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Scot Consultoria

Perspectivas do comércio agrícola em 2009


Sexta-feira, 19 de dezembro de 2008 - 11h53

Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP, com doutorado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Desde julho de 2003 é Diretor Geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ICONE).


por André M. Nassar O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou em novembro sua última atualização sobre as perspectivas de crescimento da economia mundial para 2009. Os números do último relatório trazem fortes correções para baixo da versão anterior, publicada em outubro, já refletindo melhor percepção sobre os impactos da crise na economia global. O crescimento da economia é uma boa variável para avaliar impactos na demanda mundial por bens e serviços. Menor demanda deverá refletir em queda no comércio mundial. Neste artigo fazemos uma primeira avaliação dos impactos de uma recessão nas economias avançadas e um menor crescimento dos emergentes no comércio mundial de produtos agroindustriais. Cruzando crescimento da economia mundial com comportamento do comércio de produtos agroindustriais, concluímos que a demanda por importações de produtos agrícolas não passará incólume ao menor crescimento econômico em 2009. Dois efeitos sobre o comércio agrícola são esperados: crescimento menor ou até redução na demanda, e redução nos preços, com maior intensidade naqueles produtos que ainda não tiveram seus preços ajustados já em 2008. O exercício apresentado neste texto assume que o crescimento das importações de commodities agrícolas está diretamente relacionado com a magnitude da expansão da economia global, que pode ser medida pela expansão do produto interno bruto (PIB) mundial. As perspectivas de 2009 foram avaliadas para os seguintes produtos: soja em grão, farelo e óleo de soja, açúcar, carnes bovina, de frango e suína, milho e algodão. Com exceção de milho e algodão, embora o Brasil seja também exportador, o País está entre os maiores exportadores mundiais dos demais produtos. Ou seja, as perspectivas de evolução de demanda internacional são importantes para entender se a crise mundial vai prejudicar as exportações brasileiras do setor agroindustrial. Lembrando que as exportações do setor representaram ao redor de 35% de tudo o que o Brasil exportou em 2007. Segundo o relatório do FMI, o mundo poderá crescer 2,2% em 2009. Mas as economias avançadas deverão ter queda de 0,3% em 2009, puxada, sobretudo, por uma recessão de 0,7% nos EUA. Os avançados vinham de 1,4% e 2,6% de crescimento em 2008 e 2007, respectivamente. No caso dos emergentes, o FMI projeta crescimento de 5,1% em 2009, valor menor que os 6,6% esperados para 2008 e os 8,1% observados em 2007. Dos países que são importantes importadores de produtos do agronegócio brasileiro, a China cai de 9,7% em 2008 para 8,5% em 2009, a Rússia, de 6,8% para 3,5% e o Oriente Médio, de 6,1% para 5,3%. Para não passar em branco, o Brasil deverá ter crescimento de 5,2% em 2008 e de 3% em 2009. Vale lembrar que esses números do FMI são considerados otimistas na visão de alguns analistas. É o caso do Banco Mundial, que projeta expansão só de 0,9% para o mundo no seu relatório de dezembro. Dos setores analisados, soja (grão, farelo e óleo), carne de frango e carne suína são os que apresentaram maior dinamismo, tendo seu comércio crescido a taxas muito semelhantes às do PIB mundial. De 2000 a 2008, o PIB mundial acumulou crescimento, medido em dólares a preços correntes, de 113%. As importações dos produtos mencionados cresceram, em volume transacionado, 78%, 67%, 80%, 91% e 100%. Açúcar, carne bovina, milho e algodão foram os menos dinâmicos, com crescimento acumulado de 26%, 24%, 38% e 44%. As exportações agrícolas totais cresceram mais do que a economia mundial: 152%. O forte aumento dos preços das commodities, observado a partir de 2003, potencializou o crescimento do comércio em valor, dado que os volumes também cresceram significativamente. O ano de 2008 já nos dá uma prévia do que vai acontecer com os preços no ano que vem. Depois de meses de alta ininterrupta, de julho a novembro os preços mundiais dos produtos da soja já caíram entre 37% e 46%. Milho, açúcar e algodão já assimilaram quedas de 38%, 15% e 29%, no mesmo período. Os preços médios de exportação de carnes do Brasil, medidos até outubro de 2008, estão, por enquanto, mais bem comportados. Na carne bovina eles ainda não começaram a cair, mas na de frango e suína a trajetória de alta já foi interrompida, com reduções, de setembro para outubro, de 3% e 4%. Isso é só o começo do ajuste de preços nas carnes. Produtos agrícolas são inelásticos a preço, por natureza. Isso significa que a demanda sofre pouco ajuste, para baixo ou para cima, quando os preços sobem e descem. Essa é uma boa notícia quando os preços estão subindo, mas não deixa de ser má quando os preços estão caindo, como assistimos hoje. Relacionando o menor crescimento da economia com a demanda por importações de produtos agrícolas, concluímos que, para 2009, as importações totais de soja e milho deverão cair cerca de 1%. Açúcar e carne bovina crescerão 0,8% e 1%. Óleo e farelo de soja, mais do que compensando a queda na soja em grão, e algodão, crescerão na casa de 1,8%. Frango fica em 1,3% e carne suína bate a casa dos 2% de crescimento. As projeções para 2009 mostram que as importações terão desempenho abaixo da média da década. E mesmo naqueles produtos em que haverá crescimento o ajuste para baixo na demanda por importações não é desprezível. Um crescimento pequeno no comércio não é novidade nos mercados agroindustriais. Nos últimos oito anos todos os produtos tiveram, pelo menos, um ano de crescimento negativo. O Brasil, sendo um país competitivo no setor agroindustrial, pode até ganhar mercado, deslocando competidores. Menor crescimento nas importações, no entanto, significa que a competição será maior, pressionando os preços para baixo e, por tabela, reduzindo a receita de exportação. O ano de 2009 será, portanto, difícil para a agropecuária brasileira. Espera-se que o governo reconheça essa realidade o mais rapidamente possível.
André M. Nassar, engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP, com doutorado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Desde julho de 2003 é Diretor Geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ICONE). As principais áreas de atuação no ICONE são: negociações internacionais multilaterais e extra-regionais; desenho de cenários quantitativos e de projeções de longo prazo de comércio agrícola; política comercial agrícola em países desenvolvidos e em desenvolvimento; contenciosos da Organização Mundial do Comércio.
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