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Scot Consultoria

Uso da uréia na suplementação de ruminantes


Terça-feira, 18 de novembro de 2008 - 13h22

Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.


por Diego Augusto Ribeiro e Anna Flávia Mooser Suplementar significa acrescentar alguma coisa, preencher deficiências, compensar. Assim, suplementação de bovinos consiste em fornecer algo mais na alimentação, além do volumoso que já é fornecido. Este algo mais consiste principalmente nutrientes como minerais, vitaminas, proteínas, energia, etc, que são fornecidos através da suplementação, com o objetivo principal de complementar o atendimento às necessidades diárias, visando maiores desempenhos zootécnicos e a manutenção da saúde dos animais (ASBRAM, 2003). No Brasil, várias regiões possuem duas estações do ano bem definidas, uma chuvosa com condições propícias para o desenvolvimento de forrageiras e o período das secas em que fatores como falta de água, temperatura e luminosidade inadequadas são responsáveis pela diminuição da digestibilidade e, principalmente, pela diminuição do teor de proteína das forragens, porém conservando certa porcentagem de energia. A estação da seca torna-se, portanto, uma grande preocupação para a exploração pecuária, tendo efeito sobre a quantidade e a qualidade das forragens, que dependem de soluções variadas conforme as particularidades de cada propriedade. Para contornar os efeitos da seca, existem várias alternativas como a utilização de forragens conservadas (silagem e feno), suplementação energética e protéica, e utilização de resíduos industriais. Com o objetivo de reduzir os custos da alimentação, a uréia tem sido muito utilizada como fonte de nitrogênio não protéico (NNP) em substituição a outras fontes de proteína verdadeira, como farelo de algodão, farelo de soja, levedura seca, caroço de algodão, etc. No quadro 01, observa-se a comparação de custo entre a uréia e o farelo de soja fornecendo a mesma quantidade de proteína. A uréia é uma substância química (CO(NH2)2 ou CH4N2O) que se encontra no estado sólido, sendo solúvel em água, benzina e álcool. Para entender como a uréia é aproveitada pelos ruminantes, atendendo às suas exigências de proteína, é preciso entender o processo de digestão ruminal, onde microrganismos presentes no rúmen têm a capacidade de transformar o nitrogênio da dieta, em proteína passível de ser utilizada pelo animal. A ocorrência desta transformação depende da quantidade e do nível de degradação da energia fornecida ao animal e da capacidade de crescimento da população de microrganismos, sendo que o limite do crescimento microbiano é dependente da ingestão de energia. Após a ingestão, a uréia alcança o rúmen e aí é hidrolisada pela enzima urease proveniente dos microrganismos, produzindo amônia e dióxido de carbono. A amônia então será usada pelos microrganismos para a produção sua própria proteína, conhecida como proteína microbiana (PM). Com o decorrer do processo digestivo, todo o alimento ingerido, junto com os microrganismos e seus produtos, continua avançando pelo trato digestivo até chegar ao abomaso, onde ocorre a destruição dos microrganismos e então seu conteúdo é liberado, a PM é quebrada em aminoácidos que são absorvidos pelo intestino e transformados em proteína. O metabolismo animal produz ainda a uréia endógena que é sintetizada pelo fígado. Neste processo, a amônia proveniente da degradação da proteína ou da uréia ingerida é absorvida pela parede do rúmen e chega ao fígado pela veia porta e, neste órgão, a amônia é convertida em uréia. Parte desta uréia volta ao rúmen, parte vai para a saliva e, ainda, parte é excretada pela urina. Processo este, conhecido como "ciclo da uréia". Existem diversas formas de uso da uréia na suplementação de ruminantes, e as principais são através da mistura da uréia com concentrados (em substituição ao farelo de soja ou outro composto protéico), com volumosos de baixo valor protéico (bagaço de cana, palhadas de culturas, etc.), como aditivo para silagens (a uréia é aplicada no momento da ensilagem), com melaço, com cana-de-açúcar (que é picada é fornecida aos animais logo em seguida), entre outras. A uréia em mistura ao sal mineral: Esta mistura é normalmente utilizada nos períodos de seca, principalmente, por dois motivos: a uréia é uma opção de baixo custo para fornecimento de NNP ao animal e pode ser misturado ao sal com facilidade. Segundo HADDAD (1984), o sal (NaCl) atua como palatabilizante na mistura, veículo para o consumo da uréia e também como agente de restrição do consumo da mistura, evitando a ingestão excessiva do NNP. Os minerais (cálcio, fósforo, magnésio, enxofre e microelementos) complementariam o sistema, agindo na nutrição, flora e fauna microbiana do rúmen. A uréia adicionada ao sal mineral