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Eu fiquei honrado quando a MIT Technology Review me convidou para ser o primeiro a falar sobre o que penso sobre dez inovações tecnológicas importantes. Compor a lista foi difícil.
Eu queria escolher não só os assuntos manchetes em 2019, mas também capturar o momento na história da tecnologia, o que me fez pensar o quanto a inovação evoluiu com o tempo.
Pensei sobre todas as coisas, até o arado.
Arados são uma excelente personificação da história da inovação. Humanos tem usado esta ferramenta desde o ano quatro mil antes de Cristo, quando os fazendeiros da mesopotâmia aravam o solo com varas afiadas.
Desde então nós temos desenvolvido esta ferramenta e, atualmente, o arado é uma maravilha tecnológica.
Mas qual é exatamente o propósito do arado? É uma ferramenta que cria mais: mais sementes são plantadas, colheitas mais volumosas, mais comida e por aí vai.
Em lugares onde o alimento é difícil de se encontrar, não é exagero dizer que um arado dá às pessoas mais anos de vida. O arado, como muitas tecnologias, antigas e modernas, significa criar mais de algo e fazê-lo de maneira eficiente, para que mais pessoas se beneficiem.
Ao contrário disso, a carne criada em laboratório, uma das inovações que eu escolhi esse ano para a lista das dez inovações tecnológicas.
Criar a proteína animal em laboratório não se trata de alimentar mais pessoas. Já há gado suficiente para alimentar o mundo, mesmo que a demanda por carne aumente.
A proteína da nova geração não é sobre criar mais, e sim sobre fazer melhor. Isso nos permite ter um crescimento saudável sem contribuir com o desmatamento ou a emissão de metano. Também nos permite desfrutar de hambúrgueres sem que haja abate animal.
Em outras palavras, o arado aumenta a nossa expectativa de vida, e a carne criada em laboratório aumenta a nossa qualidade de vida.
Durante boa parte da história humana, nós colocamos a nossa capacidade de inovar em primeiro lugar. E nossos esforços deram resultado: a expectativa de vida no mundo era de 34 anos de idade em 1913, foi para 60 anos em 1973, e, hoje, a expectativa de vida é de 71 anos.
E porque nós vivemos mais, o nosso foco está começando a ser direcionado para o bem-estar. Essa transformação está acontecendo devagar.
Se você dividir os avanços científicos em duas categorias – em descobertas que aumentam a expectativa de vida e descobertas que melhoram a qualidade de vida – a lista de 2009 não parece tão diferente da lista deste ano.
Como muitas formas de progresso, a mudança é gradual e de difícil percepção. É uma questão de décadas, e não anos, e eu acredito que nós estamos apenas no meio de uma transição.
Para ser claro, eu não acho que a humanidade vai parar de tentar prolongar a expectativa de vida tão cedo. Nós ainda estamos distantes de um mundo onde todas as pessoas em todos os lugares viverá até a velhice com boa saúde, e para chegarmos nesse ponto será preciso bastante inovação.
E mais, “expectativa de vida” e “qualidade de vida” não são mutuamente exclusivas. Uma vacina contra a malária salvaria vidas e tornaria a vida melhor para crianças que, de outra forma, poderiam ficar com o seu desenvolvimento prejudicado decorrentes da doença.
Chegamos a um ponto em que estamos lidando com ambas as ideias de uma só vez, e é isso que torna esse momento na história tão interessante.
Se eu tivesse que prever como essa lista seria daqui a alguns anos, aposto que as tecnologias que aliviam as doenças crônicas serão um grande tema. Isso não incluirá apenas novos remédios (apesar de que eu adoraria ver novos tratamentos para doenças como Alzheimer na lista).
As inovações podem aparecer como uma luva mecânica que ajuda uma pessoa com artrite a manter a flexibilidade, ou um aplicativo que conecta pessoas com episódios depressivos com a ajuda de que precisam.
Se eu pudesse ver ainda mais longe, digamos 20 anos no futuro, eu gostaria de ver tecnologias focadas quase que inteiramente no bem-estar.
Eu acho que as mentes brilhantes do futuro focarão mais nas questões metafísicas: Como podemos fazer as pessoas mais felizes? Como podemos criar conexões significativas? Como podemos ajudar a todos a viverem uma vida gratificante?
Eu adoraria ver essas questões moldarem a lista de 2039, porque isso significaria que tivemos sucesso na luta contra doenças (e lidado com a mudança climática).
Eu não consigo imaginar um sinal maior de progresso do que este.
Por enquanto, porém, as inovações que impulsionam as mudanças são uma mistura de avanços que prolongam a vida e as que a tornam melhor. As minhas escolhas refletem ambas.
Cada uma me dá uma razão diferente para ser otimista com o futuro, e eu espero que possa inspirar vocês também.
Minha seleção inclui incríveis novas ferramentas que um dia salvarão vidas, desde simples testes de sangue que preveem o nascimento prematuro, até vasos sanitários que destruam patógenos mortais.
Estou igualmente empolgado com a forma como outras tecnologias na lista irão melhorar nossas vidas.
A possibilidade de monitorar a própria saúde na palma da mão com o uso de smartphones e/ou smartwatch, por exemplo, que mostram o batimento cardíaco e avisam os pacientes de problemas iminentes, enquanto outros permitem que os diabéticos controlem não apenas os níveis de glicose, mas também gerenciem sua doença. Os reatores nucleares avançados que poderiam fornecer energia livre de carbono e segura para o mundo.
Uma de minhas escolhas até nos oferece um vislumbre de um futuro em que o principal objetivo da sociedade é a realização pessoal.
Entre muitas outras aplicações, a inteligência artificial poderá ser utilizada para gerenciar seus e-mails, algo que parece trivial até que você considere as possibilidades que podem surgir quando tiver mais tempo livre.
Aqueles 30 minutos que você gasta lendo e-mails poderia ser gasto fazendo outras atividades.
Eu sei que algumas pessoas utilizariam este tempo para realizar mais trabalhos, mas espero que a maioria a use para atividades como conectar-se com um amigo durante um café, ajudar seu filho com o dever de casa ou até mesmo fazer trabalho voluntário em sua comunidade.
Isso, penso eu, é um futuro que vale a pena trabalhar.
Fonte: https://www.technologyreview.com/lists/technologies/2019/?linkId=64136332
Tradução de Felippe Reis, zootecnista e analista da Scot Consultoria.
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