Para os agricultores do Sul do Brasil, o momento é de desencanto, frustração e pessimismo.
As inúmeras manifestações coletivas, como passeatas e bloqueio de estradas com máquinas agrícolas, estão a demonstrar o ambiente tenso em que se encontram os produtores de soja, milho, trigo e arroz. As dívidas crescentes, os baixos preços pagos pelos grãos e o assustador crescimento dos custos de produção, alavancados pelos insumos, máquinas agrícolas e o óleo diesel, estão acelerando de forma acentuada o processo de descapitalização do setor primário.
Enquanto isso, contrastando com a situação desfavorável enfrentada pelo setor agrícola, a atividade leiteira está navegando em águas calmas e promissoras. Já há alguns anos a produção leiteira vem se constituindo no mais importante sustentáculo das pequenas e médias propriedades rurais do noroeste do RS.
Até mesmo a forte estiagem, que assolou o Sul do Brasil no verão de 2005, acabou fortalecendo a importância da exploração leiteira como atividade econômica para esta região, cuja estrutura fundiária se caracteriza pelo predomínio absoluto das pequenas propriedades (a área média não ultrapassa os 20 ha).
Pois aquelas propriedades que integram lavoura x pecuária leiteira, se recuperaram em pouco tempo, finda a estiagem, e tiveram condições de minimizar os drásticos efeitos dessa crise climática. Já aquelas que exploram exclusivamente a agricultura continuam mergulhadas em profunda crise – à frustração da produção de soja do ano passado, veio somar-se a frustração dos preços na safra atual. Estou convencido de que deste limão amargo poderemos fazer uma boa limonada. Está mais do que na hora de avaliarmos o modelo agrícola desta região.
Mas voltemos à atividade leiteira! Os produtores desta região estão muito animados com a chegada da Nestlé. Esta empresa confirmou a implantação de uma grande indústria no município de Palmeira das Missões.
A expectativa é de que a planta industrial esteja em operação dentro de 5 ou 6 meses, com capacidade de absorver até 1 milhão de litros de leite por dia. Some-se a isto o fato de que a CCGL estaria ultimando projeto para implantação de uma grande planta industrial também nesta região. Somando-se a capacidade de captação de leite destas novas indústrias, juntamente com a das empresas já em operação, chegar-se-á a um total de 3 milhões de litros por dia. Hoje a produção diária da região é de, aproximadamente, 1,5 milhão de litros.
OTIMISMO
O cenário é de otimismo e vários fatores estão a sinalizar um crescimento acentuado da produção leiteira na região, bem como a consolidação da atividade como o carro chefe da economia no setor primário. Vejamos alguns desses fatores:
- A implantação de novas unidades industriais atesta o reconhecimento do potencial produtivo da região. Por outro lado, sob o ponto de vista dos produtores, a chegada de mais indústrias aumentará a concorrência no mercado comprador do leite, o que dará mais estabilidade ao preço recebido pelos produtores.
- A atividade leiteira se ajusta muito bem às pequenas propriedades agrícolas na medida em que potencializa a utilização de máquinas e implementos agrícolas que trabalham poucas horas por ano, em função do reduzido tamanho das lavouras. E, o que é mais importante, ocupa com maior intensidade o fator de produção mais abundante na região: a mão-de-obra familiar.
- As repetidas frustrações de safras e os preços contigenciados dos grãos estão a indicar uma redução das áreas destinadas às lavouras. Já para o próximo plantio de inverno, constata-se uma redução de 30% da área tradicionalmente utilizada para a lavoura de trigo. Isto sinaliza um crescimento das áreas de pastagens.
Considere-se ainda que a bacia leiteira desta região, que foi criada por um grupo de 12 cooperativas, tem uma experiência acumulada de 37 anos. Junte-se a isto o fato de que o solo, o clima e a estrutura fundiária são muito favoráveis à atividade leiteira e entenderemos porque as grandes empresas estão de olho nesta região. Bom para todos os envolvidos.
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