A pressão de setores influentes do governo, das áreas política e econômica, vem aumentando, principalmente após dados fracos de grandes economias, como a americana e a japonesa, apontarem para uma deterioração do quadro internacional, com reflexo na inflação brasileira.
A pressão pela queda dos juros é vista por interlocutores do Palácio do Planalto como natural, dentro de um cenário de recessão econômica, mas não significa uma "ordem" para o BC reduzir os juros. "Tem de qualificar. É uma pressão do debate público", disse uma fonte, que considera que o BC não pode ter uma posição de isolamento em relação ao que acontece no resto do governo e da sociedade. "Por que o diretor do BC estaria insulado e independente dessas pressões que pesam sobre todo o Ministério da Fazenda e o governo?", questionou.
A conjuntura internacional mais complicada foi a justificativa para o sinal repentino passado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, há 15 dias. De forma inédita, ele passou um recado no primeiro dia do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne para decidir sobre o rumo dos juros, sobre a "significativa" mudança nas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a atividade brasileira.
A avaliação do governo - que também condiz com a interpretação feita pelos analistas do mercado financeiro - é que o tom do BC ficou mais ameno sobre a inflação, ainda que a instituição diga permanecer "vigilante" em relação à alta dos preços. Com isso, cresceu no Planalto e na área econômica a perspectiva de que novos recados sejam dados pela autoridade monetária, ao longo do segundo semestre, em direção à trajetória de queda dos juros.
O raciocínio é de que, com a inflação ainda resiliente e uma deterioração do mercado internacional, o Banco Central precisa se preparar para tudo - até mesmo baixar os juros. Se os sinais vindos do exterior continuarem apontando para um enfraquecimento da atividade de potências econômicas, o principal cuidado que o Copom precisará tomar é com a comunicação sobre seus próximos passos, já que sua credibilidade voltou a ser arranhada após o episódio do FMI.
Projeção
As expectativas para a inflação são agora o ponto nevrálgico das discussões dentro do BC. E elas não param de subir, como mostrou mais uma vez o último Relatório de Mercado Focus.
Apesar disso, o mesmo levantamento trouxe, pela primeira vez, a expectativa de que a Selic seguirá estável até março do ano que vem. Para alguns especialistas, o próximo passo do Focus pode ser a redução das previsões para os juros no médio prazo. Se isso se confirmar, será mais um ponto para aumentar essa percepção de queda da Selic, segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Até lá, espera-se que Tombini ainda tenha tempo de administrar a falta de consenso dentro do colegiado, já que as duas últimas decisões foram divididas por seis votos pela estabilidade contra dois pelo aumento. No BC, a divisão é vista como salutar, já que o argumento é o de que cada membro do colegiado tem a própria cabeça. De qualquer forma, a "torcida" pelos juros mais baixos já ecoou no BC, como admitem fontes.
O próximo encontro do Copom será daqui a um mês, quando novos indicadores poderão mostrar com mais clareza como está a situação externa e os possíveis impactos para a economia brasileira. A maior diferença entre as duas correntes do Copom é o lugar de cada um dos fatores na equação: a fatia majoritária aposta que os impactos externos levarão a uma queda da inflação e, consequentemente, das expectativas. Já os votos dissidentes acreditam que as projeções é que são fator determinante para que o IPCA desacelere de forma consistente.
Fonte: O Estado de São Paulo. 3 de fevereiro de 2016.
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