por Daniel Barros de Barros
A desmama tradicional é realizada quando os bezerros alcançam entre 6 a 8 meses de idade. Neste momento, já possuem pleno desenvolvimento ruminal e a dependência do leite materno é mínima. Entretanto, mesmo com pouca dependência nutricional materna o desempenho dos bezerros depois de desmamados tende a decair consideravelmente. O estresse causado pela mudança no ambiente e, principalmente, a interrupção do vínculo maternal causa sérias perdas produtivas, diminui o ganho de peso e abre espaço para doenças oportunistas que aproveitam a baixa das defesas imunológicas para se instalarem. A seguir serão descritas algumas técnicas que podem minimizar as perdas nesse período, tão crítico, no processo de cria.
Retorno do bezerro ao pasto de origem: A técnica mais simples e tradicional é a separação completa do bezerro da vaca. Entretanto, existem algumas formas para melhorar este sistema como, por exemplo, priorizar o retorno do bezerro ao pasto de origem após o desmame. Por já saberem onde ficam as aguadas, saleiros e sombras, ou seja, por já estarem ambientados com o local o estresse é bem menor. Um complemento desta técnica seria colocar animais adultos junto com os bezerros, que se adaptam mais rapidamente ao novo ambiente, iniciando o processo de pastejo, com isto, os bezerros serão estimulados a fazer o mesmo.
Vacas próximas de suas crias desmamadas: Outra técnica que apresenta bons resultados é a de separação das vacas em piquetes próximos ao dos bezerros, onde exista contato visual entre a vaca e sua cria, porém sem contato direto. Price et al. (2003) procuraram avaliar o efeito desta técnica e os resultados indicaram que até a segunda semana houve uma diferença de ganho de 8 quilos entre os grupos, esta diferença manteve-se até a décima semana de análise. Por haver contato visual, normalmente os animais tendem a se acalmar em poucos dias, minimizando as perdas por caminhadas excessivas, nos piquetes, diminuição no tempo de pastejo e ruminação pelos bezerros.
Para a implementação da técnica citada anteriormente, é necessário pelo menos um corredor entre os piquetes para evitar mamadas por entre o aramado. Portanto, como já é praxe no desmame tradicional, é imprescindível a existência de cercas em boas condições, pois nos primeiros dias os animais ficam rondando as cercas em busca de passagem.
Lotes por sexo: Um sistema de aparte das vacas com crias machos e fêmeas pode ser utilizado. Neste sistema, são mantidos dois lotes praticamente com o mesmo número de animais, sendo bezerros machos de um lote e fêmeas no outro, com suas respectivas mães. No momento da desmama, os bezerros e bezerras são trocados de lote. Assim, não se altera o número total de animais em cada pasto. Os bezerros ficam mais tranquilos com a presença de animais adultos, voltando a se alimentar do pasto normalmente. A dificuldade está em ter que realizar o aparte inicial dos lotes, sem causar estresse nos animais.
Desmama parcelada: Um outro sistema indicado é a separação por etapas, que apesar de sua maior dificuldade operacional e por necessitar de mais de um manejo de apartação, apresenta bons resultados. O objetivo é a retirada de parte das vacas do lote, que pode ser feita em duas ou mais etapas. Este procedimento minimiza o estresse, pois os bezerros desmamados permanecem mais tranquilos com a presença de animais adultos que já pertenciam ao lote original.
Tabuleta: Um método de fácil utilização é o da tabuleta. Geralmente mais utilizado em rebanhos leiteiros, que consiste em não permitir a mamada, pela presença do dispositivo na narina do bezerro que o impede de abocanhar a teta da vaca. Em poucos dias, após uma série de tentativas, o bezerro desiste e a vaca começa a secar o leite. Em algumas semanas pode-se fazer a apartação, e o estresse será reduzido quando comparado a desmama tradicional. Em um experimento conduzido no Canadá (Haley et al., 2005), foi testado o desmame utilizando a tabuleta por 3 a 14 dias e após separação completa, comparado ao desmame tradicional. Os resultados encontrados apontaram para 96,6% menos vocalizações, diminuição de 78,9% no tempo de caminhadas, 23% mais tempo se alimentando e 24,1% superior no tempo de descanso, em comparação a bezerros desmamados convencionalmente. Porém, as taxas de ganho de peso não diferiram em ambos os métodos. No uso da tabuleta, além do custo, existe o inconveniente de ter que manejar os bezerros em duas etapas a mais, na colocação e na retirada da tabuleta.
Medidas gerais: Independentemente do método escolhido, algumas atitudes devem ser sempre seguidas, como evitar o procedimento de outros manejos junto a desmama, principalmente castração, descorna e vacinações. Quando se associam estes procedimentos a desmama, potencializam-se eventuais problemas, como doenças, falhas nas vacinas, perda de peso ou até mesmo, morte por complicações. Após a desmama uma atenção especial deve ser dedicada ao lote, pois os animais ficam muito suscetíveis a verminoses e outras doenças infecciosas oportunistas. Outro fator a ser considerado é que os piquetes devem possuir sombra e boa disponibilidade de sal mineral e água.
Como o produto final do processo de cria é o bezerro, ao final do ciclo, deve-se evitar quaisquer perdas que possam comprometer todo o ciclo produtivo, evidenciando a importância econômica da desmama racional.
Pesquisa: Infelizmente existem poucos ou quase nada de trabalhos científicos sobre o processo de desmama realizados no Brasil, ou seja, em condições brasileiras. A maior parte do que hoje é recomendado neste quesito, se resume a experiências práticas de produtores e profissionais do setor, que apesar de empíricas, demonstram grande potencial. O ideal é que a desmama seja mais estudada, a fim de que a comunidade científica não só respalde as boas experiências, mas principalmente, possa acrescentar novas tecnologias capazes de diminuir o estresse dos animais nesta fase tão importante e, que por consequência, poderá trazer maior produtividade à atividade.
Daniel Barros de Barros - Graduando em Medicina Veterinária/UFPEL.
Rodrigo Paniago - Engenheiro Agrônomo, Consultor da Boviplan.
Referência Bibliográfica:
HALEY, B.; BAILEY, D.W.; STOOKEY, J.M. The effects of weaning beef calves in two stages on their behavior and growth rate.
Journal of Animal Science, 83, p.2205-2214, 2005.
PRICE, E.O.; HARRIS, J.E.; BORGWARDT, R.E.;. SWEEN, M.L.; CONNOR, J.M. Fenceline contact of beef calves with their dams at weaning reduces the negative effects of separation on behavior and growth rate
Journal of Animal Science., 81, p.116-121, 2003.