por Murilo Assis Pires e Anna Flávia Mooser
A adubação verde consiste na utilização de plantas em rotação ou consórcio com culturas de interesse econômico. Tais plantas podem ser incorporadas ao solo ou roçadas e mantidas na superfície, proporcionando em geral, uma melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo. Segundo De-Polli et al. (1996), o uso de adubos verdes fornece matéria orgânica e nitrogênio ao solo, resgatando nutrientes lixiviados para camadas mais profundas, além de outros benefícios ligados à biota no sistema solo-planta.
O nitrogênio é o nutriente que mais tem sido estudado, com relação ao efeito da adubação verde, nas culturas de interesse econômico. As leguminosas herbáceas constituem algumas das plantas mais utilizadas como adubos verdes, embora espécies de outras famílias botânicas também sejam freqüentemente utilizadas. Devido à capacidade das leguminosas de fixarem nitrogênio atmosférico em associação com bactérias dos gêneros
Rhizobium e
Bradyrhizobium, estas plantas podem substituir os adubos minerais no fornecimento de N para várias culturas de interesse comercial (Smyth et al., 1991). A fixação biológica de nitrogênio é um processo que envolve a redução do N2 atmosférico através da enzima nitrogenase, encontrada em alguns microrganismos de vida livre ou que são capazes de se associar a certas plantas. A associação entre leguminosas e bactérias dos gêneros
Rhizobium e
Bradyrhizobium, apresenta-se como uma das formas mais eficientes de acrescentar nitrogênio ao solo. A quantidade de nitrogênio fixado por leguminosas varia em função das espécies utilizadas e das condições de clima e de solo, sendo que em alguns casos, pode chegar até 600 kg de N/ha.ano (Miyasaka et al.,1984; Calegari et al.,1992; Urquiaga & Zapata, 2000).
Além desse acréscimo de N no solo, outra característica importante da adubação verde é permitir o aporte de quantidades expressivas de fitomassa, possibilitando uma elevação no teor de matéria orgânica ao longo dos anos. Como conseqüência, obtém-se um aumento da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo, o que traz maior retenção de nutrientes junto às suas partículas, reduzindo perdas por lixiviação (Kiehl, 1985). Lopes (1994) destaca os seguintes benefícios relacionados à incorporação de matéria orgânica: elevação da capacidade de troca de cátions (CTC); retenção de água; redução dos efeitos fitotóxicos de agroquímicos; melhoria da estrutura do solo; e favorecimento do controle biológico pelo incremento da população microbiana antagonista.
Outro efeito benéfico desta prática, nas características químicas do solo, diz respeito à reciclagem de nutrientes (Costa, 1993). Quando se utilizam plantas que expandem seu sistema radicular para horizontes profundos do solo, como adubos verdes, elas absorvem nutrientes das camadas subsuperficiais do solo. A partir daí, após o corte dessas plantas, ocorre então a liberação gradual dos nutrientes para a camada superficial, através da decomposição dos resíduos, tornando-os disponíveis para culturas subseqüentes. A decomposição do material vegetal adicionado ao solo é um processo biológico que se encontra relacionado a diversos fatores como composição química dos resíduos vegetais, temperatura, umidade, pH e teor de nutrientes do solo (Lynch, 1986). A época de corte das leguminosas também influencia a decomposição dos resíduos adicionados ao solo.
Por ocasião da floração, estas plantas apresentam o máximo acúmulo de N nos tecidos e na medida em que vão sendo formados flores e frutos, ocorre um aumento da relação C/N (carbono/nitrogênio). Desta forma, recomenda-se fazer o corte das leguminosas durante a floração quando o objetivo é fornecer nutrientes para outras culturas.
Na escolha de leguminosas que serão utilizadas como adubos verdes, deve-se levar em consideração algumas características destas plantas e diferentes critérios podem ser empregados na seleção de leguminosas para adubação verde: a tolerância à seca e às geadas; apresentarem rápido crescimento inicial e eficiente cobertura do solo; produzirem elevadas quantidades de massa verde e massa seca; apresentarem elevados teores de N na fitomassa; promoverem reciclagem de nutrientes como P, K, Ca e Mg; serem pouco suscetíveis e não serem hospedeiras de pragas e doenças e apresentarem sistema radicular bem desenvolvido.
Cada espécie vegetal apresenta determinadas exigências em relação à fertilidade do solo e ao clima. Diferentes espécies de leguminosas podem ser listadas de acordo com seu comportamento em vários ambientes, como descrito no quadro 1.
No quadro 2, observa-se, após 70 dias de plantio, a quantidade de MS obtida com a utilização de algumas leguminosas.
Como a adubação verde consiste numa prática capaz de manter a fertilidade do solo, sua prática colabora, portanto, para o aumento da produtividade agrícola. No entanto, não se deve esperar respostas imediatas uma vez que os benefícios oriundos da adição de matéria orgânica ao solo são mais significativos a médio e longo prazo. Essa técnica deve ser avaliada, ainda, em função das vantagens relacionadas à fixação biológica de nitrogênio, proteção e melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo.
Outro fator importante a ser considerado, pelos agricultores, relaciona-se à diversificação de espécies utilizadas como adubos verdes, isto porque a utilização de uma única espécie vegetal pode trazer os mesmos inconvenientes da monocultura, principalmente, no que diz respeito ao aparecimento de pragas e doenças.
Referências bibliográficas
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Murilo Assis Pires é graduando em medicina veterinária na UFG
Anna Flávia Mooser é graduanda em engenharia agronômica na FAEF
Andrea Brasil Vieira José – Engenheira Agrônoma, ESALQ-USP, Coordenadora de projetos, Boviplan Consultoria.
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