Para a grande maioria dos produtores a contagem de células somáticas (CCS) passou a ser a nova vilã da atividade leiteira, posto que, conforme o caso, implica em mais um desconto sobre o preço recebido pelo litro de leite. Trata-se, obviamente, de uma interpretação equivocada na medida em que confunde conseqüência com causa, e sugere a busca de soluções onde elas não estão.
Este equívoco se deve à pouca informação que é levada aos produtores, tanto pelas indústrias de laticínios como pelos órgãos de assistência técnica. Neste vácuo entra a ação danosa de empresários inescrupulosos e oportunistas que, através de propaganda enganosa, atribuem aos seus produtos, principalmente sais minerais, propriedades mirabolantes como combater ou reduzir as células somáticas. Cabe a pergunta: nós queremos combater as células somáticas? Claro que não!
MAS O QUE SÃO CÉLULAS SOMÁTICAS?
O termo “somático” deriva da palavra grega “soma” que significa corpo. Portanto as células somáticas são produzidas pelo próprio corpo do indivíduo. No caso em questão, as células somáticas estão representadas pelos glóbulos brancos do sangue (leucócitos, linfócitos, neutrófilos, macrófagos...). São células de defesa que estão circulando via sanguínea por todo o organismo. Quando órgãos ou tecidos são atacados por agentes externos, principalmente por microrganismos, imediatamente ocorre uma vasodilatação na região afetada, para permitir um maior aporte de sangue.
Concomitantemente verifica-se um aumento da permeabilidade vascular, o que propicia a saída dos glóbulos brancos para os tecidos atacados a fim de dar combate direto aos agentes agressores. Isto é o que ocorre na glândula mamária quando infectada. Cumprida a função de defesa, estas células juntamente com outras provenientes da descamação epitelial da glândula, são conduzidas ao exterior através do leite. Não fosse a ação efetiva das células somáticas, as mastites seriam muito mais freqüentes, quase que constantes, e bem mais lesivas ao tecido mamário. A elevada concentração de células somáticas no leite é um indicativo seguro de infecção na glândula mamária, o que prejudica a produção e a saúde do animal, bem como altera significativamente a qualidade do leite.
Considerando que uma elevada CCS é conseqüência direta de uma infecção da glândula mamária, a melhor forma de reduzir essa concentração é diminuir ao máximo a entrada de microrganismos no úbere. E isto não se consegue com sais minerais “milagrosos”, mas sim com um rigoroso sistema de higiene na sala de ordenha, nos equipamentos, nas roupas e mãos dos ordenhadores e com a desinfecção dos tetos antes e após a ordenha. Também são importantes a detecção precoce das vacas contaminadas (CMT) e o ajuste do manejo da ordenha de modo que esses animais, tratados ou não, sejam os últimos a serem ordenhados.
É interessante observar que durante muitos anos, enquanto a indústria de laticínios não tinha ainda incorporado a CCS nos testes de qualificação do leite, não havia referências sobre a relação sal mineral e células somáticas. Bastou a CCS aparecer como item de desconto no preço do leite, assustando produtores incautos, para que surgissem no mercado produtos milagrosos capazes de reduzir a concentração dessas células no leite. Trata-se evidentemente da ação de oportunistas e irresponsáveis que vislumbraram mais uma possibilidade de valorizarem, com mentiras, seus produtos de eficiência duvidosa.
Há poucos dias chegou as minhas mãos mais um folheto de propaganda de um desses sais “milagrosos”. Entre outras virtudes “fantásticas” constam:
- 15% de aumento na produção leiteira
- Diminui a CCS e melhora a redutase
- Aumenta em 12 a 15% a gordura do leite
- Melhora a fertilidade – aumenta a taxa de esperma no macho e de ovulação na fêmea
É claro que nenhuma dessas afirmações resiste a mais simples avaliação científica. É necessário que os produtores leiteiros se conscientizem de que afirmações dessa natureza, só merecem credibilidade quando amparadas por uma pesquisa séria, com citação do nome do pesquisador e da instituição.
Portanto, produtor leiteiro, ao se deparar com esses produtos milagrosos, que prometem vantagens mirabolantes, sem nenhuma referência a trabalhos de pesquisa científica... cuidado!!! Alguém está tentando enganar você.
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