por Diego Augusto Ribeiro e Anna Flvia Mooser
Suplementar significa acrescentar alguma coisa, preencher deficincias, compensar. Assim, suplementao de bovinos consiste em fornecer algo mais na alimentao, alm do volumoso que j fornecido. Este algo mais consiste principalmente nutrientes como minerais, vitaminas, protenas, energia, etc, que so fornecidos atravs da suplementao, com o objetivo principal de complementar o atendimento s necessidades dirias, visando maiores desempenhos zootcnicos e a manuteno da sade dos animais (ASBRAM, 2003).
No Brasil, vrias regies possuem duas estaes do ano bem definidas, uma chuvosa com condies propcias para o desenvolvimento de forrageiras e o perodo das secas em que fatores como falta de gua, temperatura e luminosidade inadequadas so responsveis pela diminuio da digestibilidade e, principalmente, pela diminuio do teor de protena das forragens, porm conservando certa porcentagem de energia. A estao da seca torna-se, portanto, uma grande preocupao para a explorao pecuria, tendo efeito sobre a quantidade e a qualidade das forragens, que dependem de solues variadas conforme as particularidades de cada propriedade.
Para contornar os efeitos da seca, existem vrias alternativas como a utilizao de forragens conservadas (silagem e feno), suplementao energtica e protica, e utilizao de resduos industriais. Com o objetivo de reduzir os custos da alimentao, a uria tem sido muito utilizada como fonte de nitrognio no protico (NNP) em substituio a outras fontes de protena verdadeira, como farelo de algodo, farelo de soja, levedura seca, caroo de algodo, etc. No quadro 01, observa-se a comparao de custo entre a uria e o farelo de soja fornecendo a mesma quantidade de protena.
A uria uma substncia qumica (CO(NH
2)
2 ou CH
4N2O) que se encontra no estado slido, sendo solvel em gua, benzina e lcool. Para entender como a uria aproveitada pelos ruminantes, atendendo s suas exigncias de protena, preciso entender o processo de digesto ruminal, onde microrganismos presentes no rmen tm a capacidade de transformar o nitrognio da dieta, em protena passvel de ser utilizada pelo animal. A ocorrncia desta transformao depende da quantidade e do nvel de degradao da energia fornecida ao animal e da capacidade de crescimento da populao de microrganismos, sendo que o limite do crescimento microbiano dependente da ingesto de energia. Aps a ingesto, a uria alcana o rmen e a hidrolisada pela enzima urease proveniente dos microrganismos, produzindo amnia e dixido de carbono. A amnia ento ser usada pelos microrganismos para a produo sua prpria protena, conhecida como protena microbiana (PM). Com o decorrer do processo digestivo, todo o alimento ingerido, junto com os microrganismos e seus produtos, continua avanando pelo trato digestivo at chegar ao abomaso, onde ocorre a destruio dos microrganismos e ento seu contedo liberado, a PM quebrada em aminocidos que so absorvidos pelo intestino e transformados em protena. O metabolismo animal produz ainda a uria endgena que sintetizada pelo fgado. Neste processo, a amnia proveniente da degradao da protena ou da uria ingerida absorvida pela parede do rmen e chega ao fgado pela veia porta e, neste rgo, a amnia convertida em uria. Parte desta uria volta ao rmen, parte vai para a saliva e, ainda, parte excretada pela urina. Processo este, conhecido como "ciclo da uria".
Existem diversas formas de uso da uria na suplementao de ruminantes, e as principais so atravs da mistura da uria com concentrados (em substituio ao farelo de soja ou outro composto protico), com volumosos de baixo valor protico (bagao de cana, palhadas de culturas, etc.), como aditivo para silagens (a uria aplicada no momento da ensilagem), com melao, com cana-de-acar (que picada fornecida aos animais logo em seguida), entre outras.
A uria em mistura ao sal mineral: Esta mistura normalmente utilizada nos perodos de seca, principalmente, por dois motivos: a uria uma opo de baixo custo para fornecimento de NNP ao animal e pode ser misturado ao sal com facilidade. Segundo HADDAD (1984), o sal (NaCl) atua como palatabilizante na mistura, veculo para o consumo da uria e tambm como agente de restrio do consumo da mistura, evitando a ingesto excessiva do NNP. Os minerais (clcio, fsforo, magnsio, enxofre e microelementos) complementariam o sistema, agindo na nutrio, flora e fauna microbiana do rmen. A uria adicionada ao sal mineral responsvel por manter o peso dos animais nos perodos mais secos do ano, porm o uso desta mistura mais efetivo quanto menor for a exigncia do animal e melhor for a qualidade da forragem (HADDAD, 1984). Nessa mistura, o fsforo e o enxofre so elementos importantes para o melhor aproveitamento da uria, pois o fsforo essencial ao metabolismo energtico da populao microbiana e o enxofre participa da constituio de vrios aminocidos indispensveis ao metabolismo de formao das protenas.
