O professor Nestor e sua esposa ao longo de 30 anos lecionaram em escolas rurais do primeiro grau. Os últimos 15 anos de atividades docentes foram passados numa pequena comunidade distante 32km da cidade. Ali, contando com a economia feita durante alguns anos adquiriram uma pequena área de terra, pouco mais do que 1 hectare, onde construíram uma casa modesta.
Quando não estava lecionando na escola, o casal se dedicava a criação de galinhas caipiras, cultivava uma pequena horta, mantinha uma vaca leiteira e quase sempre tinha dois ou três leitões na engorda – normalmente recebidos como presentes de pais de alunos.
E assim foram levando a vida até chegar a hora da esperada aposentadoria.
Venderam o sítio, aplicaram o dinheiro em uma caderneta de poupança, alugaram um pequeno apartamento para morar e passaram a desfrutar da nova vida, livre de compromissos com o trabalho. No entanto, passados alguns meses de “dolce vita”, a ociosidade começou a incomodar o professor.
Homem saudável, dinâmico, com muita vitalidade, começou a sentir os primeiros sinais de depressão.
Os dias pareciam cada vez mais longos e tediosos. Era preciso encontrar algo com o que se ocupar. Pois a oportunidade surgiu numa das freqüentes visitas que fazia aos moradores da comunidade onde vivera os últimos 15 anos.
Numa dessas visitas foi informado que, terminado o ano letivo em curso, a escola onde trabalhara tanto tempo, seria fechada. Os pais dos alunos daquela comunidade estavam à procura de alguém que se encarregasse do transporte para as escolas da cidade.
O professor Nestor viu ali uma boa oportunidade para fugir da ociosidade e reforçar a modesta pensão da aposentadoria. Considerando que os recursos financeiros aplicados na poupança eram suficientes para adquirir um veículo adequado para o transporte escolar, decidiu encarar o desafio.
Comprou uma Kombi 0 km e obteve a concessão daquela linha de transporte junto à prefeitura municipal.
O professor calculou a quilometragem diária a ser percorrida, considerando duas viagens, ida e volta, posto que transportaria alunos dos dois turnos.
Além do combustível previu uma importância mensal a ser gasta com a manutenção do veículo e pagamento de impostos e, logicamente, uma margem de lucro para remunerar o trabalho e compensar o investimento.
Como em média transportaria 20 crianças por dia, concluiu que cobrando R$90,00 mensais por aluno, obteria os R$1.800,00 de acordo com o planejado. E assim fez, e o negócio transcorreu normalmente durante um bom tempo, sofrendo pequenos reajustes nas mensalidades de acordo com a variação dos preços do combustível.
No entanto, após quase 5 anos percorrendo diariamente estradas precárias, esburacadas, embarradas, cheias de pedras, a Kombi do professor estava literalmente sucateada. O desgaste chegou a tal ponto que as autoridades municipais exigiram a substituição do veículo por outro que se mostrasse mais seguro para o transporte das crianças. Não tendo recursos financeiros para comprar outro veículo, o professor perdeu a concessão da linha. Fim do negócio.
O que ocorreu com o professor Nestor foi que ao projetar os custos da sua nova atividade, não computou os valores referentes à depreciação e os juros sobre o capital fixo (custo alternativo). Esqueceu que enquanto o capital proveniente da venda do sítio estava aplicado em caderneta de poupança, rendia 6% a 8% ao ano e que, quando foi aplicado na compra da Kombi, a atividade desta teria que remunerar esse capital.
Ao não considerar esses dois aspectos, depreciação e custos alternativos, possibilitou que o seu capital se esvaísse ao longo do tempo. Descapitalização é isso!
Lamentavelmente esta história não tem nada de ineditismo. Ocorre que os produtores rurais costumam confundir margem bruta com lucro líquido e aplicam esses recursos em outros fins que nada tem a ver com a empresa. Isto não significa que o produtor rural não tem direito a usufruir de prazeres ou luxos, mas sim que estes devem ser obtidos com o resultado da empresa e não à custa do capital da mesma.