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Scot Consultoria

Ração de confinamento: alto grão ou alto volumoso?


Quinta-feira, 18 de maio de 2006 - 15h45

Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.


A atividade de confinamento no novidade no Brasil, porm ainda h grande discusso sobre qual sistema adotar: imitar os americanos que fazem uso das raes de alto gro ou utilizar dietas com maior participao de volumosos? As vantagens e desvantagens destas duas opes no se restringem apenas simples formulao, como veremos a seguir. Mas, antes, vamos definir o que uma rao de alto gro ou de alto volumoso. No nosso entender, raes de alto gro so aquelas que necessitam de aditivos para manter a sade do rmen, evitando o abaixamento do pH ruminal, o que limitaria o desempenho dos animais. Apesar dessa reduo variar conforme a composio dos ingredientes, podemos dizer que as dietas de alto gro so aquelas que possuem acima de 65% de gros na matria seca da rao. As duas opes O confinamento de bovinos para terminao uma atividade intensiva, pois demanda grande uso de insumos e preconiza ganhos de peso elevados. Desta forma, exige alto grau de controle para que os desempenhos necessrios possam ser atingidos. As raes com alto grau de participao de forragens no atendem de maneira franca esse nvel de controle. As forragens so ingredientes que, invariavelmente, sofrem algum tipo de processo mecnico de transformao na sua produo, para que sejam utilizados em dietas de bovinos confinados, tais como: fenao, pr-secado, ensilagem e forragem in natura. A interferncia destas operaes, ligadas ao ponto de colheita, promove muitas variaes na qualidade final do volumoso, ou seja, quanto maior o nmero de operaes necessrias maior a probabilidade de ocorrncia de erros, o que acarreta alteraes na qualidade do volumoso. Assim, a colheita fora do ponto ideal resulta em reduo do valor nutricional. Por outro lado ingredientes concentrados dificilmente apresentam variaes em sua composio nutricional. Apesar de tambm sofrerem processos mecnicos, estas operaes ocorrem em nvel industrial, tais como extrao de leo (farelos proticos) e secagem (gros de cereais), o que permite melhor padronizao dos produtos. Quantidade de cortes Existem ainda outros fatores que interferem no controle de qualidade do volumoso, tais como o perodo ou nmero de cortes. Algumas forrageiras exigem mais de um corte (capins tropicais) ou um perodo longo de colheita (cana in natura). Ambos levam a uma maior probabilidade de variao na qualidade do produto final. Concentrao de nutrientes Outra desvantagem reside no fato de que volumosos so ingredientes com baixa concentrao de nutrientes, o que exige um consumo de maior quantidade de matria seca desta fonte, para que o desempenho animal desejado seja alcanado. Contudo, o tempo de digesto no rmen, que muito maior para os alimentos volumosos, pode limitar o consumo dirio desses alimentos. Tamanho da partcula O tamanho da partcula do material volumoso tambm muito importante, a fim de no s facilitar a compactao no silo, no caso de silagens, como permitir maior acesso das bactrias ao material fornecido no rmen. Um tamanho reduzido de partcula agiliza o processo de digesto bacteriana, aumentando o fornecimento de protena microbiana, cidos graxos e, por fim, acelerando de forma benfica a passagem do material ingerido pelo rmen, com conseqente aumento do consumo dirio de matria seca. Mistura A mistura da rao tambm sofre interferncia do tamanho das partculas, que, quando excessivo, facilita a seleo por parte dos animais, ocasionando desempenho ineficiente e at mesmo problemas metablicos, por conta de um consumo alto de concentrados, quando os animais no estiverem acostumados ao mesmo ou quando da falta do uso de aditivos especficos. Equipamento Volumosos, quando mal picados, seja por desgaste de maquinrio ou mesmo pelo uso de equipamentos colhedores e picadores de baixa eficincia, exigem vages forrageiros que, alm da distribuio, sejam capazes de promover a mistura