No último artigo da série sobre a importância econômica das características reprodutivas, gostaria de aproveitar algumas discussões e questionamentos nos bastidores da última Expogenética, em Uberaba. Discussões estas que me foram muito úteis, principalmente porque, felizmente, cada vez mais percebo que o pecuarista está atento aos assuntos econômicos ligados ao melhoramento genético animal.
Às vezes até penso e, talvez com razão, que sou repetitivo aqui em mencionar sobre a relação de lucro e as características passíveis de seleção. Em resumo, dizendo que o foco do pecuarista que investe em seleção deve estar, primeiramente, na correta definição dos objetivos de seleção baseados em dados econômicos de cada sistema produtivo.
É que por vezes a teoria se esgota mesmo ciente que há muito que desenvolver.
Desenvolver, por exemplo, modelos matemáticos que relacionem características biológicas com custos e receitas de produção. O Brasil é muito grande e a diversidade de ambientes produtivos, níveis de uso de tecnologia e diferenças regionais de mercado valoriza ainda mais a necessidade de um trabalho específico, a partir de uma ferramenta comum e possível de considerar tais diferenças. Esses modelos matemáticos precisam ser debatidos, validados no intuito de buscar um maior consenso para que possamos melhor aplicá-los na prática.
Pois é, mas discutir modelos matemáticos não é foco deste boletim e, por isso, dúvidas e questionamentos sobre o assunto surgem. Foi o que aconteceu em Uberaba. Ainda bem. É assim que iremos progredir.
O Prof. José Bento Ferraz, do Grupo de Melhoramento Animal da FZEA-USP, quem muito me estimulou sobre o assunto, sempre destacou a importância de criar uma disciplina relacionada à análise de sistemas produtivos. Em outras palavras, criar a cultura de avaliar as circunstâncias de produção de cada sistema produtivo e, cujo objetivo de seleção deve ser definido conforme as particularidades de cada propriedade.
É fato que os sistemas produtivos sejam diferentes. Ou seja, apresentem valores de custos e índices de produtividade específicos. Se os sistemas produtivos diferem uns dos outros, é natural que o resultado econômico entre as empresas sejam diferentes e que os objetivos de seleção também o sejam.
Desta forma, para um sistema produtivo em especial, o foco da seleção deve estar em um conjunto de características que diferem de outros. Em um talvez a maximização do lucro deva contemplar maior ênfase de seleção para característica reprodutiva, enquanto para outro, de ganho de peso ou para qualidade e rendimento de carne. Isso vai depender do mercado, da média de desempenho zootécnico do rebanho, da estrutura de custos, ou seja, das circunstâncias de produção que mencionamos há pouco.
Fica fácil de entender essa problemática quando comparamos duas empresas do mesmo segmento, produzindo o mesmo produto final em um mesmo mercado. Certamente que o resultado econômico dessas duas empresas não será igual. Elas são competitivas e apresentam estratégias e gestão diferenciadas, ou seja, seus custos dificilmente serão os mesmos.
Pois é, quando um pecuarista diz que seus custos são diferentes do que apontamos ou temos como base, isso é perfeitamente normal. É o resultado da eficiência de cada um.
Claro, a metodologia de análise deve ser comparável, mas, isso é outra questão.
O importante aqui é ressaltar da cultura de avaliar aspectos econômicos do negócio de pecuária e, com isso, os objetivos econômicos de seleção.
Nos próximos artigos iremos novamente abordar sobre definição de objetivos de seleção, sem tanto receio de estar sendo repetitivo.
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