Hoje, na reunio do Frum Brasileiro de Mudanas Climticas (FBMC), no Rio de Janeiro, o plano setorial da Agricultura para reduzir as emisses de gases-estufa pode ser fechado. Se isso ocorrer, ser o primeiro plano setorial a decolar entre os cinco que o Brasil se comprometeu a fazer ao divulgar as metas voluntrias nacionais em novembro de 2009, pouco antes da conferncia do clima de Copenhague. Tem 60 pginas e alguns eixos que estimulam o sistema de plantio direto, mudanas no financiamento agrcola, transferncia de tecnologia para os produtores e o aproveitamento energtico a partir de dejetos de animais.
No item do financiamento agrcola, a ideia abrir linhas que financiem sistemas e no apenas lavouras. "No para financiar s a lavoura de soja ou de milho, mas o sistema integrado, que pode ser lavoura e pecuria, por exemplo", diz o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa Informtica. Alm de ser um formato mais moderno, o sistema integrado permite que o saldo entre as emisses produzidas e o sequestro de gases-estufa que ocorre quando as plantas crescem, possa ser positivo. "Um boi produz, em mdia, 1,8 tonelada de CO2equivalente ao ano e um bom pasto, retira trs toneladas de CO2equivalente", exemplifica Assad. Nessa conta, sobra 1,2 tonelada que pode ser vendida no mercado de carbono no futuro.
O plano setorial segue nessa toada. Dejetos de sunos devem virar matria-prima para produo de biogs. Em outra ponta, a inteno ampliar as florestas plantadas em 3 milhes de hectares. A estratgia tambm procura estimular a transferncia de tecnologia ao produtor e o plantio direto na palha da cana, soja, milho e feijo. H ainda um mecanismo que inocula uma bactria na semente da planta e permite que ela retire o nitrognio do ar. No sistema tradicional, o agricultor joga fertilizante e nesta operao se produz NOx, um gs-estufa 296 vezes mais forte que o CO2. Nesse novo sistema, com a bactria, o processo se inverte.
No incio dos trabalhos, a proposta de mitigao de gases-estufa da Agricultura reuniu tcnicos do ministrio e da Embrapa, mas depois se ampliou. Hoje tambm concentra entidades de classe como a Confederao Nacional da Agricultura (CNA) e a Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) entre outras, alm de ONGs como o WWF-Brasil. A coordenao de todos os planos setoriais (h o da energia, do desmatamento da Amaznia e do Cerrado e tambm do setor siderrgico) cabe Casa Civil.
"Ns no admitimos a possibilidade de parar de crescer", disse ontem em seminrio em So Paulo Tereza Campello, que coordena o plano setorial da Agricultura. Ela deu os nmeros: o setor agrcola responde por 25,6% do Produto Interno Bruto e por quase 22% das emisses do pas. Se nesse porcentual for somado o desmatamento da Amaznia e de outros biomas, na rubrica conhecida como "uso da terra", somam-se quase 58% das emisses.
"Nossa agenda de crescimento tem que ser adequada com o compromisso de reduzir emisses", continuou ela. Tereza repetiu a mxima de que a mudana climtica tem que ser encarada pelo Brasil como uma oportunidade. "Se no for assim, ser limitadora. Podemos ter no futuro que lidar com barreiras alfandegrias justas ou injustas que vo nos impor por conta da agenda do clima."
O advogado Guarany Osorio, especialista na arquitetura legal climtica que est se montando no Brasil, indicou os buracos deste queijo suo, no evento "Rumo s baixas emisses da agropecuria brasileira", promovido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaznia - IPAM e o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundao Getlio Vargas. No contexto nacional, o pas tem hoje um plano, uma poltica e um fundo nacional sobre mudana do clima, mas os fios esto desamarrados.
Referindo-se meta de corte de emisses de 36,1% a 38,9% at 2020 que o governo divulgou em 2009, Osrio questionou: "Como vai se computar a meta de So Paulo, por exemplo? O Brasil ter uma conta nica? Qual ser a estrutura governamental para cuidar do tema?". O pesquisador Daniel Nepstad, do Ipam, assinalou que o Brasil tem que ter " uma poltica nacional integrada que traga benefcios para os produtores que fazem a coisa certa no cho. Porque, sem o produtor, nada disto ir para frente."
Fonte:
Valor Econmico. Por Daniela Chiaretti. 8 de outubro de 2010.
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