O Brasil obteve um superávit comercial de US$923,0 milhões em janeiro, superior ao esperado pelos analistas e melhor resultado para o mês desde 2007, antecipando para este ano um saldo positivo ainda maior que o de 2015, de US$19,7 bilhões (em 12 meses, já atingiu US$23,8 bilhões). Mas só se justificaria comemorar a notícia se ela não se devesse à fragilidade das importações, mais intensa que a das exportações. Repete-se o que ocorreu ao longo de 2015: mais que os benefícios para o comércio exterior advindos da desvalorização do real, predominaram os efeitos nocivos da recessão.
As exportações de janeiro foram de US$11,2 bilhões, muito inferiores às de igual mês do ano passado, de US$13,7 bilhões (-18%). Pelo melhor critério de comparação - a média por dia útil - a queda foi um pouco menor, de US$652,6 milhões para US$562,3 milhões (-13,8%) em relação às vendas de janeiro de 2015, mas ainda assim muito acentuada.
A grande decepção veio das importações, que caíram 35,8% entre janeiro de 2015 e o mês passado, de US$803,5 milhões para US$516,1 milhões, declinando ainda mais na semana passada. O recuo foi influenciado por quedas de 60,6% nas importações de combustíveis lubrificantes, de 35,4% nas de bens intermediários, de 28,8% nas compras de bens de consumo e de 21,8% nas de bens de capital.
A fraqueza das exportações apareceu tanto nos produtos semimanufaturados (-21,3%) como nos básicos (-14,7%) e, em menor escala, nos manufaturados (-8,3%). Entre os itens que arrastaram para baixo as vendas estiveram ferro fundido, itens de ferro e aço, açúcar em bruto, óleo de soja, fumo, minério de ferro, café e petróleo em bruto. É evidente o impacto dos preços baixos de commodities como o minério de ferro, o petróleo e o açúcar sobre o valor das exportações.
Em 2015, as quantidades exportadas cresceram cerca de 8,0%, decorrendo principalmente de produtos básicos. As dificuldades de exportação de manufaturados não são pequenas, com exceções como papel e celulose ou suco de laranja.
As expectativas para o saldo comercial deste ano variam de US$37,9 bilhões, previstos na pesquisa Focus, a US$40,0 bilhões, esperados pela Rosenberg Associados. O superávit ajuda a mitigar uma nova queda do PIB, mas, como resulta de importações fracas em razão da baixa demanda interna, não se pode falar, por ora, em ajuda relevante para a recuperação da atividade econômica.
Fonte: O Estado de São Paulo. 3 de fevereiro de 2016.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos