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Plano chinês para laranja preocupa os americanos


Quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 - 09h54

Para o professor Zhifeng Gao, que lidera o projeto na Universidade da Flórida, o Brasil também deveria prestar bastante atenção ao que ocorre na China. “No longo prazo, o projeto chinês pode afetar o mercado mundial de citros e também o Brasil”, disse ele ao Valor. Com as produções concentradas nos Estados de São Paulo e da Flórida, respectivamente, Brasil e EUA lideram as exportações globais de suco de laranja há décadas. A China lançou em 2002 um grande projeto de Estado para desenvolver a produção de cítricos. A meta é cultivar 2 milhões de hectares de citros até 2015, uma área dez vezes maior que a da Flórida, e produzir 30 milhões de toneladas, mais do que a oferta combinada de São Paulo e Flórida, segundo Gao. “O principal objetivo é aumentar a renda dos agricultores e promover o desenvolvimento econômico regional.” O interior da China é bem mais pobre do que a região próxima ao litoral, onde ficam alguns dos mais importantes centros industriais do país. Para conter a migração do campo para as cidades, o governo chinês vem adotando nos últimos anos uma série de medidas para desenvolver as áreas mais pobres do país. Dentro desse pacote, foram definidos 15 produtos agrícolas prioritários, entre eles os citros. A Flórida despertou para o perigo do avanço chinês em meados do ano passado, quando um executivo do Departamento de Citros da Flórida, Bob Norberg, visitou o país para participar de um congresso. “Um dos palestrantes levantou os dois braços e disse: ‘A China vai dominar o mercado de citros em cinco anos’”, relatou Norberg há algumas semanas, na reunião da comissão em que foi aprovada uma verba de US$174 mil para custear os estudos da Universidade da Flórida, que levarão dois anos. “Disse para mim mesmo: isso não será nada bom.” Na primeira fase do projeto chinês, entre os anos de 2002 e 2007, a área plantada de frutas cítricas aumentou 38% no país, e a produção, 72%, graças ao apoio dos governos nacional e locais, por meio de financiamentos e assistência técnica. “A qualidade das frutas melhorou significativamente”, disse Gao. A China tem quatro grandes áreas produtoras de citros, e o suco de laranja é o ponto forte em apenas uma delas. Em geral, os chineses preferem consumir a fruta fresca, e o país tem conseguido algum sucesso em abrir mercados na Europa para o pomelo. No suco de laranja, a produção aumentou 900% de 2002 a 2007, mas a China responde por apenas 0,7% da produção mundial do produto, conforme os dados coletados por Gao. Embora a China hoje seja apenas um traço no mercado internacional de suco de laranja, os receios são de que o país se transforme em uma potência, seguindo os passos do Brasil a partir da década de 60. Foi quando o país começou a formar, praticamente do zero, uma forte indústria no segmento depois que uma geada na Flórida abriu uma imensa oportunidade de mercado. Hoje o Brasil é o principal produtor do mundo, respondendo por cerca de 55% do mercado global, com exportações sobretudo para a Europa. A Flórida domina cerca de 30% do mercado global, com a produção dirigida basicamente para o próprio mercado americano, graças a barreiras tarifárias protecionistas que impedem a entrada do produto brasileiro, que é mais competitivo. “Um exemplo do potencial chinês é o que eles fizeram na produção de maçãs”, afirmou Norberg na audiência da comissão de citros. “Em cinco anos, o país saiu de quase nada para uma grande fatia do mercado mundial de suco de maçã, respondendo por 75% das exportações mundiais.” Além da produção, o consumo é uma variável-chave para determinar o papel da China no mercado de suco de laranja no futuro. O consumo per capita do produto aumentou 361% na China entre 2000 e 2009, enquanto nos Estados Unidos caiu 26% no mesmo período, em boa parte devido à concorrência de outras bebidas. Os chineses ainda consomem relativamente pouco suco de laranja, com uma média de 0,22 litro por ano, e há bastante terreno para avançar, considerando-se que os americanos consomem 61,2 mais vezes que isso. Fonte: Valor Econômico. Por Alex Ribeiro. 18 de janeiro de 2011.
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