O desmame tradicionalmente é realizado quando o bezerro está com 6 a 8 meses de vida. Nesta idade, o animal já pode ser considerado um ruminante e tem plena condição de utilizar forragem sólida como única fonte de energia e de nutrientes de que necessita, já que a participação do leite na dieta do bezerro é pequena após o terceiro mês de lactação.
A grande questão é que a época de desmama é um período de considerável estresse para vaca e bezerro. Em grande parte dos rebanhos de cria, a desmama é realizada de maneira abrupta, com a separação da mãe. Essa situação de estresse reduz o ganho de peso do bezerro durante a recria e afeta sua imunidade, o que o deixa mais vulnerável a doenças. A separação também pode afetar o desempenho da vaca.
O comportamento dos animais é previsível após a separação e pode ser detectado durante semanas após a desmama. Vacas e bezerros permanecem vocalizando repetidamente, passam mais tempo caminhando, ficando menos tempo se alimentando, ruminando e descansando. Essas alterações de comportamento evidenciam que o método tradicional de aparte traz consequências negativas sobre o bem-estar animal.
Alguns produtores optam por colocar os animais em áreas muito distantes, de forma que não possam se ouvir. Porém, mesmo que o bezerro seja mantido na área em que já estava acostumado para minimizar os efeitos da separação, essa técnica reduz o desempenho esperado na recria.
Também é comum o uso de vacas de descarte como madrinhas. Entretanto, segundo pesquisa da Universidade de Saskatchewan (Canadá), essa técnica não gera os efeitos esperados. O comportamento dos bezerros acaba sendo igual ao da separação total. A mesma universidade descobriu que a divisão de lotes em dois, trocando bezerros e mães, também não é funcional, já que os animais ficam procurando seus pares em meio ao rebanho.
Quais seriam então as alternativas para desmamar de forma menos traumática?
Um estudo da Embrapa Gado de Corte (CNPGC - Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Corte) aponta que vacas e bezerros ficam mais tranquilos, desde os primeiros dias, quando são colocados lado a lado, separados apenas por uma cerca resistente, mantendo o contato visual. Uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia-Davis descobriu que bezerros manejados assim chegam a ganhar até 30,% mais peso nas 10 semanas subsequentes à desmama do que aqueles que foram manejados de forma tradicional. Neste método, cabe lembrar que os bezerros e as mães recebem complemento alimentar em cocho comum, dividido pela cerca, o que facilita o consumo pelos bezerros, garantindo ganho de peso. A água também é comum entre os dois. Certamente este é o melhor método, exigindo um pasto preparado para isto com capim em seu melhor ponto.
Para facilitar o manejo, alguns criadores mantêm usualmente as crias no curral de quatro a sete dias pós-desmama, fornecendo água, ração no cocho e capim fresco à vontade.
Outra alternativa é a separação em dois estágios. No primeiro estágio, que dura de quatro a sete dias, usa-se uma tabuleta para evitar que o bezerro mame; no segundo os animais são separados.
Um estudo (Haley et al., 2005) apontou que bezerros manejados assim têm, no primeiro estágio, comportamento igual aos que não usaram a tabuleta, alimentam-se da mesma forma e não vocalizam. Após a separação, o índice de vocalização, na comparação com a separação abrupta, cai 85,0%; o tempo de caminhada cai 80,0%; o de alimentação é 25,0% maior, e o de descanso, 24,0%. O ganho de peso após sete dias é significativamente maior. A dificuldade desse manejo é a colocação e retirada das tabuletas, principalmente em lotes maiores.
Desmama controlada é outra técnica interessante, por meio da qual os bezerros apartados são colocados para mamar duas vezes ao dia, de manhã e à tarde. Durante o aparte eles devem ficar em um pasto com capim bem tenro. Embora ainda não haja avaliações científicas sobre esse manejo, pecuaristas que o adotam se dizem satisfeitos com os resultados. Como a desmama é mais suave para os bezerros, já que o afastamento das vacas é progressivo e eles são estimulados a pastar, ganham peso ao mesmo tempo em que as vacas conseguem recuperação corporal.
Independente da estratégia adotada, alguns cuidados no manejo durante a desmama são fundamentais para reduzir as perdas que normalmente decorrem desse período:
1 - Os piquetes devem ter sombra e proteção contra ventos para reduzir estresse climático adicional;
2 - Evitar práticas como aplicação de vermífugos e vacinas e castração durante a desmama, sendo ideal fazê-las quatro semanas antes;
3 - É importante checar os bezerros com frequência e remover imediatamente os animais doentes do piquete para uma área de isolamento durante o tratamento, ajudando a prevenir a disseminação de doenças;
4 - Um dos aspectos que mais gera estresse é o transporte, por isso, viagens e comercialização devem ser evitadas no período pós desmama. Um intervalo mínimo de 15 a vinte dias é necessário. Se forem realmente indispensáveis, as viagens devem ser o menos estressante possível.
Fonte: Rural Centro. Beckhauser, 20 de abril de 2016.
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