Existem, no mercado, vrias misturas minerais com uria pronta para uso, mas a mistura do sal mineral com a uria pode ser feita na prpria fazenda. O manejo do sistema sal mineral + uria deve ser feito adequadamente, realizando-se os seguintes procedimentos:
- Fazer a adaptao dos animais mistura sal + uria (1 semana: 10% de uria na mistura, 2 semana: 20%, 3 semana em diante: 30%); - No interromper o fornecimento de uria, pois em 2 a 3 dias os animais perdem a adaptao; - No caso de alguma interrupo, fazer a adaptao dos animais novamente; - A mistura uria/sal mineral deve ser bem homognea; - Os cochos devem ser cobertos, ligeiramente inclinados e com furos para evitar acmulo de gua; - No fornecer a mistura a animais em jejum, famintos ou cansados e - Ter sempre gua disponvel para os animais.
Cuidados com o uso da suplementao com uria: Segundo BOIN (1984), a quantidade de uria necessria para provocar intoxicao aguda depende de vrios fatores, principalmente velocidade de ingesto, pH do rmen (varia com o tipo e fonte de carboidrato) e adaptao do animal. Geralmente nveis de 0,45 a 0,50 g de uria /kg PV, ingerida em um pequeno espao de tempo, provocam intoxicao aguda em animais no adaptados. Animais expostos previamente a quantidades no txicas de uria so capazes de tolerar nveis 2 a 3 vezes maiores sem apresentar sintomas de intoxicao.
Como uria hidrolisa-se, no rmen, sob ao da urease, transformando-se em gs carbnico e amnia, se o animal ingerir grande quantidade de uria em um curto espao de tempo, produz grande quantidade de amnia que no totalmente aproveitada pela populao microbiana.
Segundo BOIN (1984), a tolerncia amnia varia de rgo para rgo, sendo as concentraes toleradas pelo crebro, muito mais baixas comparadas quelas toleradas pelos tecidos do sistema porta de circulao ou do lmen do intestino. Os sintomas de intoxicao por uria tornam-se aparentes quando o nvel de nitrognio amoniacal, no sangue, chega a 0,84 a 1,3%. Os principais sintomas de intoxicao causados por uria so: - Respirao difcil; - Desequilbrio (incoordenao motora); - Nervosismo e inquietao; - Salivao excessiva; -Tremor muscular, tetania, prostrao, convulso e morte.
Em caso de urgncia, ao perceber alguns dos sintomas, deve-se forar a ingesto de 20 a 30 litros de gua fria, para reduzir a capacidade dos microrganismos em converter uria em amnia. Os animais tambm devem ingerir 2 a 6 litros de cido actico a 5% (vinagre) para reduzir o pH do rmen, minimizando a absoro de amnia. A uria, dependendo da concentrao, tambm pode afetar a ingesto de alimentos mesmo em animais aparentemente adaptados, sendo a palatabilidade umas das causas deste efeito depressivo da uria, na ingesto.
Referncia Bibliogrficas
BOIN, C.
Efeitos desfavorveis da utilizao da uria. In: Anais, Simpsio sobre Nutrio de Bovinos. Uria para Ruminantes, 2., Piracicaba, SP, 1984, FEALQ, 1984. 363p.
HADDAD, C.M.
Uria em suplementos alimentares. In: Anais, Simpsio sobre Nutrio de Bovinos. Uria para Ruminantes, 2., Piracicaba, SP, 1984, FEALQ, 1984. 363p.
CORSI, M.
Uria como fertilizante na produo de forragem. In: Anais, Simpsio sobre Nutrio de Bovinos. Uria para Ruminantes, 2., Piracicaba, SP, 1984, FEALQ, 1984. 363p.
LPEZ, J.
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Associao Brasileira das Indstrias de Suplementos Minerais ASBRAM.
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TEIXEIRA, J. C.; DOS SANTOS, R. A.
Utilizao da Amiria (Produto da extruso amido/uria) na Alimentao Animal. Boletim Tcnico 45. Lavras, [s.d.].
Diego Augusto Ribeiro - graduando em Engenharia Agronmica, ESALQ-USP.
Anna Flvia Mooser - graduanda em Engenharia Agronmica, FAEF.
Andrea Brasil Vieira Jos - Engenheira Agrnoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.
www.boviplan.com.br
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