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Scot Consultoria

Os desafios do líder de um mercado em retração


Sexta-feira, 22 de outubro de 2010 - 09h38

Ampliar as vendas de suco não concentrado para mercados maduros como os Estados Unidos e a União Europeia, explorar melhor os mercados de bebidas mais baratas em países emergentes como China e Índia, incrementar os embarques das frutas in natura, elevar a aposta no desenvolvimento do mercado doméstico de suco concentrado ou não e lembrar aos consumidores mais jovens em todas as fronteiras os benefícios à saúde que os produtos da cadeia podem proporcionar. Essas foram algumas sugestões apresentadas no seminário "Desafios da Citricultura Brasileira", realizado pelo Valor ontem em São Paulo, com a presença de quase 500 representantes de citricultores e indústrias de suco. São saídas e alternativas discutidas em um contexto de contínua queda da demanda global pelo tradicional suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, em inglês) e que, nos últimos anos, por seu reflexo nos preços da fruta e da commodity, deteriorou as relações entre produtor e empresa. Apresentado logo no início do evento, o estudo "O retrato da Citricultura Brasileira", coordenado por Marcos Fava Neves, professor da FEA/USP e fundador do Markestrat - Centro de Pesquisa e Projetos em Marketing e Estratégia, mostra que o que está em jogo não é pouco. O PIB do setor citrícola alcançou US$ 6,5 bilhões em 2009, o número de empregos diretos e indiretos chega a 230 mil e as exportações totais de suco de laranja deverão alcançar US$ 2 bilhões em 2010, elevando para cerca de US$ 62 bilhões o valor dos embarques desde 1962, quando o país começou a dar as primeiras braçadas no mercado internacional. Mas os desafios também não são. Em um grupo de 40 países que absorve 99% das exportações brasileiras, em um intervalo de seis anos durante o qual a população cresceu 5%, o PIB aumentou 51% e o PIB per capita subiu 43%, o consumo de suco recuou 6%, diz Fava Neves. Com os países desenvolvidos liderando o tombo e os emergentes ainda sem força para compensá-lo. Além disso, só em 2009 o Brasil pagou R$ 518 milhões em tarifas nas exportações de suco, o que mostra que o protecionismo ainda é grande. Tendência de alta de preços internacionais como a atual, portanto, apenas com problemas na oferta, como São Paulo e Flórida, que reúnem os dois maiores parques citrícolas do mundo, nesta ordem, tiveram na safra 2010/11. "No consumo e na distribuição do suco de laranja brasileira nos mercados consumidores, as notícias não são boas. O consumo está em queda e a distribuição é concentrada. Nos dez maiores mercados do suco brasileiro, as cinco maiores redes varejistas dominam mais de 50% das vendas. Em alguns mercados, as marcas próprias representam também mais de 50% das vendas", diz Fava Neves. Antes do varejo, no envase, a concentração também é alta. Nos EUA, quatro dominam 75% do mercado; no Reino Unido, o quarteto dominante representa 84%. Na cadeia produtiva, as envasadoras estão entre as exportadoras e o varejo. Daí porque as grandes indústrias exportadoras radicadas no Brasil - as nacionais Cutrale, Citrosuco e Citrovita, além da francesa Louis Dreyfus - costumam afirmar que a concentração também nesta frente foi inevitável. Citrosuco e Citrovita inclusive negociam uma fusão das operações, em conversas aprovadas pelo Cade com todas as limitações possíveis até o julgamento final. "A citricultura está em uma grande fase de transformação. Essa transformação começou há cerca de sete anos atrás e ainda levará dez ou 15 anos para se consolidar", disse ao Valor José Luis Cutrale, presidente de conselho de administração da empresa fundada por seu pai. Segundo ele, a transformação começa com a modernização dos viveiros, hoje telados por causa de ameaças fitossanitárias, passa pelo plantio, com adensamento e uso de irrigação, e chega à modernização das indústrias, onde sistemas eletrônicos dominam. A partir daí alcança a distribuição e chega à promoção ao consumidor. "As coisas não estão tão ruins. Na próxima década, teremos mais 1 bilhão de habitantes, e eles vão ter que se alimentar. Mas há muito o que fazer", disse Cutrale. Nesse sentido, e com a queda da demanda e as oscilações de preços, a empresa e suas concorrentes participam dos esforços mediados pelo secretário da Agricultura de São Paulo, João Sampaio, para a criação de um novo ambiente de negociações sobre os preços de fornecimento da fruta para a produção da bebida. O novo Consecitrus, como esse ambiente vem sendo chamado em alusão ao Consecana, que reúne canavieiros e usinas, voltará à pauta na semana que vem na secretaria. Há disposição para negociar, mas muitas divergências ainda são colocadas como obstáculo, como o futuro das investigações antitrustre sobre a formação de um suposto cartel entre as grandes indústrias no passado recente. Sampaio insistiu que o Consecitrus não discutirá só preços e que divergências poderão ser tratadas nos fóruns adequados. A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), representa as indústrias exportadoras. Pelo lado dos produtores, três entidades atuam no processo: Sociedade Rural Brasileira (SRB), que apoia a criação do Consecitrus, a Federação da Agricultura dos Estado de São Paulo (Faesp), que é favorável, e a Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), que tem críticas e até agora mostrou-se contrária. Fonte: Valor Econômico. Por Fernando Lopes. 21 de outubro de 2010.
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