Em um trabalho que levou quase dois anos, o Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão ligado à Secretaria de Agricultura de São Paulo, levantou os custos de produção de fornecedores de cana-de-açúcar de todas as regiões de São Paulo, desde as mais tradicionais, como Ribeirão Preto e Piracicaba, até as mais novas em cana, como Catanduva e Jaú. O trabalho, considerado o mais abrangente já feito nessa área, verificou que as diferenças entre os custos chegam a até 41%, variando de R$32,08 por tonelada a R$45,42.
Mais do que um ineditismo geográfico, o trabalho conseguiu incorporar os diversos sistemas de produção que se multiplicaram nos últimos anos como reação a uma demanda contraditória no setor: aliar o aumento das exigências ambientais e trabalhistas com a necessidade de reduzir custos, diz a pesquisadora do IEA, Marli Dias Mascarenhas de Oliveira.
No estudo, um calhamaço de mais de 90 páginas, foram encontrados nada menos do que sete formatos de produção diferentes, que contemplam os já tradicionais, nos quais o fornecedor planta a cana e a usina colhe, e os mais inovadores, como o de compartilhamento de máquinas e mão de obra. A pesquisa calculou custos de fornecedores em todas as seis principais regiões produtoras de cana-de-açúcar do Estado: Araçatuba, Assis, Catanduva, Jaú, Piracicaba e Ribeirão Preto.
No centro da questão “custo” estão a colheita e o transporte, também conhecidos como CCT (corte, carregamento e transporte). São esses itens que pesam no bolso do produtor e chegam a responder por mais de 50% do custo total da gramínea. Mas o IEA botou tudo na ponta do lápis e chegou à conclusão de que essa participação do CCT também varia bastante e fica entre 52,8% e 66% dependendo da região e do sistema de produção adotado.
Entre as combinações mais competitivas está a de colheita feita pelos produtores, mas no sistema de condomínio, diz Marli. Por meio deles, os fornecedores compram máquinas e equipamentos para colher e organizam a logística para atender à área de todos os fornecedores-condôminos.
Na região de Jaú, por exemplo, a colheita mecânica feita nesse regime resultou em um custo total de produção de cana de R$32,75. Na mesma localidade, o valor sobe para R$39,30 se o serviço de colheita for prestado pela usina.
Esse tipo de organização, explica Marli, está mais presente nas regiões novas em cana, como Jaú e Catanduva. Nelas, a relação entre usina e fornecedor é mais recente, por isso, o comportamento é diferente, afirma a pesquisadora.
Outra questão que fomentou nessa região a expansão dos condomínios foi a pouca concorrência entre usinas. Com menos indústrias para disputar a cana, os valores cobrados por serviços, como colheita mecanizada, subiram, explica Kátia Nachiluk, também autora da pesquisa.
De acordo com o estudo, em Jaú, o custo da cana ao produtor sobe para R$39,30 com colheita mecânica feita pela usina e para R$40,01 quando esta presta serviço de colheita manual. Ambos os sistemas estão entre os valores mais altos encontrados no Estado.
Já em Ribeirão Preto, quando a colheita com máquinas é feita pela usina, o custo do fornecedor por tonelada é de R$34,76, quase R$5 menos do que na mesma modalidade em Jaú. Além da relação usina-fornecedor ser mais tradicional em Ribeirão, essa diferença de preço se deve, segundo Katia, ao fato de na região haver uma concentração maior de usinas que “disputam” o fornecedor de cana, o que gera vantagens ao produtor.
Outros sistemas alternativos apresentam crescimento, como a terceirização da colheita com a contratação de empresas especializadas. Em Araçatuba, o custo total da cana nessa modalidade foi também um dos mais baixos - R$32,08 por tonelada. O estudo do IEA estará disponível no site do instituto no dia 31 de janeiro.
Fonte: Valor Econômico. Por Fabiana Batista. 26 de janeiro de 2011.