homognea dos ingredientes de partculas longas. Alm disso, devem repicar o material fibroso. Esses recursos especficos elevam o custo do maquinrio, quando comparado ao utilizado para raes com alto gro ou com fibras de pequeno tamanho. rea de produo Sistemas de produo que so projetados para utilizao de dietas com alta participao de volumosos exigem reas prprias para produo deste ingrediente, pois devido sua baixa densidade a aquisio externa encarece sobremaneira o custo do frete e, por conseguinte, o custo final do alimento. Evidentemente, a necessidade da produo do volumoso na propriedade est ligada ao maior investimento em maquinrio (tratores, colhedoras e carretas de transbordo de forragem) e menor rea disponvel para produo a pasto (cria, recria ou engorda) quando comparado com sistemas que utilizam raes de alto gro. Adaptao Entretanto, devido s questes de sanidade e eficincia alimentar, um uso mnimo de fibra na dieta dos ruminantes necessrio. Alm disso, para que a dieta com o mximo de concentrado possa ser utilizada necessrio um perodo de adaptao, onde o teor de fibras bem maior (50 a 60% de volumoso na matria seca) que no perodo final (70 a 90% de gros na matria seca). Uso de aditivos Na maioria das vezes, dietas com alta participao de gros exigem o uso de aditivos para manter a sanidade do rmen, o que raramente ocorre com dietas base de volumosos. Padronizao A padronizao da composio nutricional dos ingredientes concentrados permite uma melhor predio do desempenho de ganho de peso, assim como melhor controle do consumo dirio de matria seca. Estas duas caractersticas facilitam o planejamento do fornecimento de alimentos e a programao de abate, de forma mais segura do que quando do uso de dietas ricas em volumoso. Desempenho Dietas com alto gro dependem de desempenhos superiores em ganho de peso (>1,200 kg/cab.dia), para que seu uso seja economicamente vivel. Desta forma, o sucesso deste tipo de empreendimento depende do uso de animais capazes de responder dieta com alto teor de concentrados. Participao nos custos A maior participao no custo final do confinamento representada pelos alimentos, em mdia 80 a 90% do custo da diria. Desta forma, o custo final da dieta de extrema importncia para que os resultados econmicos possam ser positivos. Como ocorrem grandes variaes regionais em nosso pas, fica difcil generalizar qual o melhor tipo de dieta quanto ao custo/benefcio. Disponibilidade de alimento Projetos que obrigatoriamente impe uma maior dependncia em aquisio de alimentos tornam a propriedade mais susceptvel s variaes do mercado de insumos. Como os alimentos comumente adquiridos so gros e seus subprodutos, que so exportados em grande quantidade, alm da grande variao dos preos pode ocorrer tambm falta do produto ao longo da vida do projeto. Portanto, projetos de longo prazo devem de forma estratgica evitar a dependncia da aquisio de alimentos no mercado. Tambm precisam avaliar muito bem as opes e o potencial de oferta dos ingredientes concentrados na regio onde a propriedade est inserida, para ento optar por um projeto baseado em rao de alto gro. J projetos que utilizaro dietas ricas em volumoso devem possuir versatilidade suficiente para que, na ocorrncia de anos de custo baixo de ingredientes concentrados, saber utiliz-los de forma estratgica, diminuindo o custo de produo. Isto pode ser feito diminuindo-se a produo de volumosos (Ex: menor aquisio de adubos, reduo de rea plantada) ou armazenando-os para o ano seguinte, reduzindo a necessidade de sua produo no prximo ano. Final Para resumir, podemos dizer que o uso de dietas com alto gro mais simples, porm mais arriscado do ponto de vista econmico. Enquanto, que o uso de dietas com alto volumoso bem mais tcnico, porm possibilita maior segurana financeira. Por fim, ambas as opes podem ser utilizadas, tanto com sucesso tcnico como econmico, porm cabe avaliao de longo prazo a fim de se observar os riscos e a rentabilidade de cada uma delas.
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