Escrevi na edição anterior deste informativo que “cada vez formamos mais acadêmicos e menos extensionistas”. Pois em função desta afirmação fui questionado por alguns leitores sobre o que realmente significa “extensão rural” ou ainda, extensão rural e assistência técnica não significam a mesma coisa? A resposta é não. Vamos clarear o assunto.
EXTENSÃO RURAL X ASSISTÊNCIA TÉCNICA
“Extensão Rural é um processo cooperativo, baseado em princípios educacionais, que tem por finalidade levar, diretamente, aos adultos e jovens do meio rural, ensinamentos sobre a agricultura, pecuária e economia doméstica, visando modificar hábitos e atitudes da família, nos aspectos técnico, econômico e social, possibilitando-lhe maior produção e melhorar a produtividade , elevando-lhe a renda e melhorando seu nível de vida” (definição da ABCAR).
Portanto, antes de tudo, a extensão rural é um processo educacional que visa transferir conhecimentos ou tecnologia para as famílias rurais. Tem um caráter coletivo. Já a assistência técnica tem um caráter mais individual e limita-se a aplicar a tecnologia via técnico. Neste particular o profissional atua como o detentor do saber e não transfere conhecimentos de forma efetiva para o produtor. De um modo geral a assistência técnica visa resolver problemas imediatos ou pontuais e cria uma acentuada dependência do produtor em relação ao técnico. A extensão rural, pelo contrário, ensina o produtor a resolver seus próprios problemas, instrumentalizando-o para otimizar o uso dos recursos disponíveis, tornando-o menos dependente de fatores externos.
Do exposto depreende-se que a assistência técnica, por seu caráter individual, tem um alcance mais restrito no que se refere ao tamanho da população alvo, enquanto que a extensão rural alcança uma população maior em função do seu caráter coletivo e multiplicativo. São características da extensão rural*:
- Extensão é um sistema educacional.
- Baseia-se na realidade rural.
- Trabalha com programas elaborados com a população.
- Trabalha de forma integrada com outras agências ou instituições.
- Estimula e utiliza a liderança e o trabalho em grupo.
- Adota a família como unidade de trabalho.
- Começa o processo educativo ao nível do agricultor.
- Articula-se com a pesquisa.
- Faz constante avaliação do trabalho em execução.
- Atua em consonância com a política de desenvolvimento do País.
- Deve ser um sistema apolítico.
PENSAMENTO CARTESIANO
A afirmação, de que “cada vez formamos mais acadêmicos e menos extensionistas”, está fundamentada no fato de que o método pedagógico utilizado pelas nossas universidades e particularmente pelas faculdades de ciências agrárias, ainda está fortemente vinculado com o paradigma conservador que é influenciado pelo pensamento newtoniano-cartesiano, que propõe a fragmentação de todas as áreas do conhecimento. A título de ilustração, sirvo-me da opinião de Marilda Aparecida Behrens (Cenário Rural, 2005,p 46).
“A forte influência do pensamento cartesiano, fragmentou o saber, repartindo o todo, dividindo as atividades em tarefas estanques, subdividindo as tarefas em atos isolados. Esse processo burocrático restringiu a ciência a um campo específico, e cada atividade profissional em uma especialidade. Neste contexto promoveu a perda da consciência global, provocando assim, o afastamento da realidade em toda a sua plenitude.”
No momento em que o setor primário brasileiro está necessitando de uma urgente reengenharia para ajustar-se aos enormes desafios que tem pela frente, como competir com sistemas agropecuários fortemente protegidos por subsídios e barreiras comerciais impostas pelos países desenvolvidos e, ao mesmo tempo, conta com vantagens comparativas imensuráveis tais como, clima favorável, solos férteis e enormes áreas de terras disponíveis para serem incorporadas ao processo produtivo, torna-se necessário instrumentalizar o homem – produtor rural – para enfrentar esse desafio. Quem pode assumir esta responsabilidade são extensionistas competentes e não especialistas que sabem cada vez mais de cada vez menos.
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