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Agronegócio não para mesmo diante de incertezas na economia


Terça-feira, 3 de maio de 2016 - 05h20

“O produtor rural é um teimoso”, brinca Paulo Sergio Martins de Campos, produtor de citros em Itápolis (SP). “Estamos comprando porque temos que acreditar no Brasil. O país pode estar em crise, mas acreditamos na nossa profissão e temos que fazer o que sabemos de melhor, que é plantar”.

Frases como essas mostram como estava o humor do produtor rural na Agrishow 2016: preocupado com a crise econômica que o país atravessa, mas esperançoso e consciente de que o setor agrícola continua em um bom momento. Essa atitude otimista se refletiu no balanço final da feira que, apesar das expectativas negativas, conseguiu superar a edição anterior, com negócios girando em torno de R$1,95 bilhão de reais neste ano.

A Agrishow é considerada a principal vitrine da agricultura brasileira. Muitas empresas reservam os lançamentos para o evento e levam condições melhores para convencer o produtor retraído a abrir a carteira. “Prorroguei a compra que estava negociando na concessionária da minha cidade, vim aqui conhecer o produto pessoalmente e tentar uma negociação melhor. Consegui 10,0% de desconto”, conta Luiz Carlos Rando Rosolen, de Avaré-SP, que adquiriu uma roçadeira que estava negociando há dois meses.

A necessidade do produto o fez comprar mesmo com a crise econômica. “A economia não está boa, não concordo com a política, mas o setor do agronegócio não pode reclamar”, complementa.

O mesmo aconteceu para o produtor de café da região da Alta Mogiana, Elder Moscardini Filho. Ele ampliou em 100,00 hectares sua produção, necessitando de máquinas para dar conta do recado. “Aumentamos a área e estamos precisando. O que nos influenciou foi só a necessidade mesmo. Somos mais controlados e preferimos investir somente quando precisamos”, diz.

Volta dos investimentos

Atualmente, setores que durante anos passaram por crises, como a cana e a citricultura, voltam a investir em maquinário. É o caso do fornecedor de cana de Presidente Prudente, Alexandre Cândido, cujo canavial tem cerca de 18,00 mil hectares.

Para produzir em uma propriedade tão grande, é preciso investir sempre em renovação, ainda que parcial, da frota. Com a alta no preço do açúcar e uma valorização do consumo interno do etanol, os produtores estão mais capitalizados. “Estamos bastante motivados. Com certeza viveremos momentos melhores que os últimos cinco anos. Estamos investindo mais que o ano passado, mas menos que o devido”, declarou.

Ele aponta sua retração como consequência da crise que assola a economia brasileira. “Existe uma insegurança grande do cenário macroeconômico, fora do agro. Para o setor agrícola, com certeza as perspectivas são boas, mas o cenário externo causa insegurança”.

O citricultor Paulo Sergio de Campos acredita que o momento do setor é bom, com a quebra da safra norte-americana (principal concorrente do Brasil em produção de laranja), mas não o suficiente para arriscar grandes gastos. “A citricultura teve cinco anos de crise, então não podemos falar que esse ano dá pra sanar todos os débitos atrasados. Precisamos inovar nas lavouras, e por isso compramos tecnologias para economizar os insumos, que subiram muito”.

Juros incertos

O Plano Safra do ciclo 2016/2017 será anunciado no próximo 4 de maio. Por não saberem quais mudanças serão feitas – se é que haverá alguma --, os produtores decidiram antecipar as compras do que precisam. Marina Bartô, que tem uma empresa de terceirização de etapas da produção, comprou mais uma colheitadeira de grãos para sua frota. “Estamos comprando agora porque pode ser que os juros cresçam por conta da crise”, diz.

Francisco Matturo, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), acredita que o agricultor acabou percebendo que o momento mais seguro de investir é agora, já que não há nada definido para a próxima temporada.

Fonte: Globo Rural. 2 de maio de 2016.


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