A implantação de novas indústrias de laticínios e a ampliação das já instaladas no Rio Grande do Sul, associado ao crescimento vertiginoso dos custos de produção das lavouras tradicionais desta região, o que está inviabilizando a exploração agrícola nas pequenas unidades de produção, estão criando um clima muito favorável à expansão da atividade leiteira.
Neste ambiente de boas perspectivas e expectativas, muitos proprietários rurais que não têm experiência na atividade, posto que nunca foram produtores leiteiros, estão indo “com muita sede ao pote”, investindo de forma inadequada na compra de animais, equipamentos e na implantação de forrageiras.
Sem o respaldo de assessores técnicos qualificados, tornam-se presas fáceis para comerciantes oportunistas e sem escrúpulos que vendem animais de origem desconhecida, de baixo padrão zootécnico, equipamentos inadequados ao tamanho da exploração e ainda forrageiras “milagrosas”.
É importante que esses novos produtores e, mesmo os já experientes, entendam que ao lado das vantagens vislumbradas para a expansão da atividade leiteira, existem ameaças significativas que podem inviabilizar seus projetos. O novo mercado que se abre, exige produtores eficientes, profissionalizados, capazes de administrar a empresa rural como um todo, contemplando o gerenciamento do processo produtivo (produção, alimentação, reprodução, sanidade, qualidade genética, qualidade do leite); das finanças (investimentos, custos de produção, etc); da mão-de-obra; da comercialização (venda do produto, compra de insumos, comportamento de mercados..).
... consultoria técnica eficiente é aquela que se torna desnecessária ao longo do tempo, na medida em que o produtor organiza a sua empresa e adquira os conhecimentos necessários para geri-la com eficiência e profissionalismo.
Dificilmente os produtores leiteiros, principalmente os novatos na atividade, vão conseguir administrar esse complexo sem o apoio de uma consultoria técnica qualificada. E os espaços não estarão abertos para amadores.
No entanto, é insignificante o número de produtores leiteiros que buscam o apoio de uma consultoria técnica. Talvez a justificativa para isso esteja no fato dos produtores confundirem assistência técnica institucional (aquela prestada por cooperativas, sindicatos rurais e mesmo por empresas estatais) com consultoria técnica particular. Enquanto a primeira limita-se a visitas esporádicas, concentrando-se em problemas pontuais, sem planejamento algum e sem compromisso com resultados, a consultoria técnica estabelece um pacto entre o assistente e o assistido, numa interação dinâmica na busca de resultados positivos e na divisão de responsabilidades. Ou seja, um mútuo comprometimento.
A consultoria parte de um diagnóstico da situação atual, identificação de estrangulamentos, fixação de metas a serem atingidas, resolução de problemas e, enfim, planejamento global da empresa. E mais, não se limita a aplicar tecnologia, mas sim em transferi-la para o produtor de tal modo a torná-lo independente e profissionalizado.
Sendo assim, no meu conceito (e tenho sido criticado por isso!), consultoria técnica eficiente é aquela que se torna desnecessária ao longo do tempo, na medida em que o produtor organiza a sua empresa e adquire os conhecimentos necessários para geri-la com eficiência e profissionalismo.
Para concluir: penso que o conhecimento de um técnico ou de qualquer outra pessoa, nada mais é do que a soma do conhecimento de outras várias pessoas. Cabe ao técnico distribuir e multiplicar o seu conhecimento e não usá-lo como uma prerrogativa profissional ou uma mercadoria a ser comercializada. Tem gente que não concorda com esta afirmação!
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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