por Eduardo Telles Marques da Silva
INTRODUO
Existem inmeras vantagens em se utilizar o sistema confinado na produo de bovinos de corte. Dentre essas vantagens podemos citar algumas, como a possibilidade de obteno de um melhor controle sobre os custos e o ganho de peso, a retirada de uma gerao do gado das pastagens e a utilizao do potencial de crescimento da forrageira durante as guas para ensilagem, resultando em um material de alta qualidade e baixo custo (Mello, 2000).
Segundo Neill, os custos com alimentao representam de 70 a 80% do custo total do ganho em confinamento. Por isso, devemos aproveitar as disponibilidades regionais de certos alimentos para tentar reduzir os custos de produo (Mello, 2000).
O COCHO
Um bom dimensionamento de cocho fundamental para o sucesso do confinamento, pois assim evitamos que os animais dominantes comam mais ou no permitam que os demais deixem de comer por falta de espao. Dessa forma, o tamanho de cocho deve ser determinado em funo do tipo de dieta que ser fornecida, ou seja, se rao completa (volumoso e concentrado fornecidos em mistura homognea) ou no (volumoso e concentrado fornecidos separadamente). Se a rao no for completa deve-se utilizar de 50 a 70 cm lineares de cocho por animal; se a rao for completa, essa medida pode ser menor (Neto, 1994). Essa diferena por conta das vantagens que a rao completa oferece: controle efetivo da quantidade fornecida, restrio da seleo de alimentos pelos animais e estabilidade da populao microbiana ao longo do dia, devido a menores oscilaes de pH acarretadas pelo fornecimento irregular do concentrado.
Segundo Martin (1987), o cocho para confinamento pode ser de dois tipos:
1. Aquele ao qual os animais tm acesso pelos dois lados, localizado no centro do curral, cuja vantagem um maior nmero de animais podendo se alimentar ao mesmo tempo; ou
2. Aquele ao qual os animais tm acesso rao apenas por um dos lados.
O segundo exemplo possibilita que o fornecimento da rao seja feito externamente ao curral, proporcionando a vantagem da facilidade de manejo, pois evita a entrada de mquinas na rea dos animais. Nos dois casos o cocho deve estar localizado na parte mais alta do curral, a fim de evitarmos o acmulo de gua junto ao mesmo (Brgi, 1991).
Recomendamos a construo de uma faixa de concreto de aproximadamente 2,00 m de largura e 0,07 m de espessura ao longo da linha de cocho, internamente ao piquete, para evitar formao de lama ou eroso na rea de maior acmulo dos animais (Brgi, 1991).
As medidas corretas das diferentes partes do cocho esto indicadas na Tabela 01.
Os cochos de alimentao para bovinos confinados podem ser de diversos materiais, tais como concreto (pr-moldado), tijolos revestidos de cimento liso, madeira ou fibra de vidro, sendo que os dois ltimos geralmente so desmontveis (Peixoto et al., 1987).
Para evitar o trnsito dos animais por cima do cocho, colocamos um cabo de ao (cordoalha) envolto por tubo ou mangueira de plstico resistente que reduz o risco de possveis ferimentos provocados pelo metal ou arame liso, a 0,60 m da borda superior do comedouro. Outros dois arames lisos devem ser instalados acima da cordoalha, com aproximadamente 0,15 m de distncia entre eles (Neto, 1994).
Segundo Neto (1994), a deciso de se construir cobertura para o cocho ou no vai depender das condies climticas da regio. O telhado pode ser dispensado em confinamentos realizados no perodo seco.
PERODO DE ADAPTAO
Animais recm chegados ao sistema de confinamento devem passar inicialmente por um processo de adaptao dieta e ao ambiente. Segundo Loerch et al. (1999), os animais recm confinados tendem a reduzir a ingesto de matria seca (IMS) nas primeiras duas semanas de cocho, por preferirem dietas com umidade e textura similar aos alimentos que estavam acostumados antes de chegar ao confinamento.
