A nova onda de alta de preços das commodities agrícolas deflagrada em meados de 2010 a partir de adversidades climáticas no Hemisfério Norte animou os agricultores a adquirir ou trocar suas colheitadeiras, o que ampliou as vendas em 19% no ano passado.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram comercializadas 4.543 unidades, ante 3.817 no ano anterior. É verdade que as vendas de 2009 foram afetadas pelos reflexos da crise financeira global, mas mesmo em relação às vendas de 2008, quando commodities como soja, milho e trigo romperam máximas históricas, houve incremento, de 2%.
“No primeiro semestre de 2010 as coisas estavam normais, mas com a disparada dos preços e o avanço do plantio de grãos [a partir de setembro], mesmo atrasado, a procura por colheitadeiras aumentou”, diz Cesar di Luca, diretor comercial da Case IH, que fechou 2010 com participação de 14% no segmento. Não por acaso dezembro concentrou 14% das vendas de colheitadeiras no ano passado, maior fatia em um único mês.
Em seu relatório mais recente, a Conab estimou que 48 milhões de hectares de grãos foram cultivados 2010/11, quando a colheita deverá atingir 149,4 milhões de toneladas. Consultorias privadas já apontam para uma safra próxima a 155 milhões de toneladas.
Na esteira das vendas, o tamanho das novas colheitadeiras, que já contam com ar condicionado, GPS, rádio e - em alguns casos - até piloto automático, também tem aumentado. As montadoras estimam que o tamanho médio das plataformas (parte da frente) das máquinas esteja em 25 pés (1 pé equivale a 0,3048 metro). Para as empresas, a média deverá subir mais, em virtude da tendência de aumento dos equipamentos adaptados ao Cerrado, onde os modelos já variam de 30 a 40 pés, sendo o este último o maior disponível.
“Há alguns anos a média nacional era de 21 pés. Mesmo na região Sul, onde o tamanho das propriedades é menor, percebemos um aumento do tamanho médio das plataformas” afirma Carlito Eckert, diretor comercial da Massey Ferguson. A marca, que pertence ao grupo AGCO, terminou o ano passado com uma fatia de 13% do mercado doméstico de colheitadeiras.
Já esperando um aumento da demanda, a AGCO anunciou em outubro do ano passado o investimento de R$ 25 milhões na unidade de Santa Rosa (RS) para expandir sua capacidade de produção de colheitadeiras. “Na América do Sul, o Brasil é a economia de maior sucesso e que oferece boas condições para as indústrias, com políticas consistentes”, afirmou ao Valor, na ocasião, Martin H. Richenhagen, presidente global da AGCO.
A evolução do tamanho das máquinas usadas na colheita das safras passa necessariamente pelo aumento da produtividade. Além disso, os efeitos climáticos estão deixando as janelas de plantio de colheita cada vez menores, o que aumenta a necessidade de máquinas maiores para colher áreas maiores e em menos tempo. As empresas, que entram em consenso sobre esse assunto, estimam que 70% das perdas que ocorrem nas lavouras acontecem no corte e na captação dos grãos.
“A tendência das máquinas maiores é uma realidade e isso vem ganhando força conforme aumenta o peso da safrinha de grãos no país”, afirma Paulo Herrmann, diretor de vendas para América Latina da John Deere, empresa líder do mercado brasileiro de colheitadeiras em 2010, com participação de 35%.
Na disputa pela liderança do segmento, com fatia de 33%, e prevendo uma evolução tecnológica para os próximos anos, a New Holland, do grupo CNH, tem planos ambiciosos. Segundo o diretor comercial Luis Feijó, já há condições para dobrar a produção. "Existe uma tendência de o produtor continuar investindo em suas máquinas em 2011, mesmo porque o ambiente é bastante favorável", diz.
É no que também aposta a Valtra, última das grandes marcas a entrar no mercado de colheitadeiras, em 2007. Há quase três anos nesse segmento, essa outra divisão da AGCO possui 5% de participação e quer chegar a 10% ainda em 2011. “Temos 15 concessionárias que trabalham com colheitadeiras e a nossa meta é elevar esse número para 30 neste ano e passar a cobrir as regiões do oeste baiano e Goiás”, afirma Paulo Beraldi, diretor comercial da divisão.
Fonte: Valor Econômico. Por Alexandre Inácio. 8 de fevereiro de 2011.