é responsável por manter o peso dos animais nos períodos mais secos do ano, porém o uso desta mistura é mais efetivo quanto menor for a exigência do animal e melhor for a qualidade da forragem (HADDAD, 1984). Nessa mistura, o fósforo e o enxofre são elementos importantes para o melhor aproveitamento da uréia, pois o fósforo é essencial ao metabolismo energético da população microbiana e o enxofre participa da constituição de vários aminoácidos indispensáveis ao metabolismo de formação das proteínas. Existem, no mercado, várias misturas minerais com uréia pronta para uso, mas a mistura do sal mineral com a uréia pode ser feita na própria fazenda. O manejo do sistema sal mineral + uréia deve ser feito adequadamente, realizando-se os seguintes procedimentos: - Fazer a adaptação dos animais à mistura sal + uréia (1ª semana: 10% de uréia na mistura, 2ª semana: 20%, 3ª semana em diante: 30%); - Não interromper o fornecimento de uréia, pois em 2 a 3 dias os animais perdem a adaptação; - No caso de alguma interrupção, fazer a adaptação dos animais novamente; - A mistura uréia/sal mineral deve ser bem homogênea; - Os cochos devem ser cobertos, ligeiramente inclinados e com furos para evitar acúmulo de água; - Não fornecer a mistura a animais em jejum, famintos ou cansados e - Ter sempre água disponível para os animais. Cuidados com o uso da suplementação com uréia: Segundo BOIN (1984), a quantidade de uréia necessária para provocar intoxicação aguda depende de vários fatores, principalmente velocidade de ingestão, pH do rúmen (varia com o tipo e fonte de carboidrato) e adaptação do animal. Geralmente níveis de 0,45 a 0,50 g de uréia /kg PV, ingerida em um pequeno espaço de tempo, provocam intoxicação aguda em animais não adaptados. Animais expostos previamente a quantidades não tóxicas de uréia são capazes de tolerar níveis 2 a 3 vezes maiores sem apresentar sintomas de intoxicação. Como uréia hidrolisa-se, no rúmen, sob ação da urease, transformando-se em gás carbônico e amônia, se o animal ingerir grande quantidade de uréia em um curto espaço de tempo, produz grande quantidade de amônia que não é totalmente aproveitada pela população microbiana. Segundo BOIN (1984), a tolerância à amônia varia de órgão para órgão, sendo as concentrações toleradas pelo cérebro, muito mais baixas comparadas àquelas toleradas pelos tecidos do sistema porta de circulação ou do lúmen do intestino. Os sintomas de intoxicação por uréia tornam-se aparentes quando o nível de nitrogênio amoniacal, no sangue, chega a 0,84 a 1,3%. Os principais sintomas de intoxicação causados por uréia são: - Respiração difícil; - Desequilíbrio (incoordenação motora); - Nervosismo e inquietação; - Salivação excessiva; -Tremor muscular, tetania, prostração, convulsão e morte. Em caso de urgência, ao perceber alguns dos sintomas, deve-se forçar a ingestão de 20 a 30 litros de água fria, para reduzir a capacidade dos microrganismos em converter uréia em amônia. Os animais também devem ingerir 2 a 6 litros de ácido acético a 5% (vinagre) para reduzir o pH do rúmen, minimizando a absorção de amônia. A uréia, dependendo da concentração, também pode afetar a ingestão de alimentos mesmo em animais aparentemente adaptados, sendo a palatabilidade umas das causas deste efeito depressivo da uréia, na ingestão. Referência Bibliográficas BOIN, C. Efeitos desfavoráveis da utilização da uréia. In: Anais, Simpósio sobre Nutrição de Bovinos. Uréia para Ruminantes, 2., Piracicaba, SP, 1984, FEALQ, 1984. 363p. HADDAD, C.M. Uréia em suplementos alimentares. In: Anais, Simpósio sobre Nutrição de Bovinos. Uréia para Ruminantes, 2., Piracicaba, SP, 1984, FEALQ, 1984. 363p. CORSI, M. Uréia como fertilizante na produção de forragem. In: Anais, Simpósio sobre Nutrição de Bovinos. Uréia para Ruminantes, 2., Piracicaba, SP, 1984, FEALQ, 1984. 363p. LÓPEZ, J. Uréia em rações para a produção de leite. In: Anais, Simpósio sobre Nutrição de Bovinos. Uréia para Ruminantes, 2., Piracicaba, SP, 1984, FEALQ, 1984. 363p. Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais – ASBRAM. Guia Prático para a Correta Suplementação Pecuária. Brasília, 2003. 50p. PETROFÉRTIL. Uréia petrofértil para alimentação de ruminantes. [Rio de Janeiro]: Petrobrás, [199-]. 47 p. GONÇALVEZ, C. C. M.; TEIXEIRA, J. C; SALVADOR, F. M. Uréia na Alimentação de Ruminantes. Boletim Técnico 101. Lavras, [s.d.]. TEIXEIRA, J. C.; DOS SANTOS, R. A. Utilização da Amiréia (Produto da extrusão amido/uréia) na Alimentação Animal. Boletim Técnico 45. Lavras, [s.d.]. Diego Augusto Ribeiro - graduando em Engenharia Agronômica, ESALQ-USP. Anna Flávia Mooser - graduanda em Engenharia Agronômica, FAEF. Andrea Brasil Vieira José - Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria. www.boviplan.com.br
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