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Scot Consultoria

E o dólar?


Segunda-feira, 3 de agosto de 2009 - 17h55

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


E o dólar, hein? Vai cair mais, vai subir... Vai ficar bom para se fazer compras no Paraguai? É o que vamos olhar nesta semana. Primeiro vamos começar com o gráfico do dólar. Observe a Figura 1. Esse é um gráfico de longo-prazo da moeda americana. A cotação aqui vem desde 1998, na primeira desvalorização do Real. Olha só o quanto que esse mercado andou nos últimos quinze anos. Tivemos de tudo, não é mesmo? Crises financeiras, quebra da Rússia, dois mandatos de FHC, dois do Lula, Guerra no Iraque, advento da China como potência, etc. Mesmo depois de tudo isso o Real nos últimos anos está se valorizando e o Brasil não quebrou. Vai entender! Ô povinho que não desiste! Bom, agora o próximo gráfico da Figura 2. Esse é o mesmo gráfico acima, porém agora jogando a inflação sobre o dólar. Como está a nossa moeda hoje em relação ao que era em 1994? Vamos ver. Observe que interessante. Se jogarmos a inflação no dólar, este está mais valorizado hoje do que estava em 1994. Essa é uma das razões da chiadeira em cima do dólar, pois um dólar barato favorece as importações e atrapalha as exportações. Quando se tinha uma situação do mundo comprando como tínhamos até meados de 2008, isso não era um problema. A gente vendia a qualquer preço. Mas na situação atual, com a crise e tal, a moeda “forte” diminui a competitividade dos produtos fabricados aqui. A exceção são as commodities, obviamente, pois não há tantos concorrentes para desafiar o Brasil. Aonde entra a pecuária nesse cenário? Bom, a taxa do dólar é até hoje um importante balizador dos preços da arroba. Mas não é só o dólar que importa para os outros países. Abaixo na Figura 3 coloquei a arroba em várias moedas, caro leitor, e veja por você mesmo como anda a competitividade da nossa carne perante a visão dos países importadores. Se você reparar nesses gráficos, o único país em que a arroba está realmente subindo é na Rússia. Hoje em dia é de onde vem a maior chiadeira e enchimento de saco para a gente exportar. Na União Européia está ocorrendo o inverso, a arroba está caindo. Por que você acha que as exportações para a Europa estão melhorando? Você acha que isso tem alguma coisa a ver com rastreabilidade? Esquece, eu não compro isso. Nunca comprei esse discurso. É uma questão de preço. Nos outros países a arroba levou um baque em 2008 e aos poucos está subindo novamente. Esse movimento recente do dólar machuca nossas exportações? Vamos ver na prática o que está ocorrendo na Figura 4. Hum, a média mensal de escoamento de carne para o exterior realmente sofreu uma queda de meados de 2007 para cá, atingindo a pior marca agora em janeiro de 2009. Mas de lá para cá as exportações novamente voltaram a dar sinais de vida. Realmente o dólar mais caro, nessa linha cinza do gráfico representando o valor da tonelada da carne exportada total, dificulta o comércio, mas não o inviabiliza. O nosso melhor momento foi com a tonelada exportada valendo, em média, US$2.650,00. Hoje ela vale US$3.300,00. Mas tenha em mente aqui uma coisa importante. O fluxo de sazonalidade da exportação se manteve. O que quero dizer com isso? As exportações são maiores de janeiro a agosto, conforme coloquei dentro desses retângulos vermelhos só para facilitar a visualização. Estamos sim com um volume em média menor do que antes, mas as exportações sazonais estão se confirmando. Isso é bom sinal para os preços da arroba? Não necessariamente, porque a janela de exportação está se fechando aos poucos com a chegada no final do ano do inverno. O que quero dizer é que na atual conjuntura as exportações dão certo suporte aos preços, mas não estão fortes o suficiente para impulsionar a arroba para novas altas. Esse papel ainda está sendo feito pela redução do abate de fêmeas. Bom, sobre o dólar acho que é isso. Não adianta a gente ficar olhando com uma lupa todo dia pra esse tipo de coisa. Esses números demoram meses para mudarem, então esse não é o tipo de informação que você usa para melhorar suas vendas dentro do ano. Ajuda, sim, para definir investimentos de longo-prazo. No longo-prazo, o cenário é bem mais positivo, sem dúvida. Espere só até passar essa poeira da crise e os reflexos de tanta injeção de dinheiro no mundo via bancos centrais dar o ar da graça no mercado consumidor. Isso resultará em inflação na próxima década e, como em pecuária os investimentos demoram quase uma década para darem resultados, hoje é hora de investir em aumento de produção.
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