O comportamento dos produtos agropecuários deu o tom da inflação medida na segunda prévia de setembro para o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), que acelerou para 1,03%, depois de registrar alta de 0,55% em igual período do mês passado.
O avanço dos alimentos aconteceu tanto no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP-M, quanto no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que tem fatia de 30% no índice. No IPA, as matérias-primas agroalimentares saltaram de 1,04% na segunda prévia de agosto para 4,21% agora.
De acordo com o coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros, os alimentos englobados pelas matérias-primas brutas e pelos intermediários respondeu por 1,31 ponto percentual de uma alta de 1,45% do IPA no segundo decêndio de setembro. Em igual período do mês passado, o IPA havia avançado 0,89%.
“Várias matérias-primas sobem ao mesmo tempo e com intensidade. A alta não foi fruto de um caso isolado dentro dos alimentos, mas de vários alimentos”, pondera Quadros.
Como exemplos no IPA, Quadros citou o trigo, que pulou de 0,25% no segundo decêndio do mês passado para 7,02% agora; o milho, que passou de 0,01% para 12,25%; os suínos, que saltaram de 2,46% para 4,54%; e os bovinos, que aceleraram de 2% para 4,66%.
O economista acredita que o impacto dos alimentos no IPA vai poder atingir o auge em setembro, uma vez que, dificilmente, se repetirão aumentos tão expressivos em tantos itens como em setembro.
Em relação aos preços ao consumidor, Quadros alerta para o repasse para o varejo de impactos no atacado. Como resultado, os alimentos responderam por 0,46 ponto percentual da variação de 0,52 ponto percentual do IPC entre o segundo decêndio de agosto e a segunda prévia de setembro. No período, o IPC passou de baixa de 0,28% para acréscimo de 0,24%.
Ao contrário do que projeta para o IPA, Quadros vê possibilidade de os impactos do avanço no atacado continuarem a influenciar os preços no varejo nos próximos índices. Na segunda prévia de setembro, os alimentos subiram 0,28%, contra queda de 1,33% em igual período de agosto.
Como exemplo de impactos da alta do trigo, o economista lembra que as massas e farinhas no varejo passaram de recuo de 0,35% na segunda prévia de agosto para incremento de 1,04%, com destaque para o macarrão, que foi de recuo de 0,75% para expansão de 2,04%. Os panificados e biscoitos foram de 0,59% para 1,51% no período, com expressiva aceleração do pão francês, que pulou de 0,78% para 1,86%. A carne bovina foi outra que apresentou aceleração, pulando de 1,06% para 2,92%.
“No IPC, a alta é mais diversificada, mas grande parte da aceleração entre agosto e setembro também é explicada pelos alimentos”, disse Quadros.
No Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), o fim dos reajustes e a acomodação de preços depois de um forte aquecimento no primeiro semestre fez o índice passar de 0,27% na segunda prévia de agosto para 0,14% agora.
Fonte: Valor Econômico. Por Rafael Rosas, 21 de setembro de 2010.