Produto subiu 2,86% ontem, com a arroba sendo negociada no Estado à média de R$ 110,70, segundo o Cepea
A carne bovina nunca esteve tão cara como neste mês. A arroba de boi gordo já supera R$ 110 no Estado de São Paulo, empurrando para cima também os preços pagos pelo atacado e pelos consumidores.
Os preços médios praticados no Estado de São Paulo atingiram R$ 110,70 ontem, conforme acompanhamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
É o maior valor real já registrado pela entidade. Os preços da série histórica foram corrigidos pelo Índice Geral de Preços da FGV. A alta recorde do boi no pasto puxou também o preço pago pelos atacadistas na Grande São Paulo. Os dados do Cepea indicam que o quilo da chamada "carcaça casada" -que inclui traseiro, dianteiro e ponta de agulha- está a R$ 6,40 neste mês, também um valor recorde.
O preço praticado atualmente no atacado é superior ao de 2008, quando o mundo viveu ameaça de falta de alimentos, e os preços das commodities explodiram. O consumidor já começa a sentir no bolso a aceleração dos preços da carne bovina. A alta em setembro foi de 6,6%, segundo a Fipe.
A pressão maior deverá vir a partir de novembro, quando esses aumentos recordes pagos pelos atacadistas começarão a aparecer nos açougues e supermercados.
CICLOS
Nesses patamares recordes de preços, parte dos consumidores começará a viver a previsão do secretário de Agricultura e da Pecuária da Argentina, Lorenzo Basso, de que "no futuro a carne vai ser um produto de luxo". A carne bovina vive ciclos de alta e baixa. A alta atual ocorre devido à forte redução na oferta de gado para abate.
A redução, além de motivos pontuais, como a seca atual, tem uma origem que remonta a quatro anos. Sem preços remuneradores, os pecuaristas foram obrigados a abater as fêmeas para cobrir os gastos. A redução de fêmeas inibiu o crescimento do rebanho e a falta de boi reflete agora. Além disso, o país vive o período de entressafra.
Em geral, os confinamentos elevam a oferta de animais neste período do ano, o que não ocorre atualmente porque houve queda no número de cabeças confinadas. Os confinamentos registraram forte elevação de custos em 2010, principalmente devido à valorização do gado adquirido para confinar.
No momento em que há redução de oferta, o consumo interno ainda se mantém aquecido devido à elevação da renda. Além disso, passado o efeito da crise financeira internacional, as exportações brasileiras voltaram a crescer, principalmente para os países emergentes. Esse cenário ajuda a dar mais sustentação aos preços.
"A rentabilidade do setor é melhor neste momento, mas veio compensar prejuízos dos pecuaristas em 2006/7, quando a pecuária viveu os piores momentos dos últimos 30 anos", segundo Luis Adriano Teixeira, coordenador de Pecuária da Agropecuária CFM.
Teixeira diz que esse reajuste de preços é necessário, ainda, porque os custos de produção vêm subindo bem acima da inflação.
Na avaliação de Teixeira, a pressão nos preços da carne pode continuar. A demanda, tanto interna como externa, está aquecida, e a oferta de carne não se regularizará a curto prazo.
Compensa mais para os frigoríficos comercializar carne internamente do que externamente. Segundo ele, a regularização da oferta de carne no Brasil deverá ocorrer só por volta de 2013.
Fonte:
Folha de São Paulo. Por Mauro Zafalon. 28 de outubro de 2010.
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