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Scot Consultoria

Abate religioso cresce nas agroindústrias


Segunda-feira, 17 de janeiro de 2011 - 09h57

Brasil aumenta qualificao para atender mercados como o muulmano e o judaico. Alguns povos condicionam sua alimentao a preceitos religiosos. Hindus no comem carne bovina, por considerarem a vaca um animal sagrado. Budistas tambm evitam carne e costumam adotar o estilo vegetariano. Judeus e muulmanos, por sua vez, no aceitam a ingesto de carne suna, j que para os padres dessas religies, o porco um animal impuro. Nessas duas ltimas culturas, as carnes bovina e de aves so permitidas, desde que o animais tenham sidos mortos sob as bnos de suas crenas. As agroindstrias brasileiras vm se especializando para atender as exigncias desses mercados nos quais a f rege tambm os hbitos alimentares. O incremento das exportaes para o Oriente Mdio, onde a maioria da populao (90%) segue os preceitos do lder espiritual Maom, despertou o interesse de frigorficos e, por outro lado, ampliou a possibilidade de compra da populao daqueles pases e de outros que seguem as mesmas leis, a exemplo dos asiticos Malsia e Indonsia. Carnes com abate diferenciado, conhecido como halal, ganham espao nas linhas de produo de grandes empresas. Na prtica, o termo halal significa permitido para consumo, mas o conceito ultrapassa o simples consentimento, tratando de princpios que vo do respeito a todos os seres vivos at questes sanitrias. A preocupao com a higiene do alimento estende-se ao bem-estar do animal, no caso dessas protenas. Para os islmicos, o ritual de abate do boi ou do frango deve ser feito apenas pela degola, para garantir a morte instantnea do animal. No sistema tradicional de abate bovino, a insensibilizao por meio de mtodos que levam ao atordoamento deve ser feita antes da sangria. Todos os procedimentos com o abate devem ser realizados por um muulmano praticante, em geral rabe, treinado especificamente para essa funo. O oficio do degolador estritamente ligado s tradies religiosas e o abate, permeado de ritos. Cada animal que passa pela mo desse profissional, oferecido a Al antes de ser morto. Com um faco minuciosamente afiado em punho, ele pronuncia, em rabe, a frase em nome de Deus e sacrifica o animal. Omar Chahine, supervisor islmico do frigorfico Minerva, em Barretos (SP), explica que esse oferecimento ocorre na inteno de que o animal no sofra, e que o sacrifcio seja apenas para o sustento de quem dele se alimenta. um agradecimento pelo alimento e mostra que o trabalho voltado exclusivamente alimentao humana, sem crueldade pela morte de outro ser vivo, afirma. Sempre que possvel, o animal deve estar posicionado na direo da cidade sagrada de Meca (Arbia Saudita), intensificando o carter ritualstico do ato. preciso ainda dissociar os elementos vitais e, por isso, preconizada a retirada total do sangue do animal. A doena vive no sangue e queremos um animal saudvel, diz o supervisor-geral de abate da Central Islmica Brasileira de Alimentos Halal (Cibal), Tamer Mansur. Dessa forma, a sangria uma parte importante, assim como os cuidados no pr-abate. Antes da morte, o boi ou o frango deve descansar, no mnimo, 12 horas para no ficar agitado e esvaziar o estmago, diz Omar Chahine. Deve-se evitar, tambm, que tenham comido rao com protena animal ou recebido hormnios. O post mortem tambm regido pela doutrina e as carcaas halal so separadas das convencionais. O contato com o produto convencional estritamente proibido, mesmo j embalado. Cada frigorfico tem na equipe um degolador e um supervisor de abate. A certificao do produto halal, que hoje alcana mercados no Oriente Mdio, frica e sia, feita h mais de 30 anos por empresas especializadas, como a Cibal Halal e o Centro de Divulgao do Islam para a Amrica Latina (CDIAL). Com equipes prprias para averiguar todo o processo, essas empresas do a garantia ao importador de que a produo foi realizada segundo os preceitos da religio. O Servio de Inspeo Federal (SIF) do Ministrio da Agricultura no atua em certificaes de cunho religioso, como a halal. No entanto, todo estabelecimento, independentemente do tipo de abate realizado, conta com fiscais que examinam as reas dos matadouros e frigorficos e