Vamos supor que as pessoas comem, em mdia, 1kg de comida por dia, entre o caf-da-manh, almoo, jantar e lanchinhos durante o dia. Durante um ano a pessoa comeria aproximadamente 365kg de comida.
Essa demanda total de comida no elstica, caro leitor, simplesmente porque os estmagos das pessoas no crescem. Quero dizer, coletivamente no crescem. Individualmente pode ser. O ponto saber que a carne bovina compete com outros alimentos durante o ano, e para que o consumo de um cresa, o outro tem que diminuir. Ou seja, se o consumo de carne de 35kg por ano, e quisermos aument-lo para 55kg por ano, a pessoa tem que diminuir o consumo de outro alimento para abrir espao para os 20kg a mais de carne.
exatamente nesse ponto central que o
marketing trabalha. A idia de cada setor tentar roubar espao dos outros.
Poxa, ento o mercado finito? Em algumas regies algumas cadeias de
fast-food j sentiram isso, pois no conseguem crescer mais do que j esto em quantidade de produtos. O que fazer ento para aumentar as vendas?
Ora, muito simples. Se a barreira 365kg de comida por ano, porque no quebrarmos essa barreira? Vamos passar a produzir comida que no alimenta, ou seja, a pessoa come e no se sente satisfeita. Ou seja, vamos induzir a pessoa a comer 400kg, 500kg de comida por ano, mas esses quilos a mais no vo alimentar. Mas, hei, a gente fatura mais vendendo. No essa a idia?
Imagine? Vender batatinhas fritas que no engordam e no alimentam. Voc pode comer vontade. Vender sanduches que no engordam, vender pizzas que no tem nenhum tipo de gordura, protena ou sais minerais que possam ser absorvidos pelo corpo. como se tivssemos uma espcie de uria protegida para o ser humano, porm a proteo dela inquebrvel, mesmo para os cidos e enzimas do aparelho digestivo.
Acredite, caro leitor. Isso j est ocorrendo, por mais mesquinho que seja e no concordar com esse tipo de abordagem. uma das consequncias de se deixar o pensamento industrial se infiltrar em coisas que no deveriam ser tentadas. lamentvel.
Tem dois livros que so de leitura obrigatria para qualquer um que se interesse por pecuria e se preocupa para onde estamos indo, coletivamente, no setor. Um Pas
Fast Food, de Eric Schlosser (leia o livro, no assista ao filme). O outro O Dilema do Onvoro, de Michael Pollan.
Bom, vamos ao mercado. Mais uma semana se passa e as escalas de abate no andam para frente. Pelo contrrio, andam para trs. Observe o grfico 01. O pico ocorreu em setembro e de l para c a oferta de gado nitidamente perdeu fora.
Isso ocorreu tambm em outras trs oportunidades no grfico 02. L atrs as escalas reduziram-se para nveis ao redor de quatro dias teis. Nessas ocasies, se voc lembra bem, ocorreram altas no mercado. Essa a quarta ocorrncia deste ano neste sentido.
A dvida a seguinte. Nas outras ocasies a arroba subiu acima de R$80,00. Sim, era safra e os bois tinham condies de permanecerem nos pastos, estocados. Essa reduo das escalas agora ter o mesmo efeito? Agora a partir de outubro j estamos praticamente saindo do perodo seco e frio Brasil afora, criando novamente condies para se estocar os bois nos pastos. Pode ser que sim, pode ser que estejamos criando novamente condies para estocar bois nos pastos esperando melhores preos. Existe teto para esses preos?
Ora, sim, s olhar para o grfico 02 novamente. Incluindo desde dezembro, o pico poderia ser at R$86,00, porm nos picos mais recentes o mercado est sugerindo algo ao redor de R$82,00.
nisso que o mercado futuro est apostando, como podemos observar no grfico 03. As expectativas dos preos para os prximos meses colocam a arroba ao redor desses nveis.
Isso significa que os preos atuais da arroba esto bons? Hum, difcil dizer. O meu
feeling diz que no, porm meu lado racional diz que sim. Estou dividido, caro leitor.
Historicamente que est ocorrendo agora com a arroba tambm foi o que ocorreu nessa mesma etapa do ciclo pecurio passado. L atrs a arroba tambm oscilou ao redor da inflao de forma muito parecida com o que estamos tendo agora. Deixe-me colocar o grfico 04 abaixo para voc conseguir visualizar melhor o que estou querendo dizer com isso. Logo depois coloco o grfico 05, que o mesmo grfico da inflao, porm acrescentando na conta os custos de produo da atividade.
Se voc observar esse grfico, notar que o mercado est escrevendo uma histria parecida hoje quando olhamos para o passado. Estamos passando pela fase de estabilizao do ciclo, caro leitor.
Olhando para esse grfico, o meu lado racional fica contente de estar podendo vender a arroba praticamente nos mesmos preos descontada inflao que vendi entre 1999 e 2003. Isso bom, isso traz previsibilidade de lucros e facilita a tomada de deciso. por isso que no acho ruim os nveis da bolsa de hoje.
Porm,
ah, sempre tem um porm, os custos atuais da arroba esto bem maiores que estavam l atrs. Se voc fizer esse mesmo grfico acima novamente e incluir nele os custos de produo, obter o grfico 05 ao lado.
O que esse grfico me mostra a razo de que ao mesmo tempo no fico contente com os preos atuais da arroba. Somando os custos de produo e a inflao, os preos atuais esto bem abaixo do que ocorreu na mesma fase do ciclo pecurio anterior. A arroba teria que subir mais do que est projetado pelo mercado futuro para corrigir esse problema. Isso poderia ocorrer? No sei responder.
Como disse no incio, meu
feeling uma arroba mais alta do que est sendo projetada, mas a anlise fria do mercado diz que os preos atuais j esto bons.
O que fazer? D para conciliar as duas vises? melhor um pssaro na mo do que dois voando. Voltou a ficar interessante comear as vendas novamente no mercado fsico, mas para o caso de que a arroba volte a subir com mais fora, prudente deixar uma soca de gado para se vender mais para frente.
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