Na busca por resultados reprodutivos no rebanho, é muito importante ter atenção com o manejo dos animais e encarar a inseminação com uma etapa de um processo mais abrangente que é a fertilização. “Fertilizar é diferente de inseminar e exige todo um planejamento para um projeto de sucesso que tem início na escolha do sêmen e termina na inseminação em si, ato mecânico que exige apenas treinamento”, explica o médico veterinário Renato dos Santos, responsável pela área de Manejo Racional da Beckhauser.
O veterinário pontua que para o ato de inseminar, o inseminador precisa de treinamento que o integre ao projeto, de forma que ele se “vista” da responsabilidade de fertilizar, chamando para si todo o manejo com os animais. Em caso de grandes fazendas, nas quais o inseminador fica por necessidade no curral, cabe a ele treinar seus terceiros no manejo do reconhecimento da vaca em cio e no manejo de conduzi-la ao curral sem agressão. “É importante providenciar água e alimento de acordo com a necessidade do animal para que na chegada ao curral ele fique por um período de descanso de, no mínimo, 20 minutos, com espaço suficiente para evitar competição e brigas. É preciso que o animal esteja tranquilo na hora de ser conduzido para a seringa em direção ao tronco para ser inseminado”, orienta Renato.
A importância do cuidado com o manejo se deve ao fato de que o desempenho normal da função reprodutiva depende totalmente da ação dos hormônios, e a produção desses hormônios sofre influência direta do estresse.
“Quando um animal é mantido em ambiente inadequado, seu organismo desencadeia uma série de reações hormonais na tentativa de restabelecer o equilíbrio orgânico, chamados de homeostase”, explica o veterinário. “Em situações agudas, o hipotálamo libera adrenalina, noradrenalina e catecolaminas, as quais desencadeiam reações imediatas, próprias de situações emergenciais, que causam mudanças em quase todo o sistema endócrino. A adrenalina é secretada para promover o fornecimento rápido de energia, com aumento da glicemia, dos batimentos cardíacos, da taxa respiratória e circulação. Seus efeitos são bastante drásticos e todo esse processo prejudica o resultado da inseminação”, completa o médico veterinário.
Por isso, a condução dos animais para a seringa, brete e tronco deve ser feita por peão que conheça comportamento e temperamento dos bovinos, e evite situações que causem estresse.
Uso correto do tronco de contenção
O uso correto do tronco de contenção para inseminação é outro fator de grande importância para o sucesso da fertilização. De acordo com o veterinário, a contenção em tronco deve ser feita com calma para que o equipamento não fique marcado na memória da fêmea bovina como local a ser evitado por lembrar ansiedade, medo, dor ou agressão. Se houver a necessidade de acionar as peças de contenção (pescoço e vazio), isso deve ser feito com o animal parado para não lesionar ou causar dor. “Nestes trabalhos a pressa será certamente um fator causador de estresse”, ressalta Renato.
Outra recomendação é para vacas que mesmo no programa intensivo de IATF não aceitem a condução tranquila. Elas deverão ser destinadas à cobertura natural, diminuindo a perda de sêmen e aumentando a possibilidade da fertilização.
“À primeira vista pode parecer aos produtores e técnicos uma preocupação excessiva e dispendiosa, mas certamente eles se surpreenderão com os benefícios que essa mudança de atitude trará à rotina de trabalho, às pessoas envolvidas com o manejo dos animais e, principalmente, com o retorno financeiro que virá agregado em termos de percentual na fertilização com sêmen”, garante o veterinário.
Economicamente, o mérito reprodutivo é considerado cinco vezes mais importante que o desempenho de crescimento e dez vezes mais importante que a qualidade final do produto. “No Brasil, essa relação é maior do que 300 vezes para os sistemas de produção de bovinos de corte em regime exclusivo de pastagens. Diante disso, a melhoria do sistema de produção de carne bovina brasileira passa necessariamente pela melhoria no manejo reprodutivo e nos processos de seleção para características reprodutivas”, conclui Renato dos Santos.
Fonte: Rural Centro. Beckhauser, 28 de março de 2016.
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