Efeitos de ambiente e genética no desempenho animal: os grupos de contemporâneos

Um dos primeiros artigos deste painel foi dedicado a apresentar e discutir o conceito de grupos de contemporâneos, termo bastante utilizado quando o assunto é melhoramento genético animal. Na verdade, o objetivo daquele artigo de 2004 foi discutir a importância de efeitos ambientais na análise de desempenho dos animais geneticamente avaliados. Ou seja, reforçar o fato de que o fenótipo de um indivíduo é efeito de seu genótipo e do ambiente de produção. Claro, não podemos nos esquecer do efeito de interação entre o genótipo e o ambiente, tema que iremos abordar no próximo artigo. Existe normalmente um enorme grau de confusão entre fatores genéticos e os fatores do ambiente. É notória a diferença de desempenho de animais de patrimônio genético semelhante criados em ambientes diferentes. Muitas vezes, podemos observar diferenças de mais de 20 kg no peso médio de bezerros de um rebanho, nos quais um dos lotes foi criado em pasto de colonião e o outro, separado apenas por uma cerca, foi criado em pasto de Brachiaria. Como diferenças significativas são observadas, a qualidade das avaliações genéticas depende fundamentalmente da identificação dos fatores relacionados à produção do animal (efeitos de ambiente) e que podem interferir no seu desempenho. Saber identificar as diferenças nas circunstâncias de produção e que podem ser as causas do maior desempenho de um lote de animais comparado a outro, por exemplo, é fundamental para se poder identificar com menor erro o mérito genético dos reprodutores. No exemplo dos animais criados em pasto de colonião, as diferenças observadas poderiam não ser decorrentes de um maior mérito genético de um dado reprodutor, mas das condições de ambientes melhor favoráveis desse conjunto de animais. Desta forma, animais criados nas mesmas condições de ambiente, manejo, nutrição, nascidos na mesma época e local são agrupados em grupos de animais definidos como grupos de contemporâneos. Isto é feito como forma de comparar animais criados nas mesmas condições, ou seja, minimizando para os efeitos de ambiente. Com isso, espera-se que as diferenças observadas no desempenho dos animais sejam devido a diferenças de patrimônio genético. Em outras palavras, com a adequada identificação dos grupos de contemporâneos, a estimação dos valores genéticos dos animais se torna mais confiável. Formação dos grupos de contemporâneos Os grupos de contemporâneos são grupos de animais nascidos na mesma fazenda, na mesma época do ano e que são submetidos às mesmas condições de ambiente. Assim, se em uma fazenda existem diferenças de qualidade entre pastos e entre tratadores diferentes, o que normalmente existe, nada mais lógico que identificar o "lote" no qual cada animal foi criado, em todas as fases de sua vida. Em geral, cada "lote" refere-se a um grupo de animais que nasceu junto e foi mantido junto, no mesmo pasto, retiro e sob os cuidados de um mesmo vaqueiro até o desmame, por exemplo. Este tipo de identificação é o que caracteriza os "grupos de manejo", a melhor maneira de identificar grupos de contemporâneos. Por ocasião das análises estatísticas para estimação de valores genéticos, aos grupos de manejo, definidos dentro de cada fazenda, serão acrescidos à identificação de cada fazenda e o sexo dos animais, pois tais fontes de variação são de extrema importância. Ou seja, todos os fatores que possam interferir no desempenho do animal devem ser identificados. Informações como sexo e idade da mãe ao parto são importantes, pois, como sabemos, animais machos desmamam mais pesados que fêmeas e filhos de vacas primíparas tendem a desmamar mais leves que matrizes mais experientes e com habilidade materna melhor desenvolvida. A definição incorreta destes grupos pode levar a grandes desvios das estimativas e muitos animais podem ser avaliados de maneira incorreta, levando a erros graves nas definições de seleção.