No Brasil, já estamos chegando ao consenso de que a mais importante de todas as causas da pobreza e do subdesenvolvimento rural é a inadequação e insuficiência dos conhecimentos que possuem os habitantes rurais. Este consenso indica que existe pobreza rural, não tanto porque aos pobres rurais sempre lhes faltem recursos produtivos, e sim porque lhes faltam as competências necessárias - conhecimentos, aptidões, habilidades, valores e até atitudes - para que saibam, possam e queiram corrigir as suas próprias ineficiências e utilizar os recursos disponíveis, com maior racionalidade, eficiência e produtividade. Isto significa que a pobreza e o subdesenvolvimento rural são conseqüências diretas das inadequações e "disfuncionalidades" do nosso anacrônico sistema de educação rural.
Com honrosas exceções:
- As escolas fundamentais rurais estão outorgando uma formação divorciada das mais elementares e imediatas necessidades de vida e de trabalho imperantes no campo. Ensinam às crianças muitos conhecimentos irrelevantes, em vez de ensinar-lhes conteúdos mais pragmáticos que elas possam utilizar e aplicar na correção das suas ineficiências e na solução dos seus problemas cotidianos. É verdadeiramente impressionante a defasagem existente entre "o que e como" estas escolas deveriam ensinar e "o que e como" realmente estão ensinando na atualidade.
- As escolas agrotécnicas e as faculdades de ciências agrárias estão formando técnicos e profissionais muito teóricos. Estes, ao egressar, simplesmente não estão em condições de solucionar os problemas mais elementares dos produtores rurais.
- A inadequada formação nos três níveis da educação formal, recém mencionados, é a principal causa da ineficácia dos serviços de extensão rural, porque os extensionistas não estão preparados, nem técnica nem metodologicamente, para ensinar aos agricultores; estes, por sua vez, não estão preparados para assimilar os ensinamentos que os extensionistas lhes transmitem.
São tantas, tão graves e tão óbvias as ineficiências e distorções do referido sistema, e é tão negativa a sua incidência no futuro desempenho dos educandos (como agricultores, empregados rurais, pais e mães de família, cidadãos e membros das comunidades), que fica difícil acreditar que ainda continuem vigentes, pois elas são simplesmente inaceitáveis. Também é difícil entender as razões pelas quais nós, como sociedade continuamos aceitando passivamente, e durante tantos anos, estes anacronismos. Portanto, é necessário adotar medidas que assegurem maior realismo, objetividade e funcionalidade aos conteúdos curriculares, aos métodos pedagógicos e à administração das escolas.
A tarefa é urgente, não há mais tempo a perder. O esforço que os educadores continuam dedicando a formular justificativas, reais ou imaginárias, sobre "porquê" o sistema ainda não adotou as medidas corretivas, deve ser aplicado em adotá-las. É necessário eliminar estas ineficiências e distorções, mesmo que as escolas estejam empobrecidas e mal equipadas e que os seus orçamentos sejam exíguos. É necessário fazê-lo de imediato, com ou sem decisões políticas de alto nível, com ou sem recursos externos adicionais; mesmo porque estas supostas "condicionalidades" não são tão imprescindíveis como costumam afirmar os movimentos sindicais dos professores.
Quem deve protagonizar estas mudanças: o Ministro da Educação, os parlamentares ou os próprios professores?
Embora reconhecidamente existam fatores externos ao sistema educativo, que dificultam o seu melhor desempenho, muitas das suas "disfuncionalidades" se originam nas próprias escolas e nos próprios professores; idem nas próprias agências de extensão rural e nos extensionistas. Por esta razão, são os próprios professores e extensionistas os que, em boa medida, podem eliminá-las ou corrigi-las, por mais adversas que sejam as suas condições de trabalho e de salários e por mais desejadas ou desejáveis que sejam as ajudas externas.
Graças às atuais políticas de descentralização, delegação e desconcentração educativa, o melhoramento da qualidade da educação rural não necessariamente deve ocorrer por iniciativa, decisão e ação do Ministro da Educação, do Secretário Estadual de Educação, dos legisladores do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa, do governador do Estado, do reitor da universidade, do diretor da faculdade ou do diretor estadual do serviço de extensão rural. Além do mais, sejamos objetivos e realistas, o ministério e a secretaria estadual de fazenda/finanças dificilmente farão uma generosa injeção de recursos financeiros no sistema de educação rural. Nestas condições, a introdução de modificações deve depender muito mais dos próprios professores e extensionistas que das autoridades do país. Muito mais, da