciou no dia 1o. de novembro e tem duração de 30 dias, com a expectativa de vacinar 100% do rebanho bovino e de búfalos de todas as idades, estimado em 9,15 milhões de cabeças. Na primeira etapa, que aconteceu em maio, foram vacinados animais de até dois anos de idade, fechando com um índice de vacinação de 97%.
Segundo a Agência de Defesa Agropecuária (ADAPAR), as vacinas estão disponíveis no mercado e a recomendação é que o trabalho e a comprovação dele sejam feitos o mais rápido possível. A entidade está revitalizando os 33 postos de fiscalização existentes nas fronteiras do Paraná com os estados do Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. A revitalização dos postos e a construção de novas unidades estão em andamento, com financiamento do Instituto de Florestas do Paraná, empresa também vinculada à Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (SEAB).
O presidente da entidade, o médico veterinário Inácio Afonso Kroetz, explica que a chuva deixa as mangueiras molhadas, aumentando os riscos de acidentes durante o ato. "Com isso, o produtor está aguardando os espaços secarem. Neste momento, o pecuarista está na fase de aquisição das vacinas e preenchendo as informações cadastrais", comenta.
Enquanto a vacinação da segunda etapa inicia, entidades ligadas ao agronegócio, sindicatos e sociedades rurais e pecuaristas continuam a discussão se o estado está preparado para requisitar o status de área livre de febre aftosa sem vacinação, que abriria novos mercados internacionais, mas poderia causar uma insegurança sanitária. O assunto é polêmico e a SEAB projeta que a ação já será possível em 2017. A sanidade foi um dos temas discutidos na quinta edição do
Encontros Folha, realizado pelo Grupo Folha no final de outubro, que tratou sobre o agronegócio.
O pecuarista José Roberto Mortari tem uma propriedade com 150 cabeças de gado no distrito de Paiquerê, zona sul de Londrina. Ele aproveitou que não está conseguindo terminar o plantio de soja em sua área de 120 alqueires e foi comprar as vacinas para o gado e realizar o trabalho em, no máximo, dois dias. Ele acredita que o estado pode se tornar uma área livre de aftosa sem vacinação, mas apenas em longo prazo. "Acho possível, mas o controle nas barreiras e uma maior fiscalização são muito importantes. Hoje, sabemos que o governo estadual não tem condições para isso. Falta pessoal para deixar esse controle sanitário mais rígido. Na minha opinião, essa é uma ação que só será efetiva a longo prazo."
Humberto Barros, pecuarista e diretor da Sociedade Rural do Paraná (SRP), possui animais em diversas áreas, como Cafeara, Umuarama, Cambé, Naviraí (MS), entre outras. Ele comenta que ainda não começou a vacinar os animais devido à chuva e também está esperando as mangueiras secarem para evitar riscos, já que a movimentação do gado fica maior em climas instáveis. No que diz respeito ao assunto polêmico, Barros é contra o Paraná requisitar tal status isoladamente. "Sou contra pararmos de vacinar sozinhos, como fez Santa Catarina. Acho que deve haver um bloco, em que todos façam, junto com Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Dessa forma, vejo viabilidade e de fato pode trazer muitos benefícios ao país, como a venda para mercados que têm preferência por áreas de livres de vacinação, como Europa, Japão e estados Unidos", opina.
O Sindicato Rural Patronal de Londrina não possui muitos pecuaristas, mas o presidente, Narciso Pissinati, diz que a grande maioria deles concorda que é possível o estado se tornar área livre de febre aftosa sem vacinação. "Entretanto, acreditamos que esse é um trabalho que depende menos dos pecuaristas e mais do estado, que precisa aumentar a fiscalização e melhorar a estrutura", ressalta.
Por fim, o presidente da Adapar, Inácio Kroetz, relata que é um caminho sem volta todo o país conquistar tal status. "Em janeiro, completa quatro anos que não acontece nenhuma manifestação do vírus da febre aftosa nas Américas. Para conquistar esta área livre sem vacinação, vai depender muito de boas práticas em relação ao manejo destes animais."
Fonte: Agrolink. Por Victor Lopes. 9 de novembro de 2015.
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