Sob o ponto de vista histrico, os ruminantes tm estado estreitamente vinculados ao homem desde a formao dos primeiros agrupamentos humanos. O processo evolutivo que transformou o homem de caador primitivo a agricultor sedentrio, ocorrido h mais de 7.000 anos, no incio do perodo neoltico, dependeu fundamentalmente de dois fatos intimamente relacionados: o cultivo de gros e a domesticao dos ruminantes primitivos. O primeiro animal domesticado que forneceu leite para as sociedades primitivas foi a cabra.
Apesar desse convvio milenar, ainda hoje uma parcela considervel da populao deste Pas, incluindo produtores leiteiros, pouco ou nada sabe sobre o processo ruminatrio que tanto tem fascinado os pesquisadores e fisiologistas. No para menos! A combinao harmnica de processos bioqumicos, mecnicos e biolgicos que se alternam nos quatro compartimentos estomacais dos ruminantes que d aos bovinos a extraordinria capacidade de transformar alimentos grosseiros e fibrosos como os pastos, de difcil digesto para a maioria das espcies, em leite um dos alimentos mais completos para a dieta humana.
No curto espao deste artigo no poderemos detalhar a dinmica do processo ruminatrio. Nos deteremos ento ao aspecto extremamente interessante que representado pela populao microbiana que vive no rmen dos bovinos.
Trata-se do mais clssico exemplo de simbiose, posto que esses grupos microbianos vivem em perfeita harmonia com o hospedeiro, num bom acordo biolgico, de tal modo que esses microrganismos so necessrios aos bovinos e vice-versa. Entre os benefcios que essa micropopulao proporciona aos ruminantes, salienta-se a digesto da celulose fibra dura dos vegetais que de difcil digesto para a maioria das espcies, incluindo o homem. Esses grupos bacterianos atacam a celulose, hidrolisam-na e a transformam em importantes fontes de energia para o metabolismo do animal.
Tambm no rmen, o maior dos quatro compartimentos gstricos, ocorre a digesto e a sntese de protenas, pois determinados grupos bacterianos so capazes de sintetizar aminocidos de elevado valor biolgico a partir de elementos nitrogenados mais simples e at mesmo no proticos, como a uria.
Some-se a isso a enorme capacidade digestiva dos bovinos que faz com que uma vaca de 500 kg de peso vivo seja capaz de consumir aproximadamente 60 kg de forragem verde por dia, e estaremos diante de uma mquina capaz de transformar produto grosseiro em alimentos nobres.
Por tudo isso pouco recomendvel a atitude de superestimarmos o valor dos alimentos concentrados na dieta dos ruminantes porque, ao faz-lo, estaremos menosprezando a habilidade natural dos bovinos e aumentando de forma significativa os custos da produo leiteira.
Se quisermos competir com vantagens no mercado internacional de lcteos temos que produzir leite com baixos custos e isto se consegue investindo na produo, manejo e conservao de boas pastagens.
Otaliz de Vargas Montardo mdico veterinrio e instrutor do Senar RS
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