Uma instituição universitária do interior do Rio Grande do Sul estava elaborando um projeto para a implantação de uma faculdade de Medicina Veterinária.
Com esse propósito fui convidado a visitar cinco faculdades, a fim de juntar subsídios estruturais e metodológicos para completar o projeto. Confesso que foi uma experiência interessante, mas não posso negar, também frustrante sob alguns aspectos.
Sou formado há quarenta anos e constatei que nesse período a metodologia de ensino evoluiu muito pouco. Durante o desenvolvimento do curso, os estudantes gastam aproximadamente 90% do tempo encerrados nas tradicionais salas de aula e em laboratórios.
Poucas são as atividades realizadas no campo junto a produtores rurais onde, no futuro, boa parte dos novos profissionais deverá atuar.
Ocorre que a proliferação desmesurada de novas faculdades, implantadas por universidades privadas, está gerando uma acirrada competição entre elas.
Na região onde vivo (Noroeste do Rio Grande do Sul), num raio de 200km existem cinco faculdades de veterinária.
Por isso torna-se necessário reduzir custos e, ao mesmo tempo, cobrar mensalidades mais acessíveis aos estudantes, visando conseguir um maior número de candidatos. Mesmo assim sobram vagas.
Dentro desse quadro a qualidade do ensino fica prejudicada.
Os cursos de Medicina Veterinária deveriam estar profundamente integrados com o meio rural da região onde se localizam. É imprescindível uma interação consistente entre a faculdade e os produtores rurais na medida em que, vivenciando a realidade desse ambiente, professores e alunos estariam convivendo com os problemas e dificuldades das empresas rurais.
Isto serviria como um importante subsídio para reavaliar o programa do curso e ajustá-lo às verdadeiras demandas tecnológicas do campo.
Se o objetivo dos cursos de graduação é formar técnicos solucionadores de problemas, desde cedo é importante definir o perfil do profissional a ser formado.
Durante as visitas às faculdades, obviamente, visitei também os respectivos hospitais veterinários.
Em todos, as alas destinadas a grandes animais estavam literalmente vazias, o que em absoluto não me surpreendeu. Já no meu tempo de estudante eu me perguntava sobre a importância desses empreendimentos que exigem elevados investimentos, grandes despesas de manutenção e de utilização mínima.
Hospitais veterinários, por serem absolutamente antieconômicos, só existem em universidades por imposição do MEC e dos Conselhos que regulamentam a profissão. A maioria absoluta dos profissionais egressos dessas faculdades jamais utiliza hospitais nos seus exercícios profissionais.
Por isso penso que trabalhos práticos no ensino de cirurgia e clínica deveriam ser prioritariamente realizados no campo, pois é nesse ambiente que os futuros profissionais atuarão.
Outro fato constatado durante as visitas realizadas é que nessas universidades privadas, praticamente inexistem trabalhos de pesquisa científica. Ou seja, essas faculdades são meras repassadoras de tecnologia. Tudo isso é conseqüência do crescente processo de mercantilização do ensino técnico.