Em artigo publicado nesta coluna, há alguns meses, referi-me à euforia dos produtores leiteiros da região noroeste do Rio Grande do Sul em relação às perspectivas que se abriam para a atividade nesta região. Não é para menos, afinal, além da ampliação das empresas de laticínios já instaladas, a implantação, já confirmada, de outras cinco grandes empresas nacionais e transnacionais nesta mesma região, levaram os produtores leiteiros a vislumbrarem um futuro promissor para a atividade. Estavam, e digo mais, estão certos esses produtores, mas é preciso entender o contexto e ajustar-se às novas situações.
INTERPRETANDO OS FATOS
Baseados nas perspectivas promissoras, os produtores investiram em seus rebanhos, melhoraram a oferta de alimentos, compraram animais e, por conseqüência, aumentaram significativamente a produção de leite. Bem... aí veio a surpresa negativa: os preços do leite caíram!
O problema não é a queda dos preços pagos aos produtores, mas sim a interpretação equivocada dos fatos, que está evidenciando o despreparo dos produtores e de suas lideranças para uma análise concreta da realidade atual.
Ocorre que o aumento significativo da produção ainda não está sendo absorvido pelas novas empresas que estão, na melhor das hipóteses, em fase final de implantação. Com uma visão obtusa, voltam-se produtores e seus representantes imediatos, contra as empresas que atualmente estão captando leite na região, acusando-as de culpadas pelos atuais preços pagos aos produtores.
Com certeza, ao longo do tempo, haverá uma seleção de produtores. Serão bem remunerados aqueles que tiveram uma boa escala e constância na produção, aliados a uma boa qualidade higiênica e composicional do leite.
É lógico que essa gente não tem a menor consciência de que, como outras, a atividade leiteira está inserida numa cadeia agroindustrial sujeita a lei da oferta e da procura. Se aumenta a oferta e não aumenta o consumo, é lógico que os preços vão cair. Mas, é lógico também que, na medida em que as empresas de laticínios estiverem operando a todo vapor, inclusive exportando, vai aumentar a competição na captação do leite e, naturalmente os preços vão alcançar patamares mais atrativos aos produtores. Mas não para todos os produtores. Aqui, no meu conceito, está o cerne do problema. Com certeza, ao longo do tempo, haverá uma seleção de produtores. Serão bem remunerados aqueles que tiveram uma boa escala e constância na produção, aliados a uma boa qualidade higiênica e composicional do leite.
Mas há outros conceitos que necessariamente terão que ser absorvidos pelos produtores e por suas lideranças. Um deles, e talvez o principal, é que a rentabilidade do negócio não depende apenas dos preços pagos pela indústria, mas também, e principalmente, da eficiência produtiva que busca bons níveis de produtividade aliados a baixos custos de produção. Enfim, profissionalização.
Imagino que alguns leitores estarão pensando que este articulista está escrevendo a favor dos interesses das indústrias de laticínios. Negativo. Para complementar o aqui exposto, sugiro a leitura do artigo de Maurício Palma Nogueira, publicado na edição 528 da revista Balde Branco.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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