Os avanços da tecnologia de produção animal, com foco nos programas de seleção, têm permitido indiscutível progresso nos índices de produtividade. Ao mesmo tempo suscitam novas discussões.
Tem-se discutido até quando, em situações de ambiente ótimo (sem restrições nutricionais, de adaptabilidade climática, etc.), os ganhos de seleção tendem a ser irrestritos até atingirem o limite biológico de equilíbrio funcional dos animais.
Parte do problema refere-se ou é creditado à ênfase de seleção exclusiva para características produtivas (como peso de venda).
FUNCIONALIDADE
A perda dos atributos funcionais é uma realidade para espécies como aves, suínos e bovinos (de leite) nos países em que o ambiente tem permitido ganhos de seleção acima dos países que encontram maiores limitações de ambiente.
O caso mais próximo e evidente da pecuária de corte refere-se aos rebanhos leiteiros, onde a seleção para o aumento da produção de leite levou, ao longo dos anos, ao desenvolvimento de matrizes de conformação alta e angulosa.
Animais altos e angulosos tendem a mobilizar mais rapidamente suas reservas corporais após o período de lactação (predisposição genética), resultando em balanço energético negativo (perda da condição corporal). O resultado da condição corporal inferior é observado na forma de menores índices de fertilidade e problemas de saúde (com reflexos negativos comprovados na eficiência econômica do processo produtivo).
EQUILÍBRIO ENTRE PRODUÇÃO E FUNCIONALIDADE
Características economicamente relevantes não são apenas aquelas direcionadas exclusivamente a características de produção, mas também incluem características funcionais (tabela 1).
O controle do tamanho adulto pode ser usado como referência para a incorporação de características funcionais na seleção de bovinos de corte.
Uma das principais preocupações hoje se refere ao fato que a seleção direcionada ao aumento do peso dos animais para venda tem igualmente reflexo no aumento do peso médio das matrizes.
A importância do tamanho adulto está relacionada ao custo de manutenção dos animais (matrizes), uma vez que animais mais pesados consomem mais alimento (cerca de 40-50% dos recursos alimentares são destinados à manutenção das fêmeas em reprodução). Contudo, animais de maior tamanho adulto estão relacionados também à menor precocidade (sexual e acabamento) e problemas de fertilidade (certamente que o tamanho ideal depende do ambiente e do mercado).
Ivan B. Formigoni é zootecnista, doutor pela Fzea/USP e colaborador da Scot Consultoria.