verificam o cumprimento de programas relativos higiene, documentao do estabelecimento e s condies de sade do animal. O mercado halal em todo o mundo estimado em mais de US$ 400 bilhes, com crescimento de 15% ao ano. Dados da Federao das Associaes Muulmanas do Brasil (Fambras) apontam que 33% da produo de frango do Brasil so destinadas ao mercado halal, tendo a Arbia Saudita como o principal comprador. Na carne bovina, o percentual chega a 40%, com destaque para o Egito. No frigorfico Minerva, em Barretos, esse abate foi incorporado rotina diria e realizado em uma rea especfica. Bruno Cunha, diretor de exportaes para o Oriente Mdio do grupo, conta que a produo de 15 mil toneladas por ms de carne bovina e a demanda s aumenta, desde 1993, quando foi iniciado o comrcio com aquela regio. O investimento nas relaes com pases muulmanos to expressivo que o frigorfico mantm escritrios em diversas naes, como Lbano, Arbia Saudita e Arglia. Promovendo o produto nacional Para ampliar esse mercado, a Cmara de Comrcio rabe Brasileira (CCAB) ajuda a promover produtos nacionais em eventos do setor e feiras de alimentos. Em parceria com o Ministrio da Agricultura, a entidade j realizou misses aos Emirados rabes, Arglia e Egito, com destaque para as carnes halal. O secretrio-geral da entidade, Michel Alaby, ressalta que pelo menos metade dos US$ 480 bilhes anuais movimentados pelo mercado halal vm dos pases rabes. Ele v o sistema de abate como vantagem competitiva para as indstrias brasileiras. H grande chance de crescer, mas devemos nos preparar, pois essa uma certificao onerosa que exige tempo e trabalho. Mas as empresas deveriam investir mais, por se tratar de um mercado cativo, ressalta. Malsia, Inglaterra, Estados Unidos, Turquia e Egito so grandes fornecedores de alimentos industrializados halal no mundo. Levantamento da CCAB mostra que os pases rabes importam cerca de US$ 70 bilhes de produtos agroindustriais e que o Brasil supre apenas 10% desse total. Alaby acredita que possvel abocanhar fatias maiores desse mercado, desde que se preste mais ateno importncia da agregao de valor aos produtos. Nesse fluxo, as carnes halal apresentam esse diferencial, na opinio do secretrio da entidade. Abate para judeus Em menor escala no Brasil, mas seguindo princpios semelhantes aos do halal, a certificao kosher (ou kasher) feita especificamente para atender consumidores judeus. O termo se aplica a alimentos preparados de acordo com as normas alimentares da religio judaica, a kashrut. O abate de bois e aves supervisionado por um rabino e, assim como na religio muulmana, denota a conexo entre o homem e Deus por meio da alimentao. De acordo com a doutrina judaica, os alimentos ingeridos so absorvidos por todo o corpo, afetando atributos da personalidade. Para os praticantes da religio, aves de rapina e sunos tm o poder de acentuar a agressividade e esto proibidos pela Tor, o livro sagrado dos judeus. A degola tambm a base do abate kosher, realizado com instrumento especfico para o corte das artrias cartidas e veias jugulares. O ritual leva o nome de schechit e os sacerdotes responsveis so chamados de shocatim, como explica Albert Cohen, rabino da Congregao e Beneficncia Sefardi Paulista. A sade do corpo e da alma, tanto do animal, quanto de quem vai consumir a carne, importante para um povo com mais de trinta sculos de tradies. O sistema vem das origens do povo de Israel e visa a diminuir ao mximo o sofrimento do animal, afirma. Cohen conta ainda que a lei judaica probe o abate na presena de outros animais para evitar que presenciem a aflio da espcie. A ingesto do sangue tambm no bem vista pela religio. Aps a morte do animal, a carne salgada com o propsito de absorver todo o lquido, conserv-la e proteg-la de micrbios. Segundo Albert Cohen, a carne kosher de boi ou frango produzida no Brasil embarcada basicamente para os israelenses. Dependendo da poca, h vrios frigorficos trabalhando para exportar a Israel. Ele cita o caso de uma planta em Jos Bonifcio (SP), que abate, por ms, 10 mil bois destinados quele mercado. Para atender a comunidade judaica brasileira, o volume de dois mil animais mensais. Fonte: MAPA. Por Eline Santos. 17 de janeiro de 2011.
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