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Scot Consultoria

Quem sabe a gente pára pra pensar um pouco


por Otaliz

Quarta-feira, 31 de maio de 2006 - 21h06

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


  • Repercutiu bastante a enorme mobilização dos agricultores em várias cidades e rodovias nos Estados do Sul e no Centro-Oeste do país. Um legítimo “tratoraço”. Milhares de produtores, veículos e máquinas agrícolas bloqueando ruas e estradas. Discursos, panfletos e protestos diante de agências bancárias... Tudo para chamar a atenção do governo para a difícil situação do setor primário. Justo, muito justo! Afinal, é notório o processo de empobrecimento e de descapitalização do homem do campo.
  • Ninguém duvida que o setor primário está pagando muito caro para garantir a estabilidade da economia do país. Nos discursos inflamados as principais reivindicações – prorrogação das dívidas de financiamentos anteriores e liberação de mais recursos financeiros com juros mais baixos. Se alcançados estes propósitos, estarão resolvidos os principais problemas do setor primário? Penso que não.
  • Ocorre que invariavelmente as mobilizações dos produtores rurais concentram-se numa ou noutra questão pontual, isolada e, às vezes de ocorrência eventual. Outros problemas crônicos, subjacentes às crises, passam despercebidos, sem merecer a atenção, a reflexão, o debate e a tomada de posições no sentido de contorná-los. Vejamos... OUTROS PROBLEMAS
  • Elevação constante dos custos de produção. Isto ocorre porque a relação entre os diferentes elos das cadeias agroindustriais é muito frágil, pouco transparente e eticamente pobre.
  • Cada segmento, particularmente o elo “antes da porteira”, olha apenas para o seu próprio umbigo, buscando índices de rentabilidade cada vez maiores, sem considerar o sacrifício que esta atitude impõe aos segmentos adjacentes. Na base do “eu quero o meu, o resto que se dane”!
  • Os preços dos insumos (defensivos, fertilizantes, etc.) e das máquinas e equipamentos agrícolas sobem em ritmo de ”Fórmula 1“, ao mesmo tempo em que os preços recebidos pelos produtores de grãos, carnes e leite, vêm sendo comprimidos ano a ano.
  • Dados da FGV e da CONAB mostram que no período de 1990 a 2003, o percentual de aumento dos preços dos insumos foi de 331%; dos combustíveis 406%; dos fertilizantes 319%; das máquinas e equipamentos 332%. E o preço pago pelos produtos agropecuários foram reajustados nas mesmas proporções? Nem pensar! Pelo contrário, em valores comparativos vêm despencando ano após ano.
  • O desfecho não poderia ser diferente – profunda crise no setor da produção primária. E daí, quem está discutindo seriamente esta questão? Excetuando-se algumas iniciativas meritórias como a implantação da Casa Rural – Centro do Agronegócio, através da FARSUL-RS, que propicia a negociação em bloco por grupos de produtores tanto na compra de insumos e equipamentos como na venda de seus produtos, já com resultados animadores, o que se observa é uma situação de subserviência das classes produtoras rurais às imposições dos mercados de insumos, de máquinas e equipamentos, setores fortemente oligopolizados. DENTRO DA PORTEIRA
  • Mas “dentro a porteira” também há problemas que devem ser encarados com urgência e seriedade, e que influem significativamente no desempenho econômico das empresas rurais.
  • Entre eles, a meu juízo, cito o baixo grau de profissionalização do produtor rural brasileiro como o mais importante. Na origem deste problema está o deficiente nível de escolaridade das pessoas do campo.
  • O sucateamento do ensino no meio rural impede o acesso à cultura, restringe a capacidade de pensar e de buscar soluções para os problemas que se avolumam, oblitera a capacidade de entender e de se ajustar às extraordinárias e cada vez mais freqüentes mudanças que exigem do setor da produção uma agilidade maior para se adaptar às novas exigências dos mercados.
  • Resultado – o produtor desinformado compra o que não precisa, paga preços absurdos por mercadorias de qualidade duvidosa, imobiliza capital muito acima da capacidade da sua empresa, explora atividades incompatíveis com o perfil da sua propriedade rural e passa a caminhar a passos largos rumo a falência.
  • O pior é que o desinvestimento público no meio rural, representado pelo fechamento de escolas, continua em franco processo de crescimento.
  • Levantamento do INEP (MEC) mostra que 67% dos jovens rurais em idade escolar, não estão freqüentando regularmente a escola. Isto significa que a próxima geração de produtores e trabalhadores rurais também terá baixo grau de escolaridade e, por conseqüência, não terão condições de se tornarem profissionais competentes em suas áreas de atuação. Pergunta-se: a classe rural está preocupada com esta questão? Algum movimento reivindicatório para reverter esse quadro?
  • Quem sabe a gente pára pra pensar um pouco? Vamos desligar o aparelho de TV, legítima “máquina de fazer doidos” (saudades do Sergio Porto - Stanislaw Ponte Preta), e vamos aproveitar esse tempo para pensar, analisar, buscar informações e nos capacitarmos para uma eficiente administração das nossas empresas rurais.
  • Vamos tentar?
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