Prejudicada pela estiagem provocada pelo fenômeno climático La Niña, a produção argentina de milho deverá ser consideravelmente menor do que a inicialmente esperada nesta safra 2010/11, que está em desenvolvimento.
Em novembro, quando o plantio estava no início, o governo do país vizinho estimava a colheita em 26 milhões de toneladas. Ontem, o subsecretário da Agricultura, Oscar Solis, afirmou à agência Reuters que "seguramente" a produção ficará mais perto de 20 milhões do que de 26 milhões.
"Vai haver uma queda de produtividade, que hoje é difícil mensurar", afirmou o representante do governo. Solis realçou que seria possível colher 26 milhões de toneladas se tivesse chovido normalmente em dezembro, o que não aconteceu. A Bolsa de Comércio de Rosário, por exemplo, já reduziu sua estimativa para 21,3 milhões de toneladas.
Como informou recentemente o Valor, a seca também limitará a produção de soja da Argentina no ciclo atual. Em novembro, o governo projetava a colheita da oleaginosa em 52 milhões de toneladas. Atualmente, analistas trabalham com um intervalo entre 43 milhões e 48 milhões.
Com suas duas principais lavouras castigadas pelo La Niña, o sonho do país de finalmente colher mais de 100 milhões de toneladas de grãos ficou distante, em um cenário que poderá favorecer as exportações do Brasil pelo menos nesses próximos meses.
Na safra 2008/09, quando a produção argentina de grãos foi devastada pela mais severa estiagem no país em sete décadas, os preços internacionais de soja e milho subiram e aumentou a demanda externa pelos produtos brasileiros.
Os problemas atuais na Argentina nem de longe se comparam ao debacle de duas safras atrás. Mas os preços já estão atraentes, e qualquer soluço "altista" será muito bem recebido pelos exportadores brasileiros que tiverem oferta disponível. Mesmo no Sul do Brasil, os efeitos do La Niña têm sido amenos. Em Mato Grosso, onde o plantio de soja atrasou por causa do fenômeno, o problema agora são as previsões de chuvas acima da média em fevereiro, que podem travar a colheita, segundo informou a Somar Meteorologiaà Bloomberg.
A evolução do La Niña na América do Sul vem sendo acompanhada de perto pelos traders americanos, e seus reflexos, seja na queda da produtividade do milho na Argentina, seja no atraso do plantio de soja em Mato Grosso, colaboraram para a sustentação das cotações desses grãos em Chicago nos últimos meses.
Particularmente no milho, nas duas últimas sessões da bolsa pesaram as previsões de chuvas em regiões produtoras argentinas, e os preços registraram recuos moderados. No país, os climatologistas de fato preveem chuvas nesta semana, mas dizem que serão insuficientes para evitar perdas importantes de produtividade.
Analistas lembram que as lavouras de milho precisam, nesta fase de crescimento, de 10 milímetros diários de chuvas, algo que ainda não se vislumbra em caráter regular neste mês. Em meio à crescente volatilidade de Chicago, pode ser o suficiente para garantir novas altas nas próximas semanas.
Ontem, na bolsa americana, os contratos futuros para maio fecharam a US$ 6,1675 por bushel (25,2 quilos), baixa de 11,75 cents. É o menor valor em duas semanas, mas ainda assim segue em torno do maior patamar em dois anos.
Fonte: Valor Econômico. Por Fernando Lopes e Daniel Rittner. 5 de janeiro de 2011.