por Fabrícia Basílio Resende
A associação de árvores e pastagem, referida como sistema silvipastoril, tem ganhado cada vez mais popularidade entre os pecuaristas e tem sido foco de pesquisas em relação a sua viabilidade, tanto econômica quanto de uso da área da propriedade, entre outros fatores, com o intuito de diminuir riscos e agregar valores aos produtos agropecuários.
A integração dos componentes pecuário e florestal pode trazer inúmeros benefícios econômicos e ambientais, em comparação com o convencional, entre eles o aumento na taxa de lotação, menos reformas nas pastagens, melhoria da saúde dos animais, controle de erosão do solo, incremento de renda na propriedade, proteção de pastagens contra geada, eficiência do uso da água, conforto térmico dos animais, reciclagem de nutrientes, aumento da biodiversidade da área, entre outros. Pode ser explorado, também, o mercado internacional de créditos para absorção de carbono, o que leva o produtor a ter uma renda extra.
Ponto determinante do sucesso do consórcio está nas interações que envolvem os componentes arbóreos e forrageiros. Deve-se ter como critério de planejamento, a finalidade do componente florestal (serraria, laminação, lenha, palanques de cerca) para implantar a melhor distribuição espacial das árvores e não prejudicar a pastagem, já que esta não poderá se estabelecer sob forte restrição de radiação solar. Para otimizar estas interações que ocorrem simultaneamente, medidas de manejo como a poda e/ou o desbaste de árvores devem ser executadas.
Dependendo do objetivo do produtor, o maior interesse na produção de madeira ou na produção de gado, pode-se implantar diferentes tipos de disposição das árvores na pastagem, como: 1) plantio em linha simples; 2) plantio em linha dupla, que é um arranjo com duas linhas de árvores plantadas bem próximas, em vez de uma só linha; 3) plantio em bosquete, que se trata de pequenos aglomerados de árvores distribuídos na pastagem; 4) plantio disperso na pastagem, no qual as árvores podem ser plantadas em uma distribuição aleatória no pasto, sem espaçamento definido, 5) plantio na cerca 6) condução da regeneração natural que consiste em manter as espécies de árvores que surgem, espontaneamente, na pastagem (EMBRAPA: Documentos 84, 2003).
Em áreas mais planas, deve-se fazer o plantio no sentido leste-oeste, de onde o sol nasce para onde o sol se põe, permitindo passagem ampla de luz, o que facilitará o desenvolvimento de espécies forrageiras nas entrelinhas. Como os bovinos apresentam-se particularmente sensíveis às condições úmidas e quentes, o oferecimento de sombra pode melhorar sua tolerância e produção.
Os excessos de calor e/ou frio aumentam a necessidade de energia para a manutenção da homeotermia, desviando energia que poderia ser utilizada para fins produtivos. Os excessos também podem alterar o comportamento de pastejo e, deste modo, reduzir a ingestão de alimentos. Alguns pesquisadores observaram que o consumo de matéria seca, em bovinos de corte, pode diminuir até 10% quando a temperatura ambiente eleva-se de 25 para 30°C.
Outro efeito decorrente da arborização de pastagens é a diminuição do ataque de cigarrinha nos capins. Tendo em vista que para que haja eclosão dos ovos deste inseto é necessário ter umidade e temperatura altas no solo, e na sombra o solo não esquenta significativamente. O bom nível de matéria orgânica embaixo da árvore cria um ambiente favorável para a proliferação de seu inimigo natural, o fungo
Metharhizium anisopliae.
Diferentes combinações podem ser estabelecidas em função das espécies arbóreas e das espécies que constituirão o sub-bosque. Em estudos realizados, em Dionísio/MG, foram avaliadas a interação de
Eucalyptus urophylla e capim-colonião. Verificaram através destes trabalhos que não houve compactação do solo, ocorreu diminuição do custo de manutenção florestal e redução do número de formigueiros na área. Na mesma região, estudaram a combinação de seis tratamentos envolvendo bovinos e ovinos, pastejando em sub-bosque formado por 53% de capim-colonião sob plantação de
Eucalyptus citriodora, com seis meses de idade conforme descriminado na tabela 1. Os ganhos de peso diário dos animais após 12 meses de pastejo variaram de 0,4 a 0,5 kg/cabeça, os custos iniciais de implantação do eucalipto diminuíram de 52 a 93% e a sobrevivência e o crescimento do eucalipto não foram afetados em relação à testemunha onde os tratos culturais convencionais eram realizados.
Com a finalidade de diminuir os custos de implantação de um sistema silvipastoril pode-se, após o plantio das árvores, realizar o plantio de culturas anuais e, posteriormente, o plantio de forrageiras. Parte das receitas obtidas com as lavouras é utilizada para custear a recuperação ou a reforma das pastagens, com a introdução de árvores no sistema. Na área da pastagem degradada, cultivam-se grãos ou fibras por um ou mais anos, período em que as árvores se estabelecem aproveitando o ambiente agrícola favorável ao seu crescimento. Depois, volta-se com a pastagem, aproveitando os nutrientes residuais das lavouras na produção de forragem.
Outro tipo de integração é de seringueira e forragem, mas para o pequeno produtor rural possa ter uma lucratividade mínima garantida. Segundo dados observados, com uma produtividade de até 1.300 quilos de borracha seca por hectare/ano, existe a possibilidade de se obter uma lucratividade bruta de até R$2.600,00/ano. Segundo Porfírio-da-Silva (2006), o sucesso da disseminação e implantação de sistemas silvipastoris, no entanto, depende de uma serie de fatores, entre eles: tecnologia apropriada, disponibilidade de mudas de boa qualidade física e genética; disseminação da informação e assistência técnica na implantação e condução dos sistemas, em que a articulação dos sistemas de pesquisa e extensão rural é essencial; linhas de crédito e políticas públicas para alavancar boas práticas e a mudança do uso das terras de pastagens no país.
Autora: Fabrícia Basílio Resende
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA.
Sugestões para implantação de sistemas silvipastoris. EMBRAPA: Documentos 84, Rio Branco – Acre, p.1-29, 2003
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PORFÍRIO-DA-SILVA, V. Sistema silvipastoril para a produção de carne. In:
As pastagens e o Meio Ambiente, 2006. Anais do 23º simpósio sobre manejo da pastagem. Piracicaba: FEALQ, 2006. p. 297-327.
SHEGHESE, M. A.;
Sistemas Agroflorestais: sistema de produção agrossilvipastoril. Diversificado, integrado, sustentável e orgânico. Sete Barras-SP, 2006.
Andrea Brasil Vieira José – Engenheira Agrônoma, ESALQ-USP, atua na coordenação de projetos na Boviplan Consultoria.
Fabrícia Basílio Resende – graduanda em Engenharia Agronômica, ESALQ-USP.