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Níveis de nitrogênio uréico do leite como ferramenta na nutrição de vacas leiteiras


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Terça-feira, 29 de abril de 2008 - 15h38


Um dos principais fatores a serem considerados no balanceamento de uma dieta para bovinos leiteiros refere-se a sincronização entre a energia, na forma de carboidratos solúveis e de nitrogênio, na forma de proteína verdadeira ou de nitrogênio não protéico, como é o caso da uréia. A utilização de dietas ricas em carboidratos, principalmente de fontes de alta degradabilidade, associadas à degradabilidade das fontes protéicas podem originar uma situação com excesso de energia e deficiência de nitrogênio para a fermentação ruminal, prejudicando o crescimento e a síntese de proteína microbiana no rúmen, causando efeito direto na produção pela diminuição de precursores de síntese de leite na glândula mamária. Por outro lado, se o excesso de proteína de alta degradabilidade ruminal for maior que as necessidades dos microorganismos, ocorrerá excesso de amônia no sangue, fazendo com que o fígado transforme a amônia em uréia, excretando o excesso através das fezes e da urina, tendo um gasto de energia com este processo. Uma alternativa para monitorar este balanço seria o acompanhamento do nitrogênio uréico do leite (NUL), facilitando a determinação do equilíbrio entre energia e proteína. Assim, técnicos e produtores de leite poderão ajustar melhor suas dietas, de acordo com as necessidades das vacas, favorecendo o aumento da produção de leite e, conseqüentemente, promovendo redução significativa dos custos da dieta, em virtude da diminuição do excesso de nitrogênio ou de carboidratos. NITROGÊNIO O metabolismo do nitrogênio, em uma vaca de leite, começa com a difusão de amônia pela parede do rúmen e transporte de aminoácidos e peptídeos pelo intestino delgado. Estes dois processos resultam na absorção de nitrogênio pelo sangue. Os aminoácidos e peptídeos que não são utilizados para a síntese do leite são deaminados pelo fígado para síntese de energia e o nitrogênio convertido em uréia. Esta uréia se torna parte do pool de nitrogênio uréico do sangue. O nitrogênio do sangue poderá seguir três vias: secreção no leite, reciclagem e excreção pela urina. Quando o leite é secretado pela glândula mamária, a uréia difunde para dentro e fora da mesma, equilibrando-se com a concentração no sangue. Por causa dessa troca, o NUL é proporcional à uréia do sangue. Todos os fatores que influenciam os níveis de uréia no sangue também influenciarão nos níveis de uréia no leite. Os níveis de nitrogênio uréico no sangue variam durante o dia, sendo que as concentrações tendem a ser maiores no período entre 4 e 6 horas após a alimentação, e menores, um pouco antes da alimentação. Portanto, a análise da concentração de nitrogênio uréico no sangue tende a ser menos constante, além disso, esta operação é trabalhosa e consome muito tempo. Como a ordenha normalmente é feita 2 ou 3 vezes por dia, uma amostra de leite tende a demonstrar qual o nível médio de nitrogênio uréico circulante neste animal durante o dia, sendo este método mais simples e mais preciso, além de apresentar alta correlação com os níveis de uréia sanguíneos. De maneira geral, o teor de proteína bruta e de proteína degradável na dieta (PB e PDR, % de MS) são os fatores de maior relação com o nitrogênio uréico no leite (NUL). Altas concentrações de NUL são decorrentes de diversos fatores: excesso de proteína degradável no rúmen (PDR), pouca energia, desequilíbrio entre teores de carboidratos e proteína e excesso de proteína não degradável no rúmen (PNDR). Nenhum desses fatores analisados individualmente influencia diretamente, ou seja, sempre há ocorrência de um ou outro fator em conjunto. De forma simplista, altas concentrações de NUL indicam um excesso geral de nitrogênio em relação a um determinado nível de produção de vacas e o contrário, baixas concentrações, indicam falta de nitrogênio. Se compararmos animais do mesmo rebanho, consumindo a mesma dieta, é de se esperar que os níveis de nitrogênio uréico no leite sejam próximos, apesar da ingestão de matéria seca, produção de leite, consumo de água, proteína e energia serem diferenciados. No entanto, as pesquisas têm demonstrado que os níveis encontrados em animais em um mesmo grupo tendem a se enquadrar em uma mesma faixa de variação (produção de leite x concentração de NUL), portanto este nível se torna uma ferramenta no que diz respeito à monitoração do estado nutricional protéico dos animais. Se os valores de nitrogênio uréico no leite (NUL) estão fora desta faixa, sugere-se que exista algum problema na suplementação protéica. Isto quer dizer que a NUL pode ser usada para diagnosticar problemas no sistema de alimentação. Não é possível identificar exatamente qual o problema, mas pode servir como um alerta para que o balanceamento da dieta seja checado. É preciso ter cautela, uma vez que um único animal que apresenta um valor fora da faixa esperada não quer dizer que o mesmo deverá ser mudado de grupo de produção ou alimentação, este método deve ser utilizado como uma ferramenta de monitoramento do grupo e não de animais individualmente. NITROGÊNIO URÉICO X ALIMENTAÇÃO As principais perguntas que se fazem ao falarmos de uréia são: Qual seria uma média ideal para os níveis de nitrogênio uréico no leite de um rebanho? Deveria haver uma variação nas mais diferentes faixas de produção? Existe uma meta a ser atingida ou limites de tolerância dentro de um rebanho? Desvios em relação à faixa normal mostram que existem alguns fatores da alimentação que devem ser analisados, porém, não é simplesmente pelo fato do nível de nitrogênio uréico estar dentro de uma faixa normal, que a alimentação está correta. Motivo pelo qual, somente a análise de NUL não é suficiente para a correção de defeitos na alimentação, mas sim, um acompanhamento técnico da dieta utilizada em cada rebanho, bem como outros fatores como o consumo de água, matéria seca, mistura correta, etc. Considerando estes fatores, os níveis de NUL em animais com uma boa ingestão de matéria seca, geralmente ficam em torno de 10-14mg/dl. Individualmente, em grupo de animais que consomem a mesma dieta, pode-se esperar uma faixa de –6 a +6, isto quer dizer, em um grupo com média 12mg/dl, espera-se que 95% dos animais estejam entre 6 e 18 mg/dl. De acordo com os níveis de nitrogênio uréico, poderemos detectar uma série de fatores, descritos na Tabela 1. Por fim, alguns pontos importantes devem ser respeitados na formulação de dietas para que as exigências de proteína e energia sejam atendidas. O conhecimento dos níveis de produção de leite, o peso corporal dos animais e o estágio de lactação do grupo dos animais, são fatores de extrema importância, para o cálculo das exigências nutricionais. Além disso, é necessário conhecer a composição nutricional dos alimentos utilizados, devido a grande variação de valores nutricionais. O manejo alimentar também deve ser observado, sendo necessário fornecer dietas bem misturadas, diminuindo a seleção de concentrado pelos animais, evitando desta maneira, desbalanços nutricionais da dieta, e também, adequar o espaçamento dos cochos, diminuindo a competição das vacas, favorecendo um consumo homogêneo. Portanto são diversos fatores que devem ser observados para que os níveis de nitrogênio uréico no leite, permaneçam adequados, lembrando sempre que um acompanhamento de um especialista em nutrição animal se faz necessário.
rogério m. coan é zootecnista - doutor em produção animal - diretor da coan consultoria e coordenador da divisão técnica da scot consultoria felipe do amaral gurgel é zootecnista - consultor técnico da coan consultoria.
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