Por Natália DI Paula Laperuta, graduanda em zootecnia – UNESP – Ilha Solteira.
A vitamina A, conhecida como “vitamina do epitélio” ou retinol, é indispensável para os bovinos, pois atua na formação e manutenção da integridade da pele e das mucosas (conjuntival, brônquica, vesical e uterina). Ela também é conhecida por sua relação com a função reprodutiva dos animais (controle da reprodução), participação na membrana das células receptoras de luz da retina, desenvolvimento do sistema nervoso, desenvolvimento embrionário, proteção aos epitélios germinativos nos machos e epitélio vaginal nas fêmeas e manutenção da gestação em fêmeas prenhes.
Por estes motivos é considerada como uma das vitaminas mais importantes na suplementação de bovinos que, sem vitaminas, tornam-se consideravelmente menos produtivos. A vitamina A é eficiente também na resistência a doenças, sendo que a sua carência é frequentemente observada em bezerros nascidos de vacas deficientes neste nutriente, pois nascem com reduzidas reservas vitamínicas, ficando dependentes somente do aporte do colostro e do leite da mãe, que é a única fonte de vitamina A nas primeiras horas de vida. Quando isto ocorre é comum observar, como consequências, diarréia, lacrimejamento, descarga nasal e, algumas vezes, incoordenação motora.
A vitamina A não ocorre nos alimentos vegetais em sua forma natural nem é sintetizada pelos microrganismos do rúmen, como ocorre com as vitaminas do complexo B, o que limita a sua disponibilidade para ingestão por parte de animais herbívoros, como os bovinos. Felizmente, apesar da ausência da vitamina nos vegetais, neles está presente o β-caroteno, um de seus mais importantes precursores. Vegetais de folhas verdes e a alfafa são consideradas importantes fontes de β-caroteno.
Ess elemento, em sua forma natural (através de alimentos que contenham substâncias carotenóides) ou sintética, vem sendo utilizado na bovinocultura de corte e de leite principalmente como forma de prevenção e/ou tratamento de transtornos reprodutivos, pois há tempos é conhecida a relação entre o elemento e a boa atividade reprodutiva dos animais.
O β-caroteno é considerado uma “provitamina” e “se transforma” após sofrer mudanças químicas na mucosa intestinal, onde é absorvido, na forma de vitamina A, junto com os lipídios. Hoje, seu valor como potencial transformador é bastante conhecido, visto que o bovino tem a capacidade de sua conversão em 24% (1 mg de β-caroteno equivale a 400 UI de vitamina A).
Durante o período quente e chuvoso as pastagens apresentam grande quantidade de elementos carotenóides em sua composição, mas esta característica é drasticamente reduzida assim que entra a época seca. Assim sendo, quando o animal não encontra na dieta as quantidades necessárias de β-caroteno, acaba por utilizar suas reservas hepáticas de vitamina A. De acordo com o NRC 1996, os fatores que governam a deposição e a remoção de vitamina A hepática ainda não são bem conhecidos, porém um estudo realizado em 1989 por McDowell mostrou que a esta mobilização da vitamina A do fígado (órgão em que fica armazenada) provavelmente estão relacionados os níveis de zinco, vitamina A (a necessidade de suplementação aumenta proporcionalmente à absorção desta pelo intestino delgado) e vitamina E da dieta.
Além disto, ainda podem estar relacionados negativamente à mobilização da vitamina A outros fatores, tais como: estresse, altas temperaturas e consumo excessivo de nitratos por parte dos animais.
Para animais em regime de confinamento praticamente todos os alimentos comumente utilizados contêm pouca ou nenhuma vitamina A (fenos, silagem, bagaço, capineiras, concentrados, etc), sendo que no caso de fenos e silagens a redução nos valores da vitamina A ocorre devido ao seu extenso período de armazenamento. Neste caso, pode-se utilizar a suplementação da vitamina A por via parenteral.
Os principais sintomas de carência de vitamina A são: redução do apetite, menor ritmo de crescimento, pelagem áspera, lacrimejamento e xeroftalmia, baixa taxa de concepção, abortos, retenção de placenta, cistos ovarianos, anormalidades do sêmen, libido reduzida e diarréia, sendo que a sua carência pode acarretar distúrbios graves no término da gestação, como a reabsorção dos fetos e a ocorrência de natimortos. Além destes sintomas esta deficiência diminui a atividade sexual em reprodutores e o número e a motilidade dos espermatozóides, causando também a inibição da espermatogênese, redução do tamanho do testículo e declínio da esteroidogênese testicular.
Estudo conduzido para avaliar o efeito da vitamina A sobre a taxa de mortalidade de bezerros constatou que a taxa de natimortos e a mortalidade pós-natal diminuíram com a suplementação com vitamina A, corroborando o seu efeito positivo na eficiência reprodutiva, bem como em evitar distúrbios no término da gestação. Os resultados obtidos pelos autores estão demonstrados na tbela 1.
Ainda que o requerimento de vitamina A pelos bovinos não esteja bem definido, a literatura sugere a suplementação de 150 a 300 mg/dia de β-caroteno, no período compreendido entre a confirmação da gestação até 15 dias antes do parto, para rebanhos leiteiros de alta produção, onde o volumoso seja baseado em silagens.
Devido à necessidade de suplementação o NRC 1996 dispõe, também, de alguns valores para diferentes categorias de bovinos de corte, apresentados na Tabela 2.
Para a formulação de rações com vitamina A é importante observar que o excesso de seu fornecimento também pode ser prejudicial, podendo acarretar em má formação esquelética, fraturas espontâneas e hemorragias internas.
Em geral, as vitaminas podem e devem ser administradas em todas as situações e fases de desenvolvimento e em qualquer tipo de manejo, desde que adequadamente dosadas, de acordo com as necessidades dos animais e objetivos de produção.
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