As raes fornecidas para bovinos confinados costumam ser ricas em concentrado, pois uma maior densidade na dieta resulta em maior ganho de peso com menor demanda de tempo e espao de cocho. O aumento na quantidade de concentrado na dieta desses animais deve ser feita de forma gradual, evitando assim distrbios digestivos como acidose, timpanismo, abscessos hepticos e laminite. Segundo Owens et al. (1998), acidoses clnicas e subclnicas podem ser causadas pela introduo de amido de rpida fermentao na dieta de bovinos. Com isso, aumenta a disponibilidade de glicose livre, estimulando o crescimento de bactrias no rmen e consequentemente aumentando a produo de cidos graxos volteis (AGV) e diminuindo o pH ruminal.
No incio comum certos animais estranharem o ambiente, refugando o cocho, mas aps o perodo de adaptao essa rejeio pode representar uma reduo no consumo, que pode levar a graves distrbios metablicos e at morte. Assim, o ideal que se reservem boxes com alimentao diferenciada para induzir esses animais a se alimentarem (Dutra, 2001). Em casos extremos, os animais devero ser retirados do confinamento e conduzidos novamente ao pasto.
FREQNCIA DE ALIMENTAO
Bovinos so animais que se adaptam s rotinas do dia-a-dia. Por essa razo faz-se necessrio um bom planejamento da freqncia com que sero alimentados. O nmero de vezes que ser fornecida a rao diariamente aos animais deve ser constante e os horrios desses fornecimentos devem ser fixos. Muitas so as possveis variaes de manejo de alimentao, sendo que a freqncia de arraoamento pode variar de uma a seis vezes por dia.
O aumento na freqncia dos tratos por dia vantajoso, pois, segundo Peixoto et al. (1987), o desempenho dos bovinos aumenta atravs de uma melhor eficincia na utilizao dos nutrientes absorvidos, alm de evitar o desperdcio de alimento, proporcionar aos animais maior conforto por estarem sempre ingerindo quantidades razoveis de rao, possibilitar o fornecimento de alimentos frescos, aliando todos esses fatores economia em mo-de-obra, pois nesse caso no haveria necessidade de utiliz-la na limpeza dos cochos de alimentao.
Oscilaes dirias no consumo dos ruminantes tratados com dietas contendo de mdia a alta quantidade de concentrado, aliado escassez de fibra efetiva, podem afetar negativamente seu desempenho, causando problemas digestivos e comprometendo toda a economicidade da operao (Vasconcelos, 2005). Segundo Pitchard (1998), um simples atraso de 15 minutos poder afetar o desempenho do animal confinado. O quanto ser afetado ir depender da freqncia e extenso da irregularidade.
Antecipar o fornecimento de rao far com que os animais consumam menos do que consumiriam se o trato fosse dado no horrio em que esto acostumados. Isso acarretaria sobras no cocho, o que no bom, pois com o calor e a umidade, fermentaes secundrias (indesejveis) prejudicariam a qualidade dos alimentos, principalmente se o volumoso dessa rao for constitudo por cana-de-acar, bagao hidrolisado ou silagem (Martin, 1987).
Atrasar o fornecimento de rao tambm seria problemtico, pois ocorreria um consumo exagerado, acarretando problemas digestivos (Vasconcelos, 2005).
O ideal fazer com que os animais se acostumem com uma rotina. Segundo Horton (1990), no momento da chegada do veculo tratador, 25% dos animais devem estar alinhados no cocho esperando o trato; 50% deles devem estar em p caminhando em direo ao cocho e 25% do rebanho se levantando. Esse comportamento reflexo de uma alimentao correta, ao contrrio de uma situao em que os animais estejam todos alinhados no cocho aguardando o trato, impacientes e estressados por fome.
Outra atitude a se tomar no intuito de otimizar o manejo e o alimento manter o cocho de alimentao limpo entre uma refeio e outra. Isso pode ser facilmente atingido realizando-se o ajuste do montante de rao que ser oferecido em cada refeio, de modo que a sobra no ultrapasse uma pequena porcentagem da quantidade que foi fornecida (Galyeran, 1999; Schwartzkopf- Genswein and Gibb, 2000).
Contudo, pode-se concluir que o sucesso em um confinamento bovino depende de diversos fatores que, juntos, proporcionam um ambiente confortvel aos animais e funcionrios, alm de possibilitar uma reduo nos custos totais da produo, acelerando o processo de engorda no perodo total de confinamento.
Eduardo Telles Marques da Silva
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