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Scot Consultoria

As "heranças" do governo Lula


Quinta-feira, 21 de janeiro de 2010 - 11h51

Economista, especialista em engenharia econômica, mestre em comunicação com a dissertação “jornalismo econômico” e doutorando em economia.


Último ano dos dois mandatos de Lula e a tônica daqui para frente será a sucessão presidencial e inevitavelmente a avaliação do desempenho do governo atual. Houve inúmeros avanços, notadamente na área social, entretanto podemos apontar no campo econômico duas "heranças" nada animadoras. Uma delas refere-se ao aumento dos gastos públicos em custeio. As contas do governo estão cada vez mais apertadas e para compensar a o exagero nos gastos, investimento são adiados e a política monetária mantém-se restritiva para compensar a ausência dos investimentos. São os efeitos colaterais do gasto sem critério. A outra "herança" vem do setor externo. O saldo de transações correntes (somatório dos saldos da balança comercial, de serviços e transferências unilaterais) é negativo. Mesmo atraindo fortemente o capital estrangeiro, começa-se a desconfiar se efetivamente o Real tem espaço para continuar se valorizando. Em outras palavras: os estrangeiros já não vêem o Real como moeda que pode oferecer retorno seguro e começam a mudar de posição. Novamente virá a taxa de juros para tentar equilibrar a questão. Juros mais altos são capazes de manter a atratividade no país, mas inibe crescimento mais robusto da economia. Evidentemente que neste ano em particular há a variável eleição, que sempre suscita reflexões sobre eventuais mudanças no modelo econômico adotado no país. Voltando a análise das "heranças". Algumas rubricas do gasto público não têm como ser controladas a curto prazo. Por exemplo: aumento dos salários e do número de servidores públicos não tem volta. Um caminho do sucessor de Lula seria aumentar a arrecadação, contudo a capacidade contributiva da população já está no limite. Para os demais gastos em custeio o espaço para manobra é pequeno e a saída será represar investimentos, isso sem contar a eventual necessidade de gerar superávit primário mais consistente para compensar a provável alta nos juros. Em relação ao setor externo pode haver um pequeno alívio à medida que a cotação do dólar se eleve. O saldo da balança comercial pode crescer e com ele auxiliar na diminuição do déficit em transações correntes. Para isso, além do câmbio, é preciso que o resto do mundo volte a comprar em níveis mais elevados, o que deverá ocorrer somente a partir de 2011. Mesmo assim sem reflexo imediato. Em resumo: no curto prazo o governo Lula administra bem as variáveis macroeconômicas, contudo, no longo prazo, o desafio é enorme. Vamos ver como se dará o debate político em torno destas questões quando as campanhas eleitorais estiverem na rua. Opositores ou situacionistas terão enorme desafios pela frente.
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