Por agribusiness ou, numa versão forçada em português, cadeia agroindustrial, entenda-se a soma total das seguintes operações: produção e distribuição de insumos e de novas tecnologias agrícolas; a produção agropecuária propriamente dita; armazenamento, transporte, processamento e distribuição dos produtos da terra e de seus derivados.
Nesta ótica, a produção de alimentos não pode ou não deve mais ser analisada individualmente, na medida em que seus resultados econômicos são fortemente influenciados pelo desempenho dos outros segmentos que precedem ou sucedem o ato produtivo. Este princípio também é válido para os outros segmentos que constituem uma cadeia agroindustrial, posto que existe uma rigorosa interdependência de resultados.
Mas, infelizmente em nosso país, por questões culturais, temos uma enorme dificuldade de enxergarmos o todo. Embora elos de uma mesma corrente, continuamos individualistas – cada um puxando mais brasas para o seu próprio assado. Os outros que “se danem!”. De certo modo, modificamos a receita original do agribusiness. Retiramos “temperos” indispensáveis tais como, respeito intersetorial, seriedade, capacidade de compartilhar problemas e buscar soluções em conjunto, entendimento mútuo e fixação de objetivos comuns. Como substitutos colocamos, corporativismo, malandragens, espertezas e oportunismo. Uma espécie de agribusiness à moda da casa.
O texto exposto anteriormente foi escrito nesta coluna em junho de 2001- edição n° 40 do A NATA DO LEITE. De lá para cá, ressalvando exceções, a situação do agronegócio leite no Brasil mudou muito pouco, quase nada, no que se refere às relações entre os diferentes elos que compõem essa cadeia.
Comprimido entre os setores de insumos/serviços e a agroindústria está o segmento da produção, representado por produtores leiteiros, na sua grande maioria com baixo grau de escolaridade, e que não entendem e não avaliam as mudanças ocorridas na década de 90 – desregulamentação da atividade agropecuária e abertura de mercados via Mercosul. Some-se a isso o crescente interesse de mercados importantes como o europeu e o asiático que estão se abrindo para a produção leiteira do nosso país. Tudo isso implica em mudanças estruturais importantes que deveriam ser internalizadas pelo setor produtivo. Mas a falta de diálogo transparente entre indústrias e produtores faz com que estes últimos vejam com desconfiança as iniciativas e propostas do setor industrial, particularmente no que diz respeito à formação de preços.
O CONSELEITE PARANÁ
Pois a boa notícia veio do Paraná. A implantação do Conseleite Paraná, órgão criado por um esforço conjunto entre a Federação da Agricultura do Estado - FAEP e o Sindicato das Indústrias de Laticínios – Sindileite, veio pôr luzes nas conturbadas relações entre produtores e indústrias. “O setor leiteiro do Paraná passou a diferenciar-se com o início do funcionamento do Conseleite Paraná, cujo princípio de transparência e harmonia entre produtores e indústrias vem sendo considerado o fato mais inovador desde a desregulamentação do setor na década de 90.”
O Conseleite é composto por 22 representantes dos produtores indicados pela FAEP, e pelo mesmo número de representantes indicados pelo Sindileite. Este Conselho é assessorado tecnicamente por uma Câmara Técnica e Econômica – Camatec, que é coordenada pela Universidade Federal do Paraná – UFP.
Esta universidade recebe, semanalmente, das indústrias participantes os dados referentes à comercialização no atacado (volume e preços) de 14 produtos que compõem o mix dessas empresas (leite pasteurizado, leite UTH, leite cru, queijos, manteiga, doce de leite, leite em pó e outros). Estas informações, juntamente com outras, como a determinação dos custos agrícolas e industriais, determinação dos parâmetros para o leite padrão, etc. servirão de base para a formação do preço de referência para o leite em nível de produtor.
A iniciativa é das mais meritórias e merece mais considerações do que aquelas que podemos fazer no curto espaço de um artigo. Voltaremos ao tema.
Bibliografia consultada; Desenvolvimento Integrado da Cadeia Láctea O Conseleite; Ronei Volpi e Maria Sílvia Digiovani.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS