Milho barato produzido na Argentina está dominando os desembarques do grão nos portos brasileiros nos últimos meses, incluindo no Nordeste do país, onde alguns analistas apostavam na chegada de carregamentos dos Estados Unidos após uma recente mudança nas regras de taxação, em um momento de crise de abastecimento para indústrias e produtores de aves e suínos.
Dados do Ministério da Agricultura mostram que nenhum desembarque de milho norte-americano ocorreu no Brasil nos últimos três meses, nem mesmo após o governo zerar em abril uma tarifa incidente sobre importações de fora do Mercosul.
Havia expectativa de que os EUA passassem a ser competitivos para exportar ao Brasil, principalmente ao Nordeste, para onde os fretes marítimos partindo da região do Golfo do México são mais baratos.
As entradas de milho no Brasil atingiram 106,00 mil toneladas em abril, maiores importações do grão desde outubro de 2014. Cerca de 58,0% das importações foram do produto da Argentina e o restante do Paraguai.
No Ceará, por exemplo, indústrias de aves formaram um grupo para adquirir de milho importado: um navio já descarregou, outros dois estão contratados (todos com milho da Argentina) e dois ou três ainda estão sendo negociados.
"A gente estudou ofertas dos Estados Unidos..., mas tudo leva a crer que (estes novos negócios) vão ser via Argentina", revelou o vice-presidente da Associação Cearense de Avicultura, Marden Vasconcelos.
Segundo ele, os vendedores argentinos têm se esforçado em manter preços competitivos no Nordeste brasileiro. O carregamento fechado para o Ceará com entrega em junho saiu a 48 reais por saca (60kg), posto na granja, enquanto as ofertas de milho dos EUA ficaram 1 real por saca mais caras.
Em Pernambuco, que recebeu 36,50 mil toneladas de milho importado entre março e abril, todas da Argentina, nenhuma oferta de negócio de milho dos Estados Unidos foi feita às granjas locais.
"Tem um grupo grande de pequenas granjas (de Pernambuco) querendo importar, mas é um processo lento. Não recebemos nem ofertas dos Estados Unidos. Todos os contratos estão sendo fechados direto com exportadores argentinos", disse o vice-presidente de Abastecimento da Associação Avícola de Pernambuco, Josimário Florencio.
Produtores de aves e suínos de todo o Brasil têm contado com milho importado para manter suas fábricas de ração ativas, após os estoques do país terem sido quase esgotados pelo consumo interno e por fortes exportações em meses recentes.
Operadores lembram que a janela de oportunidade para entrada de grandes volumes de milho importado no Brasil deverá se fechar no início do segundo semestre, quando o Centro-Oeste e o Paraná estarão colhendo a segunda safra da temporada 2015/16.
Logo após o anúncio do fim da tarifa para milho de fora do Mercosul, operadores e analistas passaram a especular que uma série de negócios de exportação de milho reportados nos Estados Unidos para destinos não revelados seriam, de fato, para o Brasil.
Contudo, dados do governo norte-americano divulgados nas últimas três semanas não mostraram nenhum embarque efetivo ou qualquer confirmação de negócio com compradores no Brasil.
Um fator que pode ser entrave para negócios de importação dos Estados Unidos é a qualidade dos grãos ofertados, disse um corretor que atua no mercado de milho do Ceará.
"Não estão fechando negócio porque o milho dos EUA é de 2010", disse Emilio Geleilate, diretor comercial da corretora Geleilate, de Fortaleza (CE).
Segundo ele, o milho argentino agrada mais as granjas locais, por ter sido colhido na última safra e por já ter padronização conhecida pelos consumidores.
O maior comprador de milho estrangeiro desde o início do ano é o Paraná, respondendo por 45,0% do total de importações brasileiras no período. O Estado é um grande produtor de grãos, mas concentra grande cadeia produtora de aves e suínos e beneficia-se da proximidade rodoviária, principalmente com o Paraguai, para abastecer o mercado doméstico.
Fonte: Reuters. Por Gustavo Bonato. 11 de abril de 2016.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos