Produtores e autoridades agrícolas da Coreia do Sul estão aumentando os esforços para conter o surto da febre aftosa no país, conforme informações do Wall Street Journal. Cerca de 12% dos suínos do plantel nacional tiveram de ser abatidos. O surto é o quarto na história da Coreia do Sul na última década e de longe o pior deles. Começou há seis semanas e se espalhou por muitas regiões do país. Nesta terça-feira, autoridades estimaram em mais de US$ 1 bilhão o valor dos animais perdidos por causa da doença viral, altamente contagiosa, e dos esforços para contê-la.
O professor de ciência veterinária Kim Jae-hong, da Universidade Nacional de Seul, afirma que "o surto é o mais sério da história da Coreia". Segundo ele, "é difícil prever quando será possível conter a propagação da doença, mas o mais importante agora é controlar o movimento de entrada e saída nas fazendas afetadas e desinfetar completamente os carros no entorno das áreas".
Abatimentos
Desde o fim de novembro, há mais de 100 casos confirmados de febre aftosa na Coreia do Sul. Veterinários, estudantes e autoridades agrícolas têm se mobilizado para realizar o maior abatimento de animais já visto no país. A campanha sacrificou mais de 1,2 milhão entre 10 milhões de suínos e 107 mil bovinos entre 3 milhões de cabeças.
Em algumas regiões do país, veterinários e autoridades agrícolas estão espantados com a escala dos abatimentos. A mídia local relatou incidentes com suínos queimados vivos para agilizar o abatimento. Oficiais do Ministério da Agricultura confirmaram alguns incidentes, mas disseram que foram poucos. "As autoridades estão com pressa para interromper a propagação, mas o número de pessoas envolvidas é muito pequeno para a operação", diz Kim.
Na cidade de Paju, a Noroeste de Seul e próxima à fronteira com a Coreia do Sul, cerca de 70% das fazendas foram forçadas a abater os animais, de acordo com uma autoridade local. Kim explica que uma frente fria, que derrubou as temperaturas nas últimas duas semanas, contribuiu para as dificuldades em combater a doença, pois as mangueiras e bombas para usadas no processo de desinfecção congelaram.
Mercado local
Os preços e a oferta das carnes ainda não foram muito afetados nas mercearias da Coreia do Sul, mas economistas disseram que estão esperando um impacto na oferta e no comércio durante o feriado do Ano Novo Lunar no próximo mês. Isso ocorre porque nesta festa muito celebrada no Oriente, costuma-se presentear carnes.
No entanto, a volta da aftosa prejudicou o dia a dia de centenas de produtores agropecuários. O governo compensa os produtores pelos animais abatidos, mas os criadores afirmam que não recebem pagamento suficiente.
Kim Hee-dong, produtor da pequena cidade de Pocheon, a Nordeste de Seul, diz que as autoridades abateram suas 465 cabeças de gado em 30 e 31 de dezembro e abriram quatro grandes buracos em seu pasto para enterrar os animais. "Simplesmente não consegui assistir a isso. Mas me pediram para checar os buracos antes, para ver se estava tudo bem, e tive de presenciar cerca de 100 animais mortos, do meu rebanho", lamenta. "Desmaiei por um momento e fui levado ao hospital."
Kim explica que 36 produtores entre os 40 naquela região tinham rebanhos com sinais de febre aftosa. Ele estima que serão necessários anos para que ele possa reconstituir seu negócio. "Comecei nesta fazendo 20 anos atrás, com apenas um boi, e nunca passei por algo assim antes", diz.
Aves
Autoridades sul-coreanas também estão monitorando a propagação da gripe aviária entre aves de granja. Duas semanas atrás, foram registrados casos do vírus influenza H5N1 em galinhas de duas fazendas, provavelmente contaminadas por aves migrantes. Por causa disso, cerca de 200 mil aves entre as mais de 10 milhões do país tiveram de ser abatidas. A gripe aviária pode ser transmitida a seres humanos, diferentemente da aftosa. As informações são da Dow Jones.
Fonte: O Estado de São Paulo. Por Filipe Domingues, da Agência Estado. 11 de janeiro de 2011.