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Scot Consultoria

Apagões preocupam chineses e ameaçam a segunda maior economia do mundo


Quinta-feira, 30 de setembro de 2021 - 16h00

* Reprodução permitida desde que citada a fonte.


Apagões e racionamentos de energia
, algo não totalmente raro na rotina dos chineses, começaram a se tornar rapidamente comuns no último mês na China, obrigando fábricas a reduzirem a produção, deixando casas temporariamente sem luz e acendendo um grande alerta entre economistas e especialistas do mundo inteiro.

Para muitos, a crise energética que se desenha no país já é grande o suficiente para deixar o crescimento de sua economia menor neste ano — o que, em se tratando de um país do tamanho da China, tem consequências para o mundo inteiro.

As interrupções no fornecimento de eletricidade local e a energia ficando mais cara também está gerando o receio de inflação, tanto dentro quanto fora da China, uma das maiores exportadoras do mundo.

“Como o preço da energia fica mais caro na China, o preço do bem produzido lá também fica mais caro, e isso bate em todos os tipos de produtos”, diz o economista Livio Ribeiro, pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV) especializado no país asiático.

Risco às exportações do Brasil

Além disso, menos crescimento da China, também uma das maiores importadoras do mundo, pode significar queda tanto nos volumes comprados por ela, quanto no preço dos produtos que ela compra – notoriamente as commodities, que são produtos básicos negociados em bolsas internacionais como minério de ferro, petróleo e grãos.

Como o Brasil é um dos principais exportadores de muitas delas, e a China sua principal compradora, principalmente no minério de ferro, a economia brasileira também pode acabar perdendo nesta frente com os cortes de energia chineses.

“À medida que há notícias ruins, de que pode diminuir o crescimento da China e, portanto, a demanda, o preço [das commodities] cai”, explica o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados.

“Cerca de 80% das exportações brasileiras hoje são minério de ferro e soja, e a China é a maior compradora de minério de ferro do mundo. Uma nova queda nos preços pode levar à redução do superávit da nossa balança comercial no ano que vem”, disse.

O preço do minério de ferro, que chegou a bater o recorde sem precedentes de mais de US$ 200 por tonelada no começo deste ano, já caiu pela metade desde então e é negociado atualmente na casa dos US$ 110.

De acordo com Barral, porém, foram as más notícias ligadas principalmente à empresa Evergrande e ao setor da construção chinês que responderam pelo estrago até aqui. Se a desaceleração agora pela crise energética se concretizar, a queda nos preços, de acordo com ele, pode ser ainda maior.

Com a preocupação crescente pela crise energética, que já chega em um momento de dificuldade de abastecimento nas indústrias globais e de fraqueza após a crise da Evergrande, bancos internacionais já começaram a cortar as previsões de crescimento para a China neste ano, de algo perto dos 8,5% para um resultado mais próximo ou abaixo dos 8%.

Preço do carvão triplicou

“É comum ter apagão e racionamento na China”, disse Ribeiro, que também é sócio da consultoria econômica BCRG. “Tipicamente eles vêm por corte de carga das empresas, e sempre tentando ao máximo preservar o consumidor pequeno. Mas desta vez parece ser uma coisa um pouco mais extensa.”

Por trás da crise de energia, explica o economista, está um combo de fatores que se aglutinaram todos de uma vez neste ano para a China e que fizeram faltar carvão, o combustível ainda responsável por metade de toda a energia gerada no país.

A demanda cresceu muito mais rápido do que os produtores calcularam durante a pandemia e também o repique de infecções fez a China restringir a movimentação em suas fronteiras, o que atingiu alguns de seus fornecedores de carvão importantes, como a Indonésia e a Mongólia.

O resultado é que o preço dele mais que triplicou: a cotação da tonelada saiu de US$ 60, em setembro do ano passado, para os US$ 200 hoje. Com o gás natural, que complementa a matriz chinesa, não foi diferente: ele saiu de US$ 2 para quase US$ 6 por milhão de BTU neste um ano.

Metas ambientais e termelétricas desligadas

Em paralelo, os analistas também colocam na conta as arrojadas metas ambientais do presidente chinês, Xi Jinping, de tornar neutras até 2060 as emissões de carbono do país mais poluidor do mundo.

“As províncias que vieram até esse ponto com níveis de emissão acima da meta anual autorizada estão tendo que cortar emissão e, portanto, cortar geração de energia”, conta Ribeiro.

“Basicamente, eles estão desligando as termelétricas. O governo central manda e as províncias obedecem.”

Temporário, mas nem tanto

Uma parte boa da história é que parte dos problemas que estão gerando a crise atual, como os choques de oferta e de logística causados pela pandemia, não deverão ser eternos.

“Estamos em um mundo cheio de gargalos”, diz Ribeiro. “Não são problemas estruturais, permanentes. Devem ser temporários, mas não será mês que vem que irão acabar.”

Matéria originalmente publicada em: Apagões preocupam chineses e ameaçam a segunda maior economia do mundo


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